Estudo revela que posicionamento dos eleitores é por tributação mais progressiva. Para pesquisadora, discussão antecipa eleição de 2026.
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Repórter Brasília (DF), THALYS ALCÂNTARA - Intercept Brasil
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O eleitor brasileiro se sente excessivamente taxado, mas, na hora de definir quem deve pagar mais, a opinião predominante é que os mais pobres devem ter isenção e os mais ricos devem arcar com uma fatia maior de imposto de renda.
Pesquisas nos últimos anos já mostraram o apoio do eleitor brasileiro a uma maior taxação dos mais ricos, mas um levantamento recente apresentado nas últimas semanas pelo Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo, USP, lança um olhar mais detalhado para esse apoio.
O “Estudo sobre as preferências dos eleitores em relação à tributação no Brasil”, dos pesquisadores Marta Arretche e Eduardo Lazzari, entrevistou 2.542 eleitores, oferecendo opções objetivas de faixa de renda e alíquota tributária. O objetivo é ter uma clareza da opinião dos brasileiros, tendo em vista que, em pesquisas anteriores, havia uma confusão sobre quem são os mais ricos.
“Parte da confusão é que o eleitor não sabe dizer se ele é rico ou se é pobre. Essa pergunta supõe que você já deve ter visto gráficos sobre a distribuição de renda no Brasil. Eu já cansei de apresentar esse gráfico e, de modo geral, as pessoas ficam chocadas. Mesmo as pessoas bem informadas não sabem o quão pouco a maioria das pessoas no Brasil ganha”, explica ao Intercept Brasil a professora do departamento de Ciência Política da USP, Marta Arretche.
E qual a conclusão do estudo mais recente? O eleitor é a favor da isenção fiscal para pessoas de baixa renda; os brasileiros, em sua maioria, apoiam um sistema tributário progressivo (com taxas mais altas para os mais ricos), mas as alíquotas ideais a serem pagas pelos mais ricos se estabilizam em níveis relativamente baixos.
“O brasileiro apoia a isenção dos mais pobres, seguramente até uma faixa de renda de R$ 4 mil. De R$ 4 mil a R$ 6 mil fica um pouco confuso, mas já se aceitaria algum nível de tributação. E o brasileiro apoia alíquotas mais altas para quem ganha mais, porém com taxas baixas. O que isso quer dizer? Para quem ganha R$ 15 mil por mês, o apoio está em torno de uma taxação efetiva de 15%”, detalha Arretche.
A pesquisa foi realizada em abril de 2024, presencialmente e com tablets. Na ocasião, ainda não havia sido divulgada a proposta do governo federal de uma isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e uma tributação com taxa efetiva de 10% para quem ganha renda mensal de R$ 50 mil. No entanto, para a pesquisadora, os resultados indicam que a proposta seria apoiada pela maioria do eleitorado.
Embora exista este apoio à tributação mais progressiva por parte do eleitorado brasileiro, os pesquisadores se depararam com um grande desconhecimento sobre impostos. Os entrevistados também passaram por um teste de conhecimentos sobre tributação.
“O nível de informação é baixíssimo. Para você ter ideia, a gente fez a pesquisa no meio do debate sobre a reforma tributária da renda, e ninguém sabia dizer direito”, lembra a pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole.