por JAIR DE SOUZA/BRASIL247 --------
Agora é claro para todos o grande erro cometido por aqueles que estavam inclinados a acreditar que com a proclamação dos resultados das eleições presidenciais na Venezuela, o conflito entre as forças bolivarianas e os seus adversários de extrema-direita perderia intensidade e vida política em O país vizinho continuaria pelas rotas normais.
No entanto, não adiantou que o Superior Tribunal de Justiça da Venezuela auditasse os dados disponíveis do processo eleitoral antes de reconfirmar a vitória de Nicolás Maduro, que a CNE já tinha anunciado poucas horas após a conclusão da votação.
Acontece que aqueles que já concordaram com a vitória de Maduro continuam a fazê-lo e, por sua vez, aqueles que não a aceitaram continuam a não aceitá-la. Na verdade, nada dependia realmente do que os tão divulgados registos eleitorais pudessem dizer. Com atas ou sem atas, a polêmica continuaria acirrada, porque as causas do questionamento são de outra natureza.
Então, quais são os factores que impulsionam e sustentam todo este alarido em relação aos resultados das eleições venezuelanas? Para encontrar as respostas será necessário levar em conta a antiga e conhecida luta de classes.
Neste caso específico, estamos a falar de lutas sociais num dos seus níveis mais elevados: a luta de classes no contexto do imperialismo. O confronto com os interesses das potências imperialistas dá o tom da disputa que envolve a Venezuela neste momento. Portanto, é impossível abordar a questão venezuelana sem avaliar o papel do imperialismo nela.
Desde a chegada de Hugo Chávez à chefia do Estado da Venezuela em 1999, o país tornou-se um dos alvos preferidos da política agressiva dos Estados Unidos, com vista a isolá-lo do resto da América Latina para, pelo menos no momento oportuno, para lançar aos mesmos o tradicional golpe de aniquilação que costumam aplicar aos seus inimigos com menos recursos de defesa.
Portanto, pouco depois de assumir a presidência do seu país, o governo de Hugo Chávez foi vítima de um violento golpe corporativo-militar que o destituiu do cargo, prendeu-o e lançou um ataque generalizado contra todos e quaisquer apoiantes do governante deposto.
Porém, diante do nível de consciência e organização que as bases populares venezuelanas alcançaram nesses quase dois anos de governo chavista, o povo venezuelano saiu em massa às ruas e pôs fim à onda golpista, devolvendo o governante legítimo à sua posição de direito.
Desde então, a Venezuela nunca teve condições de levar a cabo o seu processo de reconstrução nacional de acordo com as necessidades da sua maioria popular. Toda a fúria do imperialismo e dos seus colaboradores internos foi desencadeada contra a administração chavista, sem lhe dar um momento de trégua. As medidas agressivas mais sórdidas que se possa imaginar foram e estão a ser praticadas com o objectivo de transformar num inferno a vida do povo venezuelano, na expectativa de, ao fazê-lo, forçá-lo a rebelar-se contra os seus próprios governantes.
Esta pressão sufocante tornou-se muito mais intensa após a morte do líder natural do bolivarianismo, Hugo Chávez, e a sua substituição à frente do processo por Nicolás Maduro. A Venezuela começou a sofrer ataques terroristas de grupos criminosos a serviço da extrema direita (causa das conhecidas guarimbas) combinados com ferozes medidas de bloqueio externo com o objetivo de impedir a normalização da vida no país.
Mas, como mesmo assim os colaboracionistas internos não conseguiram derrotar o chavismo por meios institucionais legais, o imperialismo veio em seu socorro e nomeou um dos seus servidores, Juan Guaidó, como presidente paralelo, para se opor àquele que constitucionalmente ocupava o cargo. É preciso lembrar que o governo nazista-bolsonarista do Brasil naquela época também reconheceu o fantoche Juan Guaidó como representante legal da Venezuela e deu aos seus capangas o controle da embaixada venezuelana no Brasil.
Durante este processo de usurpação do poder de representação internacional da Venezuela, o imperialismo confiscou todas as reservas financeiras venezuelanas no estrangeiro e entregou-as aos ladrões do bando Juan Guaidó-María Corina Machado, que foram, oportunamente, desviadas para sustentar a vida dos bandidos. membros e suas comitivas. Além disso, as autoridades dos EUA também confiscaram a principal subsidiária da companhia petrolífera venezuelana (CITGO) e transferiram-na para uso do bando.
Se combinarmos o bloqueio criminoso que visa inviabilizar a vida económica do país atacado com o roubo flagrante dos seus recursos para entregá-los a agentes imperialistas de nacionalidade venezuelana, podemos compreender o quão difícil tem sido para o governo bolivariano enfrentar o sérios problemas de escassez de recursos para satisfazer as necessidades de sua população e, com isso, gerar perspectivas desfavoráveis.
Para obter apoio público internacional para a sua agressão, o imperialismo faz uso extensivo do seu enquadramento mediático e digital. Como resultado, os povos dos países vizinhos são bombardeados 24 horas por dia com notícias falsas e insultos contra o processo revolucionário em curso na Venezuela e os seus líderes. Devido à quase inexistência de divulgação de informações contrárias à do imperialismo, é compreensível que existam parcelas significativas de populações nos países vizinhos da América Latina contaminadas por essas campanhas difamatórias lançadas intensa e constantemente através do rádio, da televisão e das redes sociais digitais. redes sociais (Whatsapp, Twitter, Facebook, Instagram, etc.) que o imperialismo tem à sua disposição.
Perante isto, quem não tiver em conta que os graves problemas da Venezuela se devem, em primeiro lugar, às acções criminosas das forças imperialistas estará, de facto, em conluio com o imperialismo. Mas, se a pessoa em questão se apresenta como membro do campo popular esquerdista, então a coisa deve ser vista como muito mais deplorável. Acontece simplesmente que não se pode fazer parte do campo popular esquerdista e não ver o imperialismo como a maior desgraça que aflige os povos periféricos do capitalismo.
A luta contra o imperialismo é o que caracteriza a luta de classes a nível internacional nesta fase da história em que nos encontramos. Aqueles que estão relutantes em apoiar a resistência legítima que as forças bolivarianas da Venezuela opõem às agressões do imperialismo devem ser vistos como cúmplices do imperialismo. E como tais deveriam ser marcados pela história.