O autor, Thierry Meyssan, é intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. ----
Há algumas horas o Exército russo bombardeou a parte do Exército ucraniano que está ligada à OTAN. Em 3 horas, o Exército russo destruiu toda a defensa anti-aérea ucraniana e vai continuar a sua operação atacando agora o batalhão Azov e todos os responsáveis nazis que os Estados Unidos e o Reino Unido introduziram no governo ucraniano. ------
Isto deveria ser uma boa noticia para todos mas aqui, em França, está-se a apresentar esta operação como uma invasão contra a Ucrânia e como a próxima chegada do urso russo a Paris. Mas, não se deixem enganar pelo que dizem porque há elementos muito importantes que não se mencionam.
Só se fala dos aspectos que têm a ver com a Ucrânia mas não nos explicam o contexto geral. E esse contexto geral dá a razão à Rússia, como lhes vou explicar.
Em Outubro, Victoria Nuland, a adjunta do Secretário de Estado norte-americano, viajou para a Rússia e, em Moscovo (Moscou-br), ameaçou arrasar a economia russa. E, exigiu a demissão do Presidente Vladimir Putin. Mas. claro, vocês nunca ouviram falar disso. Vejam na Internet. Isto é muito fácil de verificar.
Depois, ela foi à Ucrânia e introduziu Dimitro Yarosh, um agente da OTAN muito conhecido já que foi ele que organizou –em 2007– a grande reunião de Mariupol onde as organizações nazis europeias se aliaram com jiadistas de todas os lados para ir combater a Rússia na Tchechénia. Foi também este Dimitro Yarosh que –em 2014– com as suas milícias do Sector Direito [Pravy Sektor], organizou os acontecimentos da Praça Maidan e a « mudança de regime » na Ucrânia. Depois acabou ferido, desapareceu por uns tempos e agora está de regresso.
Portanto, ela instalou Dimitro Yarosh como conselheiro especial do Comandante- em-Chefe do Exército ucraniano [1], o qual é um homem perfeitamente democrata, um homem normal mas que agora tem atrás de si este personagem [Dimitro Yarosh]. E este personagem integrou o batalhão Azov –que é um grupo verdadeiramente nazi, com insígnias nazis e tudo mais e que está dirigido pelo “Fuhrer branco” [Andrey Biletsky] [2]– no Exército ucraniano.
Esta é uma noticia que deveria ter-nos espantado a todos… mas os média (mídia-br), em França, nunca vos informaram sobre isto.
Assim os russos prepararam a sua resposta.
Em Dezembro enviaram aos Estados Unidos uma proposta de tratado que garantisse a paz. Nesta proposta exigem que os Estados Unidos respeitem o Direito Internacional. Direito Internacional tal como foi elaborado no decorrer do tempo, primeiro pelo governo francês, pelo governo do império dos czares –em 1899, na Conferência da Haia– e posteriormente formulado na Carta das Nações Unidas –em 1945– e pelos países do Terceiro Mundo –em 1955, com os Princípios de Bandung.
Este Tratado é evidentemente inaceitável para os Estados Unidos porque faz 70 anos que eles violam diariamente o Direito Internacional e tratam de o substituir por um conjunto de regras que tem enunciado, indo ao extremo de afirmar que os seus aliados são uma « comunidade internacional ». Bem ... eles não chegam sequer a metade da população mundial mas pretendem dirigir o mundo.
Os russos pedem prioritariamente que a OTAN se retire dos países da Europa Central e Oriental, os quais nunca deveriam ter-se convertido em membros desse bloco se se tivesse respeitado o Acordo da Conferência de Potsdam –em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial– que previa que as forças dos Estados Unidos se podiam instalar exclusivamente a oeste da fronteira Oder-Neisse, a qual separa a Polónia e a Alemanha. Posteriormente, no momento da reunificação alemã, a França insistiu muito em que a OTAN não se estendesse até ao leste e houve inclusivamente um grande debate para saber se se admitiria que as forças da OTAN estivessem na parte leste da Alemanha –a antiga RDA– ou que ficassem unicamente limitadas à parte ocidental da então República Federal da Alemanha.
Finalmente chegou-se a um acordo –que foi assinado pela França– que previa que a antiga Alemanha Oriental se convertesse em parte da OTAN, no quadro da reunificação, mas que não haveria ampliação da OTAN para lá disso.
E isto repetiu-se várias vezes, primeiramente no seio da OSCE –a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, nascida dos acordos de Helsínquia– em que 57 Estados assinaram 2 declarações. Cinquenta e sete Estados! Todos os Estados do continente europeu e outros mais, uma vez que, por exemplo, os Estados Unidos e o Canadá também são membros!
A OSCE reconheceu, na Declaração de Istambul –em 1999– na Declaração de Astana –na 2010–, que, em primeiro lugar, cada Estado pode tornar-se membro da aliança militar da sua preferência –a França, por exemplo, é membro… assinou o Tratado do Atlântico Norte, é aliada dos Estados Unidos.
Mas, em segundo lugar, também se reconheceu que nenhum Estado, nenhum Estado!, pode garantir a sua segurança às custas da segurança dos outros. E, desde este ponto de vista, a adesão à OTAN é ilegal, ilegal!, porque a OTAN não é uma confederação, em que todos são iguais, mas é uma federação sob o comando dos Estados Unidos e do Reino Unido enquanto os outros Estados são vassalos dos Estados Unidos e do Reino Unido.
E a França, infelizmente, reintegrou a OTAN com Nicolas Sarkozy, voltou à OTAN, da qual tinha saído com o General de Gaulle, em 1966. O General de Gaulle tinha expulsado do território francês todas as forças de ocupação dos Estados Unidos… esse foi o término que ele utilizou, « as forças de ocupação dos Estados Unidos ». Não sou eu quem o diz! Mas nós [os franceses] voltamos a colocar-nos numa posição de vassalagem perante os Estados Unidos.
A Rússia pediu a retirada das forças da OTAN de todo o território da Europa Central e de Leste. Mas podem continuar sendo signatários do Tratado do Atlântico Norte. Esse não é o problema.
E é preciso aplicar também na Europa Ocidental o Direito Internacional. O Direito Internacional, por exemplo, proíbe a instalação de armas nucleares em países que não são possuidores desse armamento.
Então, por exemplo, porque é que há armas nucleares dos Estados Unidos na Itália ou nos Países Baixos? É, em absoluto, uma violação do Direito Internacional. E, será preciso por fim a isso.
Há que dar-se conta que os Estados Unidos já não são a primeira potência económica do mundo. É a China.
E também já não é a primeira potência militar do mundo. É a Rússia. Durante a guerra na Síria –guerra que as forças da OTAN perderam –, durante a guerra da Síria, a Rússia pôs à prova todo o tipo de novas armas que não têm comparação com as armas da OTAN. E no passado fim de semana a Rússia mostrou que dispõe de meios que lhe permitem destruir dum ponto de vista nuclear qualquer objectivo em qualquer parte do mundo sem que seja possível impedi-lo porque dispõe –assim o demonstrou– de meios hipersónicos que utilizou a partir de submarinos, de unidades navais de superfície, de aviões bombardeiros e de unidades terrestres móveis. Pode disparar esses meios hipersónicos e destruir o que quiser. É impossível interceptá-los porque se deslocam com demasiada rapidez. De momento não há nenhum meio para os interceptar. Em minutos pode destruir o que quiser e temos que nos perguntar se algum dia vai ter que utilizar esse tipo de armas contra o Pentágono, a Casa Branca ou o Congresso dos Estados Unidos.
Não o digo a título de provocação. O que digo é que, se Rússia chegasse a fazê-lo, os Estados Unidos não teriam tempo de interceptar esses meios, nem sequer teriam tempo de utilizar as suas próprias armas nucleares.
Tomemos as coisas a sério e respeitemos o Direito Internacional. É o que todos queremos. E é no interesse de todos. Portanto, bravo pelo que a Rússia acaba de fazer hoje!
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Thierry Meyssan
------- Tradução: Alva
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Assista: https://youtu.be/aK696fO2IQo