Meia dúzia de ideias ruins não fazem um plano econômico


Guedes é um personagem com meia dúzia de ideias ruins, sem maior elaboração, e joga com essas ideias para dar a impressão que toca a economia, mas o quadro da realidade demonstra o não-projeto, a não-ação, a incapacidade de gerar propostas e ideias factíveis.

Por Andre Motta Araujo

O Ministro da Economia não tem a formação, a experiência, o interesse em construir um plano econômico de Estado, com políticas públicas a serviço da população em geral e não apenas a serviço dos “mercados”, que é a única coisa que ele conhece numa vida sem nenhum registro de interesse público.

Uma pessoa na faixa dos 60 anos que, durante sua vida, teve um interesse mais geral, além da vida privada, que teve um interesse cultural, social, político, mostra necessariamente alguma preocupação que se aflorou em algum artigo, livro, conferência, debate onde essa preocupação ficou registrada.

O atual Ministro da Economia NÃO TEM registro dessa preocupação por toda sua vida. O que se conhece se refere exclusivamente à sua ocupação de banqueiro, voltada unicamente ao enriquecimento pessoal. Como um personagem com essa limitação pode cuidar da economia de um grande e complexo País, com imensos problemas sociais cuja solução depende de um plano econômico de visão MACRO, de Estado e não apenas de apoio a empresários? De uma visão mais geral de mundo combinada com um sentido de solidariedade, de generosidade que move um estadista com liderança?

O caso do Ministro é outro. É um personagem com meia dúzia de ideias ruins, sem maior elaboração e joga com essas ideias para dar a impressão que toca a economia, mas o quadro da realidade demonstra o não-projeto, a não-ação, a incapacidade de gerar propostas e ideias factíveis e de resultado comprovável e não mera suposição, como a de que reduzir encargos na folha por si só cria empregos. Sua base de pensamento não tem evidências, o rito operacional é um conjunto de ideias velhas, ruins, sem reverberação no dia-a-dia, mais ideologia do que planos práticos de políticas reais de resultados.

Quais são essas ideias ruins?

1.DESONERAR A FOLHA DE PAGAMENTOS CRIA EMPREGO: Ideia falsa que gira em torno de ilusão. O que gera emprego é o CRESCIMENTO QUE VEM PELA DEMANDA de produtos e serviços. Não havendo demanda, o empregado não será contratado nem que trabalhe de graça. Nos períodos de maior crescimento da economia brasileira, nos anos 5O a 70, os encargos na folha já eram altos e havia pleno emprego, nunca foi isso que causou desemprego. Uma leitura errada com uma solução errada. O problema do desemprego não é o custo da mão de obra, é a falta de compradores para os produtos da indústria.

2.ABRIR A ECONOMIA TRAZ CRESCIMENTO: Nenhum País, pobre ou rico, abre sua economia de graça, só por ideologia. Os EUA, central das grandes economias ricas, TEM TARIFAS e está criando mais tarifas para proteger seu mercado. Todos os países protegem seu mercado, NINGUÉM ABRE A ECONOMIA SÓ POR ABRIR, como ideia de que isso é bom por si só, como quer Guedes. Os neoliberais de aldeia dizem que abrindo a economia aumenta a competição e isso é bom, mas para quem? Que imensa tolice. Mercado tem valor por existir, quando um dono de padaria vende o ponto, ele está vendendo mercado, é um valor.

Nenhum País dá seu mercado de graça, como os neoliberais burros querem fazer com o mercado de combustíveis no Brasil, “abrir o mercado para aumentar a competição”, quer dizer, a PETROBRAS cede mercado à SHELL porque isso é bom para o Brasil, é de uma estupidez única, mercado não se cede de graça.

A ideia de uma “economia aberta” como algo ideológico é de fanáticos neoliberais que não operam com a realidade real do mundo. As economias têm barreiras, e sempre tiveram, por razões objetivas. E quando se reduzem barreiras, é por negociação com vantagens recíprocas, ninguém abre porque é bonito abrir.

O Brasil cresceu a altíssimas taxas com economia super fechada dos anos 40 a 😯 e deixou de crescer quando Collor abriu a importação de tudo em 1990.

3.O BRASIL ESTÁ QUEBRADO, VAMOS CORTAR GASTOS – Desde os primórdios da ciência econômica sabe-se que só o Estado pode impor e operar políticas ANTI-CÍCLICAS para combater recessão e depressão econômica através de MAIS E NÃO MENOS GASTOS FISCAIS. São os estímulos, que só o Estado pode produzir, que enfrentam crises. Na última grande crise global, a de 2008, foi o Tesouro dos EUA quem salvou a economia privada, através do programa TARP, com DINHEIRO PÚBLICO, acabando aí com o NEOLIBERALISMO DE CHICAGO, causador da crise, seita que fugiu para o Brasil, onde se escondeu no Leblon.

4.CAPITALIZAÇÃO NA PREVIDÊNCIA SOCIAL – Um modelo de resultados mais do que controverso, quebra o princípio da SOLIDARIEDADE, que é do modelo tradicional de repartição, onde os mais novos ajudam a aposentadoria dos mais velhos, os mais abonados ajudam os mais desvalidos e miseráveis, toda a lógica do primeiro sistema de previdência social criado por Bismarck, na Alemanha, em torno de 1875. O sistema de CAPITALIZAÇÃO é egoísta e NÃO DÁ CERTO PARA OS MAIS POBRES, exatamente o grupo social que a Previdência visa proteger. O sistema de CAPITALIZAÇÃO é discutível em países ricos, mas é absolutamente imprestável para países com os níveis de pobreza do Brasil. Como é que um trabalhador que ganha 1.000 Reais vai ter sobra de renda para CAPITALIZAR numa conta financeira? Por que tirar da empresa qualquer obrigação de suportar parte da previdência social de seus colaboradores?

POR QUE ESSA ÂNSIA DE FAVORECER O CAPITAL À CUSTA DO TRABALHO, que parece ser toda a lógica da vida do Ministro Guedes?

5.ABAIXAR OS IMPOSTOS PARA AS EMPRESAS – A velhíssima ideia, desmoralizada já ao tempo de Milton Friedman, de que abaixando os impostos para as empresas e para os ricos, esses com mais dinheiro, vão investir e criar empregos. A ideia é mera questão de fé, PORQUE ISSO NÃO ACONTECE NO MUNDO REAL. O ganho extra, que os ricos e as empresas vão auferir com essa política, irão pra o mercado financeiro, para contas no exterior, para iates e aviões privados, para comprar outras empresas e concentrar ainda mais a renda. Nos EUA, 200 bilionários fizeram um abaixo assinado para o Presidente Trump sugerindo aumento de imposto de renda para os mais ricos porque acham mais justo para a sociedade. A estrutura tributária brasileira já é regressiva e penaliza os mais pobres, dividendos não pagam nenhum imposto de renda, acionistas controladores de bancos receberam em 2018 R$17 bilhões em dividendos sem pagar um centavo de imposto. O Ministro quer melhorar ainda mais a situação para os mais ricos, compensando com aumento da carga fiscal dos mais pobres e classe média, retirando deduções fiscais com saúde e educação. São ideias muito ruins, sob o ângulo moral e de eficiência econômica, fruto de uma péssima visão de mundo, de sociedade, de lógica social e econômica, não há justificativa alguma para ideia tão perniciosa.

6.PRIVATIZAÇÕES – O Ministro propala que privatizações vão promover o crescimento. Não há qualquer liame entre uma coisa e outra. Privatizações significam troca de controle de ativos já existentes, o padrão geral é o novo dono CORTAR A FOLHA, CORTAR MANUTENÇÃO, ENXUGAR DESPESAS para gerar caixa a curto prazo e amortizar seu investimento na compra da empresa. Portanto, privatização provoca desemprego e não emprego. A meta é gerar dividendos, vender parte dos ativos e mesmo se a nova gestão for muito boa não gera crescimento só porque foi privatizada, MAS a gestão pode não ser tão virtuosa e, em vez de progresso, pode provocar ruindades, caso da VALE, LIGHT RIO, ELETROPAULO, TELEMAR, BRASIL TELECOM depois OI.

As estatais foram a locomotiva de compras de equipamentos e obras que puxaram o crescimento entre 1950 e 1990, desenvolveram com isso a indústria de bens de capital ,o Brasil se tornou o maior fabricante de hidrogeradores do mundo por causa das compras da ELETROBRAS E CESP, todo o grande ciclo de crescimento econômico do Brasil, pós Segunda Guerra, veio das estatais na siderurgia, energia elétrica, saneamento, petróleo e gás, petroquímica.

As empresas privadas NÃO têm esse papel e, se forem estrangeiras, tendem a comprar equipamento nos seus países de origem, mesmo que o Brasil produza.

É uma lenda que PRIVATIZAÇÕES impulsionam o crescimento, não há qualquer histórico ou evidência, é mera crença da seita neoliberal tosca, atrasada.

As estatais brasileiras em 2018 produziram R$60 bilhões de lucros para o Estado, ao contrário da lenda, NÃO SÃO UM PESO NEGATIVO.

Esse balaio de PÉSSIMAS IDEIAS ISOLADAS não constituem uma política econômica em lugar nenhum do mundo. O que faz um plano econômico é um CONJUNTO DE POLÍTICAS ARTICULADAS E COORDENADAS, onde entra a política monetária, fiscal, de rendas, de investimentos públicos, de câmbio, com prazos e metas, que NÃO DEPENDAM DE LEIS NOVAS E DO CONGRESSO. É ação, dentro do Poder Executivo, com os instrumentos que o Poder Executivo tem, e sempre teve, no Brasil. É ação de Governo! O Ministério da Economia já tem imensos poderes concentrados, basta fazer, mas precisa saber fazer.

AMA