Atos de ontem inverteram a iniciativa política. Por Fernando Brito

Manifestantes no Largo São Francisco. Créditos @xuniorl ---- Fernando Brito no site Tijolaço ---- Terminadas os atos que marcaram a leitura da carta pela democracia, algumas impressões ficam nítidas. A primeira delas é, sem dúvida, que foi um momento de reversão das iniciativas políticas, diferente das muitas outras manifestações antibolsonaristas que tivemos, até com mais gente na rua. Até agora, seja com seu “pacote de bondades” eleitoreiras, seja na ameaça de um Sete de Setembro golpista, quem pautava a campanha era Bolsonaro. A natureza política das manifestações de hoje foi diferente das outras mobilizações contra Bolsonaro e isso é fácil de se constatar pelo comportamento da grande mídia e dos agentes econômicos e organizações da sociedade civil, aderindo aos atos de maneira que jamais fizeram nos anteriores. Bolsonaro fez a eles o que seus promotores não fizeram: atrelaram as manifestações à campanha de Lula e, se algo conseguiram com isso, foi mostra que a rejeição ao ex-presidente nas camadas médias da população é menor, muito menor, do que ao atual. Importantíssimo para Lula, num momento em que Bolsonaro, com a chuva de “bondades” algum farelo consegue entre os mais pobres, ainda que o favoritismo do candidato petista siga sendo enorme entre eles. O movimento provocado pela carta democrática, nenhuma dúvida há, mobilizou segmentos importante da classe média e gente que, para eles, é referência, como é o caso dos artistas e intelectuais, formadores de opinião. Não decidem eleição, é certo, mas ajudam a formar círculos concêntricos que, como uma pedra no lado, vão espalhando ondas. São superficiais, mas movimentos muito importante se bem próximo das eleições. São, também, uma “vacina” contra as mobilizações que os bolsonaristas preparam e dão a assinatura do que significam: se os de hoje são pela democracia, os de Sete de Setembro, ainda que iguais ou até maiores, serão contrários. Vamos ver estas demonstrações de massa se multiplicarem nos atos de campanha, pela quebra do imobilismo que, devemos reconhecer – tem marcado uma boa parte do período pré-eleitoral. E nós precisamos, por isso, estar prontos para mais e maiores atos, que sirvam para mostrar que atropelar a democracia não será fácil para os fascistas.