Evento reuniu centenas de ativistas judeus antissionistas do mundo todo.
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Dr. Mustafa Barghouti:
(A Declaração de Viena)
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Pela primeira vez, é realizado em Viena um congresso judaico internacionalmente contrário ao sionismo.
Pela primeira vez, judeus organizam uma conferência com 500 participantes vindos de todas as partes do mundo. Pela primeira vez, os judeus quebram o monopólio sionista da representação judaica e derrubam, assim, a alegação de que Israel é a única e legítima representante dos judeus no mundo.
Pela primeira vez, a legitimidade moral e política da luta palestina se fortalece nos fóruns internacionais, já que agora há apoio vindo de dentro da própria comunidade que o sionismo afirma representar.
Pela primeira vez, o movimento internacional de boicote a Israel passa a ter um apoio judaico internacional, bem como um amparo ético e religioso, com a presença de acadêmicos judeus reconhecidos nos EUA e na Europa, participantes ativos dos movimentos de boicote frequentemente atacados pelos lobbies sionistas.
Pela primeira vez, judeus em uma conferência internacional exigem oficialmente a suspensão da filiação de Israel à ONU e à União Europeia, além do retorno do boicote acadêmico e cultural contra instituições israelenses.
Pela primeira vez, em uma conferência internacional, um judeu sobrevivente do Holocausto declara que “Israel comete atrocidades em nosso nome”, e o congresso define Israel como um regime colonial de apartheid, semelhante ao da África do Sul. Os participantes pedem a formação de uma coalizão judaico-palestina internacional para derrubar esse regime de apartheid e construir um único Estado democrático para todos os seus habitantes.
Pela primeira vez, o congresso exige que Israel e seus líderes sejam responsabilizados perante o Tribunal Penal Internacional, e pede a ampliação do conceito de crimes contra a humanidade, incluindo os assentamentos e o cerco (bloqueio a Gaza).
O congresso divulgou a chamada Declaração de Viena, cujo texto principal afirma:
“Rejeitamos a alegação de que o sionismo representa o judaísmo e condenamos o uso do judaísmo como ferramenta de colonialismo, apartheid e genocídio contra o povo palestino.”
Pela primeira vez, uma conferência judaica internacional adota oficialmente o chamado à libertação da Palestina do rio ao mar, rejeitando a solução de dois Estados, considerada uma cobertura para perpetuar o colonialismo.
O congresso apoia abertamente a resistência palestina em todas as suas formas, considerando-a uma resistência legítima contra o colonialismo racista. Ele também defende a responsabilização dos governos ocidentais cúmplices no genocídio e a justiça histórica pelo direito de retorno dos refugiados palestinos.
O congresso atacou os Estados Unidos por seu apoio incondicional a Israel, e atacou a Alemanha por usar o Holocausto como justificativa para seu apoio político e militar a Israel. Também criticou a França e a Áustria por reprimirem protestos pró-Palestina sob o pretexto de combater o antissemitismo.
No comunicado final, lê-se:
“Vergonha — toda a vergonha — para os governos ocidentais que justificam o genocídio e reprimem a solidariedade com as vítimas palestinas.”
O congresso afirma que ser contra o sionismo não é ser antissemita, mas que, ao contrário, o sionismo ameaça a própria existência moral do judaísmo.
Pela primeira vez, em uma posição sem precedentes, Stephen Kapos, sobrevivente do Holocausto, declara:
“Quem viveu o inferno do nazismo não pode permanecer em silêncio diante do que Israel está fazendo hoje em Gaza.”
E Dalia Sarig, uma das principais organizadoras do congresso, disse:
“Somos judeus contra o sionismo e rejeitamos que crimes sejam cometidos em nosso nome. Estamos ao lado dos palestinos como parte do nosso compromisso com a justiça.”
O historiador israelense Ilan Pappé, participante do congresso, afirmou:
“O que Israel está fazendo não é apenas ocupação — é colonialismo de substituição, apartheid e crimes de limpeza étnica, sem margem para dúvidas.”
Não foi por acaso que esse congresso foi realizado em Viena.
Alguém comentou com sarcasmo:
“Aqui nasceu Herzl (pai do sionismo), e na sala ao lado, sua ideia morreu.”
E não foi por acaso que, nos saguões e corredores do congresso, os organizadores colocaram ramos de oliveira, sem bandeiras — nem da Palestina, nem de Israel, nem de nenhum outro país.
Um visitante da Europa Oriental perguntou:
“Estamos em uma conferência política ou em uma feira de azeite palestino?”
Um jornalista respondeu:
“Aqui, o ramo de oliveira é mais verdadeiro do que todas as bandeiras da ONU.”
Durante os debates, um rabino haredi (ultraortodoxo), solidário aos palestinos, interveio com um árabe elegante:
“Vocês, povo de Gaza, são mais corajosos que os filhos de Israel no tempo do Faraó.”
No intervalo, uma judia austríaca idosa, de 91 anos, sobrevivente do holocausto nazista, cantou com alguns presentes a canção ‘Mawtini’ (Meu País) em árabe arranhado, e disse:
“Eu costumava cantá-la nos tempos da Naksa (a derrota árabe de 1967), e nunca imaginei que um dia a cantaria contra Tel Aviv.”