Trabalho escravo em vinícolas gaúchas

foto Adobe Stock --- Nas colônias italianas o fascismo...Nas alemãs o neo-nazismo...É preciso, urgentemente, mudar isto no Brasil... ---- VINHO COM SANGUE E VENENO... ---- Fui Procurador no Incra por vários anos. Entrei com uma máxima: para liberar dinheiro público, mesmo aos “sem terra”, era de direita; para combater o latifúndio, de esquerda. Foram anos agitados, até que minha presença se tornou insuportável e fui expurgado para um escaninho do inferno, onde ainda me encontro. Não me arrependo de nada. Nesses tempos conheci uma servidora do Ministério do Trabalho, que passou a me relatar episódios de trabalho escravo no RS, quase exclusivamente no campo. Para mim foi enorme surpresa. Eram casos localizados nas plantações de árvores, como eucalipto e acácia, com requintes de crueldade com os trabalhadores. A descoberta em Bento Gonçalves de centenas de trabalhadores em situação análoga à escravidão demonstra que este quadro não se alterou. Ao revés, se antes se mostrava escondido nas lonjuras da estrada do inferno, entre a costa doce e o mar, agora eclode numa das cidades mais desenvolvidas da serra gaúcha. Vinho com sangue. Agora se sabe porque o presidente da mais alta Corte do país não conseguiu palestrar naquela cidade. Porque é terra sem lei, onde os poderosos enriquecem às custas da escravidão e batem no peito a origem empreendedora, mesmo que seus antepassados tenham chegado aqui sem eira nem beira. Um tipo de fascismo, onde as novas gerações renegam o sofrimento dos precurssores e erguem uma fantasia de bonança e superioridade racial. É lá, naquelas paragens serranas, onde os CTGs brotam em cada esquina; onde o bolsonarismo atingiu os mais altos índices de aprovação. Bento Gonçalves, para quem desconhece, é a capital nacional do veneno. Tudo é consumido pelo agrotóxico mais perigoso e agora, para o bem de todos, a capital do agro-escravismo, uma nova formação econômica dos que se consideram raça superior e de ex-colonos empobrecidos e expulsos da Europa renascem como verdugos dos trabalhadores e do meio ambiente. É preciso que tudo mude, para que tudo fique como está, na frase impiedosa de Lampedusa. As vítimas de ontem, os algozes de hoje. Oxalá (também sonho) se erga um grande boicote às marcas (as maiores aqui do Sul), porque em Bento ninguém sabia de nada. Todos são inocentes empresários enganados, que conhecem cada cacho de uva, mas desconheciam as condições bárbaras dos seus trabalhadores. A máxima da terceirização, a versão da privatização do espaço público, apenas para lavar as mãos sujas de sangue e suor dos outros. ---- Flávio Xavier. Via Lu Vilella