A vida honrada de um raro militar incorruptível

Em 1935 serviu em Campo Grande como comandante do 18º BC ... quando foi convidado para integrar a Comissão de Estudos para a Indústria Brasileira e Compra de Armamentos, em Bruxelas e Copenhague ... permanecendo nesta última cidade até 1937, tomou conhecimento de que alguns colegas de farda mais jovens (entre os quais o então capitão Humberto Castelo Branco) haviam-se matriculado na Escola Superior de Guerra, em Paris ... fez então um requerimento especial e conseguiu matricular-se na referida escola. No próprio dia do suicídio de Vargas, o vice-presidente João Café Filho tomou posse na presidência da República. Conhecido por suas posições de intolerância a qualquer indisciplina militar, Lott foi imediatamente escolhido para ocupar o Ministério da Guerra. Transcorridas as eleições no dia 3 de outubro de 1955, Kubitschek obteve 3.077.411 votos (36% de total), Juarez Távora, 2.610.462 (30%), Ademar de Barros, 2.222.725 (26%) ... Para Vice-presidente, João Goulart recebeu cerca de 3.600.000 votos ... Na tentativa de impedir a posse dos candidatos eleitos, a UDN alegava que as eleições haviam sido fraudulentas e contestava a validade dos votos dados pelos comunistas aos candidatos vitoriosos. # Nos anos 50 os generais participavam ativamente, ostensivamente, junto à classe política, das ações de governo. As eleições presidenciais e estaduais se faziam a cada 5 anos, tendo os candidatos a Vice votos em separado dos titulares das chapas. Jango, por exemplo, teve mais votos do que todos acima, o que indica que poderia ter sido o indicado para a Presidência; e novamente em 1960. Lott, à sua maneira e na posição de ministro-chefe militar, Jango, e Kubitschek, como políticos de carreira, tentavam dar forma e conteúdo ao Estado Nacional, fragilizado por entraves burocráticos e diferenças regionais. A crise da posse de Kubitschek em 31 de janeiro poderia ter sido evitada com a simples antecipação da posse em 1 ou 2 meses. Mas Café Filho, em seguida Carlos Luz, insistiam em ficar no cargo até o fim, o que sugere que tinham intenções golpistas. Os udenistas eram “neuróticos”, criando obstruções e acusações de toda sorte. O Jornal Tribuna da Imprensa era influente na Capital: Leôncio Basbaum faz lembrar que o Palácio do Catete, e os políticos do governo, ficavam sob intensa pressão moral dos moradores ciumentos dos bairros de classe média da Capital... [Nov 1955] Finalmente, à uma hora da madrugada do dia 11, Lott telefonou para o general Denis e comunicou-lhe que estava disposto a agir. Juntando-se ao grupo que se encontrava na casa de Denis, seguiu para o Ministério da Guerra, onde foi centralizado o comando das operações militares. Às quatro horas da manhã [o Pres. Interino] Carlos Luz tentou comunicar-se com Lott, mas este recusou-se a atendê-lo. Após sua deflagração, o movimento ganhou inúmeras adesões... Paulatinamente, todas as unidades do Exército foram-se pronunciando a favor da decisão do ministro da Guerra. Lideradas pelos generais Floriano de Lima Brayner e Emílio Maurell Filho, as tropas de Lott chegaram ao palácio presidencial ainda a tempo de prender os generais Fiúza de Castro e Alcides Etchegoyen, levados em seguida para o Ministério da Guerra. Devido à suspeita de envolvimento de Café Filho nas articulações contra a posse de Juscelino e Goulart, a perspectiva de seu retorno à presidência era fonte de preocupações para o novo governo. Quando o documento de Café Filho chegou à Câmara já era sabido que Lott desejava que o Congresso votasse o impedimento do presidente licenciado. ... Café Filho deixou a clínica onde estava internado. Quando, porém, chegou à sua residência em Copacabana, encontrou o prédio cercado por poderoso aparato militar, que incluía até veículos blindados. O presidente licenciado obteve permissão para entrar no edifício, mas seus acompanhantes tiveram que ficar do lado de fora. Ao mesmo tempo, por ordem de Lott, o palácio do Catete havia sido cercado por tanques e tropas, e todas as unidades do Exército sediadas no Rio haviam sido colocadas em estado de alerta... Às duas horas da manhã do dia 21 de novembro foi iniciada a votação do afastamento de Café. Na Câmara a proposta foi aprovada por 179 votos contra 94 e no Senado por 35 contra 16 votos. Nereu Ramos foi, então, confirmado como presidente legítimo até a posse de Juscelino, que se daria a 31 de janeiro de 1956. Empossados Juscelino e Goulart, Lott foi mantido no Ministério da Guerra... Em agosto de 1958, o secretário de Estado norte-americano John Foster Dulles visitou o Brasil. Diante de suas pressões no sentido de que se alterasse o estatuto da Petrobras, Lott pronunciou uma frase que se tornaria célebre: “A Petrobras é intocável.” Jânio Quadros tomou posse no dia 31 de janeiro de 1961, mas renunciou a seu mandato na presidência da República em 25 de agosto do mesmo ano. Logo após a renúncia, os ministros militares — marechal Odílio Denis, almirante Sílvio Heck e brigadeiro Gabriel Grün Moss — declararam a inconveniência de que o vice-presidente João Goulart, que se encontrava no exterior, assumisse a presidência. No dia seguinte Lott divulgou um manifesto “às forças vivas da nação, às forças da produção e do pensamento, aos estudantes e aos intelectuais, aos operários e ao povo em geral”, conclamando-os a tomar posição em defesa da Constituição. Em função deste manifesto, foi imediatamente preso e conduzido à fortaleza de Laje. # Por 3 dias preso na Masmorra da Lage, com 67 anos, depois de ter sido candidato Presidencial em 1960 pelo PTB, tendo João Goulart como Vice. Lott não tinha nenhuma tradição junto ao PTB, e se considerava "anti-comunista". Depois de Ministro por tantos anos, Lott teria percebido que Jango, Jusça& PTB eram os verdadeiros moderadores na vida política do Brasil. No dia 1º de abril de 1964 o presidente João Goulart foi derrubado por um movimento político-militar. Na ocasião, Lott declarou numa nota a seus colegas de armas que era “completamente antidemocrático e contrário aos interesses nacionais procurar depor um presidente da República mediante uma insurreição”.