Ex-delegado diz que queimou corpos de militantes em usina

Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (o temido Dops), acaba de lançar um livro revelando parte dos crimes da ditadura militar: “Memórias de uma guerra suja”. Neste livro ele faz revelações sobre a bomba colocada na mansão de Roberto Marinho, a pedido do próprio jornalista, e a colaboração da imprensa com os militares. Entre as dezenas de denúncias, ele conta que queimou pelo menos 10 corpos de militantes de esquerda em uma usina de açúcar.
De acordo com Guerra, dez pessoas foram atiradas ao incinerador da usina, de propriedade de empresário Heli Ribeiro, hoje morto. O casal Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, João Batista e Joaquim Pires Cerveira, que foram presos na Argentina, os militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML) Fernando Augusto Santa Cruz e Eduardo Collier Filho, e os líderes do PCB David Capistrano, João Massena Mello, Luiz Ignácio Maranhão Filho e José Roman.
O ex-delegado Claudio Guerra, que chefiou o DOPS do Espírito Santo e participou da rede informações e investigações da repressão, afirmou ter recebido do Estado brasileiro carta branca para “julgar, torturar, matar e desaparecer com o corpo” dos militantes de esquerda. Guerra, que se prepara para virar pastor de igreja, é acusado de tortura, homicídios, formação de quadrilha, tráfico de drogas, roubo de armas e até de chefiar grupos de extermínio, além de responder a pelo menos duas condenações por assassinato.
Leia trecho do livro “Memórias de uma Guerra Suja”:
“Em nome da segurança do Estado brasileiro, os membros da comunidade de informações podiam tudo: perseguir, grampear, investigar, julgar, condenar, interrogar, torturar, matar, desaparecer com o corpo e alijar famílias do paradeiro de seus entes queridos. Não havia um código de ética, nem formal nem informal, que direcionasse nossas condutas. Tudo era permitido.
Essa foi a comunidade de informações em que eu transitei, e fui um eficiente membro, um matador implacável que ajudou a ganhar uma guerra da qual o povo não tomava conhecimento por causa da censura aos meios de comunicação.
Ninguém nunca soube, nem mesmo minha família, o poder que tive nas mãos.
Não tenho orgulho disso”.