Enio Verri, diretor-geral de Itaipu, e Sando Alex, ao lado do governador Ratinho Junior. Fotos: reprodução/IG
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Blog do Esmael Morais ------
A palavra-chave da polêmica é difamação. A Itaipu Binacional, um dos maiores símbolos de integração entre Brasil e Paraguai, resolveu declarar guerra na Justiça ao secretário Sandro Alex, homem forte do governador Ratinho Júnior (PSD). O motivo? O secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná chamou a entidade de “usina da corrupção”, em um programa de rádio com transmissão simultânea nas redes sociais, nesta quarta dia 2 de abril.
Com palavras pesadas, Sandro Alex sugeriu que bilhões de reais teriam sido mal utilizados, sem apresentar uma única prova. O estrago foi tanto que a usina decidiu bater à porta da Justiça Federal Criminal em Foz do Iguaçu, apresentando uma queixa-crime robusta, com base nos artigos 139 e 141, inciso III, do Código Penal.
Não foi apenas uma “opinião forte”. Segundo a petição inicial de 15 páginas, o secretário agiu com dolo — ou seja, com intenção deliberada de atingir a honra da instituição. O conteúdo veiculado ao vivo repercutiu nas regiões de Curitiba, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e interior do Paraná, ampliando o dano institucional e diplomático.
A usina aponta que, além de atacar sua imagem, Sandro Alex questionou os projetos sociais e de infraestrutura financiados com recursos binacionais, insinuando que havia “sujeira por trás dos benefícios”. O problema é que parte desses investimentos — como a construção da segunda ponte internacional e a duplicação da BR-277 — são realizados em parceria com a própria secretaria que ele comanda.
“A democracia não protege a mentira. A liberdade não ampara a irresponsabilidade”, afirma a defesa da Itaipu na ação.
A ação da Itaipu é recheada de recados nas entrelinhas. A empresa afirma que, sob nova direção desde 2023, sua prioridade passou a ser o investimento social estruturante, com foco em comunidades vulneráveis, saúde pública e educação.
O “x” da questão pode estar aí: setores que antes orbitavam obras vistosas e contratos milionários — base do modelo anterior de investimentos da usina — teriam se incomodado com a guinada.
A gestão anterior de Itaipu (2019–2022), muito próxima do grupo político de Sandro Alex, priorizava obras de recape, pavimentação e infraestrutura urbana. Já a atual gestão, segundo o documento, desviou do asfalto e mirou no social — e isso teria mexido em estruturas antes intocáveis.
A fala do secretário, portanto, surge como reação política ao novo rumo da empresa. Em vez de denunciar fatos concretos, ele teria instrumentalizado a crítica para fins eleitorais, diz a queixa.
A Justiça Federal de Foz do Iguaçu vai analisar o mérito da ação e, em breve, poderá intimar Sandro Alex a se manifestar. O caso pode culminar em audiência de conciliação ou, se não houver acordo, em julgamento penal, com possibilidade de condenação por difamação qualificada.
No cenário político, o caso expõe um racha interno no grupo de Ratinho Júnior e uma tentativa de desgastar a gestão Lula, já que Itaipu está sob comando de aliados do Planalto.
Parte da base de sustentação de Ratinho Júnior, nos municípios, também vem sendo beneficiada pelas ações da Itaipu. Na última audiência pública, realizada em 25 de março na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), o próprio diretor-geral da usina, Enio Verri, ironizou o fato de que seu partido, o PT, possui apenas três prefeituras entre as mais de 400 atendidas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
A depender dos desdobramentos, Sandro Alex pode virar um símbolo do conflito entre “o velho asfalto” e “o novo social” — e Itaipu, mais uma vez, se transforma em palco de disputas eleitorais e geopolíticas.
A ação escancara o embate entre o grupo de Ratinho Júnior e a nova direção da Itaipu, alinhada ao governo federal.
A Justiça aceitou a denúncia?
Ainda não houve decisão sobre o recebimento da queixa. O caso tramita na Justiça Federal Criminal de Foz do Iguaçu.
A pessoa jurídica pode processar por difamação?
Sim. O STF e o STJ reconhecem que empresas e entidades podem ser vítimas de crimes contra a honra, como difamação.
O caso escancara como palavras podem ser usadas como munição em guerras eleitorais disfarçadas de “opiniões fortes”. Ao chamar Itaipu de “usina da corrupção” sem provas, Sandro Alex abriu uma crise institucional com reflexos jurídicos, políticos e diplomáticos.
A Justiça vai dizer se houve crime. Mas o povo já entendeu: na política, o microfone é uma espada — e quem o usa, deve assumir as consequências.
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