Proposta de entidades palestinas discutida em audiência pública na Câmara dos Deputados, que inclui articulação com os BRICS e Liga Árabe, será levada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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O Brasil pode ser o líder de um projeto de reconstrução da Faixa de Gaza, alvo dos constantes bombardeios das forças militares do Estado de Israel que, desde 7 de outubro do ano passado - data do ataque lançado pelo Hamas contra território israelense -, já matou mais de 34 mil palestinos, incluindo mais de 12 mil crianças.
É o que propõem entidades palestinas e ligadas à causa que participaram de audiência pública na Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados na tarde desta quarta-feira (24) para discutir o genocídio de palestinos pelas forças militares israelenses. E o governo Lula está aberto a conversar, apurou a reportagem da Fórum.
Além de pleitear que o governo brasileiro, junto aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e à Liga Árabe, que lidere o projeto de reconstrução de Gaza, em detrimento dos planos de Israel e Estados Unidos, os representantes dessas organizações querem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receba pessoalmente familiares de vítimas palestinas dos bombardeios de Israel, tal como o mandatário fez com famílias israelenses.
A audiência na Câmara em que foram discutidas tais propostas contou com a participação de parlamentares, representantes do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e Federação Palestina no Brasil (Fepal), entre outras entidades, além de nomes do Itamaraty, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, agências ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e embaixadores, entre eles o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben.
O deputado federal Padre João (PT-SP), que comandou a audiência após abertura feita pelo presidente da comissão, deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), disse que o objetivo do encontro seria traçar planos para conscientizar a sociedade brasileira sobre a gravidade da situação no Oriente Médio.
“A situação humanitária em Gaza já era difícil antes das mais recentes hostilidades praticadas pelo Estado de Israel, agora se agravou exponencialmente conforme relatos do próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres. Diversas nações e entidades internacionais têm denunciado crimes de guerra e o genocídio patrocinado pelas Forças Israelenses na Palestina. Diante dessa tragédia humanitária, é necessário e urgente debater suas implicações. Não apenas com informações verossímeis, mas para conscientizar a sociedade brasileira e o Parlamento brasileiro sobre a defesa dos direitos humanos na região”.
Esteve presente no encontro, ainda, Jamal Naim, decano da faculdade de odontologia da Universidade Falastinm, em Gaza, que exibiu vídeos e imagens da destruição na região e deu um forte testemunho sobre o massacre perpetrado pelas forças israelenses. Em um dos momentos mais tensos do evento, Naim revelou como foi perseguido após se recusar a contribuir com militares de Israel: teve sua casa bombardeada e perdeu sua mãe, três de suas filhas e três netos:
"Isso demonstra as intenções de massacre e de crimes de guerra cometidos pelo Estado israelense, pois os soldados têm torturado àqueles que não aceitam gravar depoimentos pró-Israel, matado milhares de inocentes, usando a fome como arma de guerra, além de bombardear e destruir estruturas que nada tem a ver com o conflito, apenas para promover a destruição local", disse.
Ualid Rabah, presidente da Fepal, afirmou, por sua vez, que Israel pratica há anos um genocídio étnico na Palestina e todos os números demonstram que esta guerra é a mais letal da história, saindo em defesa da fala do presidente Lula em que comparou as ações de israelenses em Gaza com o Holocausto promovido pelos nazistas contra o povo judeu.
"O que se vê é um regime de apartheid na Cisjordânia e um massacre em Gaza que visa a limpeza étnica há décadas contra palestinos”, pontuou Rabah.
Brasil liderando reconstrução de Gaza?
Durante a audiência, os representantes de entidades palestinas e ligadas à causa informaram que vão propor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o Brasil use sua influência no cenário internacional para liderar, juntamente com os BRICS e a Liga Árabe, um projeto de reconstrução da Faixa de Gaza.
O projeto a ser eventualmente liderado pelo Brasil se oporia àquele apresentado pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Em janeiro, ambos afirmaram que pretendem estabelecer um plano de reconstrução de Gaza após o conflito. A desconfiança por parte dos palestinos, entretanto, é generalizada.
Carima Atiyel, da Fepal, reafirmou a necessidade do Brasil liderar o projeto. Segundo ela, Israel teria “más intenções em querer entrar em Gaza pra impor sua opressão, cercear e controlar nosso povo, como fazem os imperialismos historicamente”, tal como atualmente ocorre na Cisjordânia.
"Não queremos projeto de colonização sionista intervindo em nossa sociedade, por isso o Brasil tem relevância no cenário internacional pra conduzir não apenas uma proposta de paz, de reconstrução de Gaza, de soberania palestina e de recuperação do seu território invadido”, sentenciou.
Ao final da audiência, as entidades informaram que pretendem se reunir com o presidente Lula para entregar em mãos uma proposta formalizada pela Comissão de Legislação Participativa, autora da audiência, com a presença do Itamaraty, Liga Árabe e as embaixadas dos países que compõem os BRICS. Com isso, essas organizações esperam que o Brasil aceite a ideia pois gozaria de “neutralidade, peso internacional e trataria o povo palestino com a dignidade necessária, ao contrário daquele os que bate para depois, com as mãos sangrentas, impor domínio sobre o território”.
À reportagem da Fórum, uma fonte ligada ao Itamaraty, ao ser questionada sobre a proposta das entidades para que o Brasil lidere a reconstrução de Gaza, informou que o órgão está "sempre aberto a conversar sobre o futuro da Palestina", ressaltando, contudo, que o foco do governo Lula neste momento é "o presente" - isto é, a situação atual do conflito no Oriente Médio.
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Fonte: Revista Forum, por Ivan Longo
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