TRUMP, KENNEDY E BOLSONARO: O NEGACIONISMO COMO MAIOR AMEAÇA À SAÚDE MUNDIAL

Tico & Teco -------------------- Neste 22 de setembro, o ditador Donald Trump (porque ditadores também podem ter sido eleitos) apareceu diante das câmeras para fazer o que chamou de "anúncio histórico sobre o autismo". Estava ao lado do secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., um fascista abilolado (odiado pelo próprio clã) que se notabilizou por praticar um negacionismo radical contra a ciência médica. "Se você estiver grávida, não tome Tylenol e não dê ao bebê depois que ele nascer", determinou Trump. Em seguida, afirmou que os grupos de pessoas que não tomam vacina não têm autismo. Tudo isso sem provas científicas. "Eles injetam tanta substância nesses lindos bebês que é uma vergonha", afirmou Trump, como se tivesse sido importado ontem do Século 14. Este é o tipo de pensamento retrógrado da extrema-direita, presente corrosivamente também no Brasil. Pela intervenção destrutiva de Jair Bolsonaro, tivemos pelo menos 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas. Nos Estados Desunidos, Kennedy não é somente um imbecil, mas também um elemento obstinado por destruir o sistema global de profilaxia e eliminar os protocolos terapêuticos que, comprovadamente, salvam e prolongam vidas. Várias associações médicas e científicas dos EUA pediram a demissão ou renúncia de Kennedy. Isso porque ele tem uma compulsão mórbida por dizer asneiras danosas e letais à humanidade. Por exemplo: Ele sustenta que o HIV não é a única causa da AIDS. Está errado. É! Afirma que são os medicamentos antidepressivos que causam tiroteios e massacres com armas de fogo. Está errado. Não causam. Nos Estados Unidos, é a cultura armamentista, de viés fascista, que inspira esses matadores de ocasião. Diz que a vacina contra o sarampo é altamente perigosa e que causa estranhos inchaços cerebrais. Está errado! Não causa. E muita gente teria morrido, mundo afora, se não tivesse tomado o imunizante. Afirma que as vacinas contra a Covid-19 são as mais mortais já produzidas na história da humanidade. Está errado. Elas, na verdade, raramente provocam efeitos colaterais graves. E salvaram dezenas de milhões de vidas. Costuma afirmar que as vacinas, em geral, não são testadas quanto à segurança. Está errado. Elas são, sim, e muito. Afirma categoridamente que as vacinas, em geral, transformam as crianças em retardados e que são fundamentais para produzir o autismo em crianças. Está erradíssimo. E é contestado pelas maiores autoridades do mundo nesta área do conhecimento. Trump e Kennedy pinçaram porcamente trechos de estudos científicos para embasar, muito mal, suas teses conspiratórias. Utilizaram, por exemplo, o estudos de Ann Bauer, da Universidade de Massachusetts-Lowell, epidemiologista que estuda a relação entre Tylenol e autismo. No mês passado, ela e seus colegas publicaram uma análise compilada de 46 estudos anteriores sobre Tylenol, autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Muitos não encontraram nenhuma ligação entre o medicamento e as condições anômalas, enquanto alguns sugeriram que o Tylenol poderia ocasionalmente exacerbar outras causas potenciais do autismo, como a genética. Bauer e sua equipe sugeriram um uso mais criterioso do medicamento até que a ciência possa dirimir as dúvidas sobre o assunto. Segundo ela, no entanto, se ficar provado que o Tylenol pré-natal tem alguma relação indireta com esse tipo de alteração no neurodesenvolvimento, isso ajudaria a explicar apenas uma pequeníssima fração dos casos. Além disso, segundo ela, as pesquisas ainda não examinaram profundamente os riscos do Tylenol em crianças pequenas, e muitos estudos rigorosos refutam totalmente qualquer ligação entre vacinas e autismo. Bauer diz que ficou enojada com as declarações da dupla Trump e Kennedy. Ela acredita que essas declarações terão consequências desastrosas para a saúde pública. Certamente, vão assustar os pais, gerar boicotes às campanhas de vacinação e ressuscitar doenças já erradicadas. No caso, o Tylenol é o único analgésico seguro para uso durante a gravidez. Helen Tager-Flusberg, diretora do Centro de Excelência em Pesquisa do Autismo da Universidade de Boston, também considerou os comentários de Trump altamente nocivos à saúde pública. Segundo ela, estados febris persistentes podem prejudicar a mãe e o feto em desenvolvimento. E acrescentou que febres não controladas estão mais fortemente associadas ao autismo do que o Tylenol. “Kennedy torna nosso trabalho mais difícil”, advertiu Peter Hotez, pesquisador de vacinas e autor de um livro sobre sua filha autista, “Vaccines Did Not Cause Rachel's Autism” (As vacinas não causaram o autismo de Rachel). Ele disse que a obra surgiu de conversas com o próprio Kennedy, em 2017, quando compartilhou estudos que identificaram mais de 100 genes ligados ao autismo. Na ocasião, mostrou também pesquisas sobre a complexa interação entre genética, processos biológicos e outros fatores que afetam fetos e crianças durante o desenvolvimento. “Sentei-me com ele e expliquei o que a ciência diz, mas ele não estava disposto ou era incapaz de refletir profundamente sobre o assunto”, pronunciou-se Hotez. “Ele é extremamente negligente". Nos últimos meses, o governo Trump demitiu centenas de cientistas de carreira do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e da Food and Drug Administration (FDA). Além disso, cortou milhões de dólares em verbas para pesquisa, inclusive para projetos que estudam o autismo. No início deste mês, o CDC firmou um contrato estranho com o Instituto Politécnico Rensselaer para buscar evidências de que crianças vacinadas tinham maior probabilidade de desenvolver o autismo. Ao contrário do padrão, o CDC não abriu um edital com antecedência. Ficou claro que o objetivo do governo fascista era selecionar apenas aqueles estudos que possam corroborar suas teses, descartando evidências conflitantes. Diante deste quadro, precisamos resistir e esclarecer. Um estudo do Imperial College London estima que as vacinas contra a Covid-19 já pouparam pelo menos 20 milhões de vidas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina contra o sarampo salvou mais crianças do que qualquer outro imunizante nos últimos 50 anos. Estima-se que mais de 101 milhões de pessoas estejam vivas, hoje, por causa da substância profilática. Outras 54 milhões de vidas foram salvas pelas demais vacinas, como aquelas contra a difteria, o tétano e a tuberculose. Fica o recado. É preciso lutar, todos os dias, para que, no Brasil, essa turba de ignorantes corruptos assassinos se mantenha longe do poder. Em 2026, é preciso retirar esses pulhas também da Câmara e do Senado. -------------------- por Walter Sferra