A Copa do Catar e a decepção geral

por Arcírio Gouvêa Neto ------ Eu já cobri três Copas do Mundo e duas Olimpíadas e lembro-me do entusiasmo que me envolvia nas semanas e dias que antecediam os eventos. A entrega das credenciais, o convívio com os companheiros daqui e dos outros países. A diversidade cultural na Sala de Imprensa, o contato com os jogadores e, principalmente, o público. A alegria, o frenesi, o frisson antes dos jogos, na chegada dos torcedores aos estádios, e a convivência amiga e camarada entre eles. Hoje, nada mais me entusiasma e nem vou torcer pela seleção. Um bando de jogadores sem a menor identificação com nosso país e nossa cultura. Completamente dominados por seitas evangélicas que os obrigam a fazer gestos de agradecimento aos céus pelos gols marcados e a falar sempre em deus nas entrevistas, como se deus pudesse ter preferência especial por um jogador ou uma equipe. Agem assim na tentativa de angariar mais ovelhas para o rebanho. Tenho várias camisas da seleção, presenteadas por tantos craques amigos, mas não usarei nenhuma delas. Parece que elas pesam, que não nos representam mais, que mudaram de país e falam um idioma que nos é incompreensível. Assim é a vida, assim são os tempos. Cabe a nós nos adaptarmos a eles.