A FICHA CORRIDA DO DIRETOR GERAL DA PRF

por Allan de Abreu - Revista Piauí ------ Nascido no interior do Paraná mas criado em Santa Catarina, Vasques, de 47 anos, segundo dos quatro filhos homens de um motorista e uma dona de casa, é dono de uma biografia profissional pouco recomendável para um agente da lei. Em 1997, com apenas dois anos de carreira na PRF, Vasques e outros quinze policiais rodoviários foram acusados de pedir propina para permitir que uma empresa de guincho atuasse nas rodovias federais da região de Joinville, em Santa Catarina. Quem não se submetia à chantagem ilegal era impedido de trabalhar na região. Segundo consta no inquérito, Vasques ameaçou matar um deles “com um tiro na testa”, pois “nada tinha a perder”. Ao investigar o caso, a Polícia Federal descobriu depósitos suspeitos nas contas bancárias dos policiais, incluindo Vasques. A investigação, porém, se arrastou por oito anos, o Ministério Público Federal só denunciou os policiais em 2009 e, dois anos depois, o Tribunal Regional Federal (TRF) determinou que o crime estava prescrito. Em 2000, Vasques espancou o frentista de um posto de combustível no interior de Goiás com socos no abdome e nas costas, depois que o funcionário se recusou a lavar um dos cinco veículos da PRF no posto. A ação criminal por lesão corporal e abuso de autoridade também acabou prescrita. A vítima ganhou o direito a uma indenização de 71 mil reais do governo federal e, desde 2017, a Advocacia-Geral da União cobra de Vasques o ressarcimento do valor. O policial já foi condenado em primeira instância, mas recorreu ao TRF. O caso fez com que a corregedoria da PRF e o Ministério da Justiça pedissem a expulsão de Vasques da corporação. Mas a investigação demorou para ser concluída e, mais uma vez, a punição prescreveu. É esse o policial que comanda a PRF e que, ao longo de sua carreira na corporação, respondeu a oito sindicâncias internas. Quem quiser saber detalhes de cada uma delas só terá acesso aos dados no ano de 2121, pois o governo federal, para proteger o policial, decretou sigilo de cem anos sobre os processos. A decisão do governo foi tomada quando o portal Metrópoles, com base na Lei de Acesso à Informação, pediu para conhecer o conteúdo das sindicâncias. Enquanto enfrentava acusações e condenações, Vasques sempre esteve atento à política, embora não à ideologia. Licenciou-se da corporação entre 2007 e 2009 para ser secretário de Transportes, de Administração, de Segurança e Defesa Social da Prefeitura de São José, na Região Metropolitana de Florianópolis. Já foi filiado ao pl e foi próximo da petista Ideli Salvatti, ex-ministra-chefe das Relações Institucionais, a quem ofereceu mimos como voar no helicóptero da PRF para participar de compromissos oficiais, segundo revelou o jornal Correio Braziliense em 2013. Um ano depois, com a ajuda de Salvatti, Vasques conseguiu levar a Universidade Corporativa da Polícia Rodoviária Federal (UniPRF) para Florianópolis. A academia foi instalada no campus de uma antiga universidade, alugado por 295 mil mensais. Em 2019, guiado pela mudança de poder, pediu para assumir o comando da PRF no Rio de Janeiro, onde aproveitou para estreitar laços com o bolsonarismo. Por causa do seu passado na corporação, a nomeação teve resistência da Casa Civil, responsável por analisar o currículo de servidores em cargos de direção, e só foi efetivada em abril daquele ano. Empossado, aproximou–se do então governador Wilson Witzel, hoje desafeto da família Bolsonaro, do então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, hoje no ostracismo político, e de Flávio Bolsonaro, a quem oferecia segurança, prestada por uma equipe de policiais rodoviários, sempre que o parlamentar estava no Rio. Em pouco tempo, caiu nas graças do clã Bolsonaro e foi recompensado com a direção-geral da PRF, por indicação de Flávio.”