Uma força combinada do Exército ucraniano e de mercenários estrangeiros entraram a 6 de agosto de 2014 na região russa de Kursk, que faz fronteira com o norte da Ucrânia. O grupo estava composto por uns 15.000 combatentes, contava com dezenas de veículos blindados e carros de combate doados pelo Ocidente e foi treinado pelo Reino Unido (RU), com o apoio dos Estados Unidos (EUA) e de países da União Europeia (UE). O seu quartel geral avançado está situado cerca da fronteira da Rússia e as ordens que transmite dão-se em inglês e em espanhol. Nenhum dos objectivos que estava por detrás de esta decisão de Zelensky foram alcançados.
O cálculo militar dos dirigentes ucranianos incluía duas missões. Kiev queria atrasar o avanço russo na frente do Donbass ao tentar forçar as Forças Armadas russas para que retirassem unidades do Leste da Ucrânia e as redirigissem em direcção a Kursk.
O segundo propósito era criar uma zona de segurança dentro da Rússia para afastar o máximo possível a potência de fogo da artilharia, de mísseis e da Força Aérea russas de essa fronteira compartida e evitar possíveis entradas futuras do Exército russo na Ucrânia.
A maquinação política da operação era ainda mais fantasiosa.
Kiev precisava mudar a narrativa nos meios de comunicação ocidentais sobre a sua derrota no Donbass e demonstrar que ainda tem capacidades para lançar ofensivas contra a Rússia. A Ucrânia procurava mostrar ao mundo que a Rússia não deve ser temida e que o seu território pode ser capturado sem consequências e infligir um golpe na imagem da Rússia como potência global. Zelensky leva dois anos tratando de ganhar a guerra do Twitter/X com as suas camisetas verde-oliva, com aparições falseadas mediante o uso de fundos de inteligência artificial e com 150 agências de relações públicas repartidas pelo mundo e coordenadas desde Londres.
Igualmente, a Ucrânia pretendia forjar moedas de troca para intercambiar com a Rússia em futuras negociações de paz e evitar que estas sejam uma ratificação da sua capitulação. Zelensky queria sequestrar a central nuclear da cidade de Kursk, maior que a de Chernobyl, para negociar o seu resgate com Moscovo em condições favoráveis. Em quarto lugar, Kiev buscava humilhar ao presidente Putin e desestabilizar o povo russo para que este se alçasse contra aquele ao ver que a guerra da Ucrânia chegava até as suas casas. Por último, a Ucrânia queria controlar os fluxos de gás em direcção à Europa através da central de Sudzha, em Kursk, e chantagear os governos da Hungria e da Eslováquia principalmente.
Zelensky fracassou já que não alcançou nenhum de estes sete fins.
A força utilizada para esta incursão sofreu a aniquilação de mais de 11.000 efectivos e de dezenas de veículos e de carros de combate e os seus centros de comando e controlo e de abastecimento na sua retaguarda dentro da Ucrânia está a ser dizimados pela Rússia. Os avanços russos na região do Dombass aceleraram-se com consequências desastrosas para a Ucrânia e dos planificadores do Quartel Geral das Forças Armadas russas vislumbram já o momento em que a linha de contacto entre as partes será traçada pelo curso do rio Dnieper. Kursk não está a mudar o panorama da guerra a favor da Ucrânia, muito pelo contrário.
Nem Putin negociará com Zelensky, nem a Ucrânia vai conseguir condições beneficiosas quando se sente com a Rússia para aceitar os termos da sua derrota porque Kiev tenha seguido as instruções do RU e dos EUA, para executar essa operação suicida em Kursk. Definitivamente, é desconcertante que Londres, Washington ou Bruxelas tenham acreditado que os russos se levantariam contra o seu governo porque um exército invasor tivesse ocupado as suas aldeias.
Esta assunção é sintoma de uma ignorância supina sobre a história da Rússia e do espírito de sacrifício do seu povo nos momentos mais críticas ou de uma arrogância fatal.
Zelensky agita-se diplomaticamente porque o único que lhe resta por fazer é provocar a Rússia, como tentou em Kursk, para que Moscovo tenha uma reacção exagerada e escale o conflito e, com isso, arraste aos EUA, à Europa e a todo mundo a uma guerra nuclear global.
Não obstante, a liderança russa é madura e autocontida.
Resta averiguar até onde os EUA estariam dispostos a chegar para continuar com o seu plano de derrotar a Rússia provocando-lhe uma hemorragia sem fechar e sustida no tempo.
O Ocidente é consciente de que a guerra na Ucrânia está perdida e de que a sua ajuda financeira e militar serve para que governantes ucranianos, europeus e norte-americanos sigam enriquecendo-se graças à lavagem de dinheiro em que se converteu o governo de Kiev. As eleições presidenciais nos EUA acercam-se e o Ocidente não sequer sabe como definir para o projecto Ucrânia que é o que quer dizer a palavra vitória, ou, ao menos, uma “paz em termos honoráveis”, e quanto deveria arriscar para alcançá-las.
Hoje é impossível imaginar uma Ucrânia com as fronteiras de 1991 ou como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou da EU, por muito que estas sejam alternativas a uma “capitulação completa” ante a Rússia com as que se especula em Washington. A guerra vai bem para a Rússia, já que continua triturando ao Exército ucraniano, aos mercenários estrangeiros e aos assessores da OTAN sobre o terreno, com mais rapidez que nunca, e se prepara para assistir a uma derrota humilhante do Ocidente.
Sem embargo, o risco de uma escalada descontrolada do enfrentamento, que seria nuclear, segue sendo possível porque em Washington se reconhece que “não sabem” quais são as linhas vermelhas da Rússia, mais além do que os EUA creiam que estas são. Assusta comprovar que nos EUA não se escute o que Putin está dizendo com tanta claridade.
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por
Jorge Cachinero