Exército mentiu sobre equipamento espião

por Leandro Demori ------ O Comando de Defesa Cibernética do Exército comprou em agosto desse ano uma ferramenta que arranca informações de telefones celulares. Um computador para quebrar o sigilo telefônico/telemático de pessoas, o que requer autorização judicial. O caso chamou muita atenção. Por que o Exército precisa de uma ferramenta policial? Os documentos de contratação do equipamento, porém, não explicavam em detalhes os motivos da compra, que rolou sem licitação no apagar das luzes de 2021. Ela foi assinada pelo então comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual ministro da Defesa, um célebre negacionista das urnas e do processo eleitoral, como já esmiucei aqui. 📲 O QUE É o equipamento: chama-se “Cellebrite UFED”, tem 41 funções que envolvem a extração de dados de aparelhos, incluindo o acesso a smartphones bloqueados e dados armazenados em redes sociais. Permite acessar imagens e localização, mesmo apagadas. Capaz de recuperar imagens deletadas, localizações, dados da nuvem, realizar reconhecimento facial automático, analisar mensagens e e-mails, inclusive os não lidos. Custo: R$ 528 mil. ------- Papo furado ----- A justificativa para a aquisição do dispositivo, segundo o Exército, é o “histórico de demandas apresentadas ao Comando de Defesa Cibernética nos últimos três anos", diz um estudo técnico do dia 14 de junho de 2021. Agora, um documento interno do Exército enviado a mim por uma fonte anônima prova que o Comando de Defesa Cibernética não tem ideia do “histórico de demanda” que usou como justificativa pública para a compra. Veja abaixo 🕵️‍♀️
Na circular acima, o próprio Chefe de Gabinete do Comando de Defesa Cibernética pede informações que corroborem a desculpa dada publicamente. Ou seja: depois da dar a desculpa, os militares estão correndo para tentar encontrar números que a justifiquem. Endereçada aos sete chefes ou sub-chefes dos Comandos Militares do país, a circular pede que eles informem quantos IPMs (Inquérito Policial Militar) cada Comando realizou nos últimos cinco anos que, “de alguma forma, tenham relação com dispositivos móveis”. Está claro: o próprio Comando de Defesa Cibernética, que autorizou a compra do dispositivo sem licitação, não sabe quantas vezes um dispositivo como o Cellebrite UFED teria sido usado nos últimos cinco anos. Como pode argumentar que a compra se deu pelo “histórico de demandas apresentadas ao Comando de Defesa Cibernética nos últimos três anos" quando não sabe o histórico? ------ O golpe das urnas--------- Diz a Folha: “O Comando de Defesa Cibernética está a cargo do general Heber Garcia Portella, que também é o representante militar na comissão de transparência das eleições, organizado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ele é um dos que fazem coro aos ataques ao sistema eleitoral e à urna eletrônica. O Comando trabalha na proteção, exploração e prevenção de ataques cibernéticos. "Dentre as atividades de proteção, a forense computacional é uma tarefa que permite a coleta e exame de evidências digitais em redes e sistemas de informação de interesses do Exército brasileiro", descreve um dos documentos de contratação.” Já que não pode se explicar pelo histórico de uso, resta saber quais são os interesses dos militares no sistema de espionagem. O histórico dos generais envolvidos nessa operação, no entanto, nós conhecemos. São um péssimo sinal. O procurador Lucas Furtado, do TCU, está em cima. Vamos ver no que isso vai dar.