Lula bota o bloco na rua

Todos os caminhos da esquerda e da centro-esquerda levam neste sábado a um centro de eventos ao lado da Marginal do Rio Tietê, na Vila Guilherme, bairro de classe média da Zona Norte de São Paulo. Logo mais, às 10h, começa no Expo Center Norte o maior evento, até agora, da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. O evento leva o nome da chapa que reúne Lula e o neossocialista Geraldo Alckmin, "Vamos Juntos Pelo Brasil". Além deles, o palanque estará abarrotado de políticos dos sete partidos que compõem a coligação encabeçada por Lula: PT, PSB (de Alckmin), PCdoB, Psol, PV, Rede e Solidariedade, além de lideranças de movimentos sociais e sindicais como MST, MTST, CUT e UNE. O repórter Ricardo Galhardo, que tem mais de 20 anos de experiência na cobertura do PT, amplo acesso aos bastidores do partido e, desde março, colabora com o Intercept, é quem apurou as informações. É dele, por exemplo, a revelação de que detalhes sigilosos do roteiro de Lula no Paraná foram parar em grupos de WhatsApp bolsonaristas. A cúpula petista também enviou convites a políticos coroados do MDB, como Renan Calheiros, cuja presença é dada como provável, e do PSD, incluindo o senador baiano Otto Alencar e o presidente da sigla, Gilberto Kassab (que, há poucos dias, sinalizou apoio a Ciro Gomes, mas mantém bom trânsito no PT). Os dois são partidos da centro-direita que já foram aliados e que Lula gostaria de ter novamente a seu lado na busca por um terceiro mandato presidencial. A necessidade de "furar a bolha" da esquerda e de acenar a outras correntes políticas para fazer frente a Bolsonaro também é uma demanda de quem já embarcou na canoa lulista. A ideia do evento é exatamente essa, relata Galhardo: apresentar o rol de partidos unidos em torno de Lula e Alckmin como uma frente ampla em defesa da democracia e contra Bolsonaro. Para isso, além de rostos conhecidos dos partidos da frente, vídeos gravados por apoiadores que não puderam ir a São Paulo ou vivem no exterior serão exibidos no Expo Center Norte. O novo marqueteiro da pré-campanha, Sidônio Pereira, é quem cuidou da organização do evento que – espera-se no PT – irá atrair 4 mil pessoas. Uma preocupação em exibir diversidade marcou a preparação do encontro: negros, mulheres, indígenas e pessoas LGBTQIA+ terão assentos de destaque. Galhardo apurou que, pela programação, apenas Lula e Alckmin (que, diagnosticado com covid-19, falará de casa em transmissão por vídeo) irão discursar. Mas, naturalmente, mudanças de última hora não serão uma surpresa. O discurso do ex-presidente vem sendo tratado com cuidado. Já na segunda passada, 2 de maio, Lula avisou a assessores que desejava usar o evento para fazer o que ele chamou de um "pronunciamento à nação". Seu discurso foi preparado ao longo da semana em conjunto com o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Luiz Dulci. Aconselhado por amigos e auxiliares próximos, o ex-presidente deverá seguir o roteiro, mas – como é de seu estilo como orador – também haverá espaço para improvisos. Não deve haver novidades quanto aos temas: a situação econômica dos brasileiros mais pobres, a inflação, a defesa da democracia e da soberania brasileiras e a necessidade de reconstruir o país após os pavorosos anos do governo Bolsonaro. A diferença, segundo me disse Galhardo, estará no tom da fala, mais solene. Para amplificar o evento com força nas redes sociais, palco privilegiado da disputa política nos dias atuais e campo em que o PT e a esquerda em geral ainda perdem de goleada para a extrema direita, a pré-campanha enviou mensagens a partidários, apoiadores e simpatizantes. A ideia é usar a #VamosJuntosPeloBrasil para "espalhaaaarrr bemmmm", nos termos da mensagem de zap, o evento em São Paulo pelas redes. A pré-campanha também pediu que fotos no evento – ou sobre ele – sejam enviadas para serem distribuídas posteriormente nas redes de Lula. Uma reportagem escrita por Galhardo que publicamos na quarta trouxe a público o diagnóstico atual do dilema das redes da pré-campanha, a partir de um levantamento feito pela consultoria Bites. “Não existe uma sincronização entre as redes de Lula com o ecossistema de informações dele. É como se houvesse três grupos conversando sobre o mesmo assunto numa praça, cada um em um canto, sem saber o que o outro está falando”, comparou Manoel Fernandes, sócio da Bites. Fernandes defendeu que Guilherme Boulos, que fez bela votação para prefeito de São Paulo em 2020 graças, em parte, a um eficiente e inovador trabalho nas redes sociais, seja ungido o chefe da comunicação da pré-campanha de Lula. “[Eu] Criaria um gabinete formado por Boulos, Manuela, Felipe Neto e Anitta, dando total autonomia a eles”, ele sugeriu a Galhardo. A boa notícia para a campanha (e a democracia brasileira) é que integrantes da bem-sucedida campanha virtual de Boulos começam a trabalhar para Lula e Alckmin nos próximos dias. --------------- Rafael Moro Martins --- Editor Contribuinte Sênior ---- The Intercept Brasil