Países devem se livrar do 'vampiro sugador' do sistema financeiro dos EUA, diz analista

© AP Photo / Jin Lee ---- Sputnik Brasil ----- por Ana Livia Esteves ----- Hegemonia do dólar está em franco declínio e EUA têm poucas armas para evitá-lo, disse analista canadense durante simpósio em Moscou. Ao se livrarem de "vampiro sugador" do mercado financeiro dos EUA, países não ocidentais terão seus produtos e moedas devidamente valorizados. Nesta quarta-feira (5), especialistas russos e canadenses reunidos no clube de discussão Valdai debateram o declínio da hegemonia do dólar na economia mundial. A nova configuração geopolítica trouxe o tema da desdolarização para o centro da agenda, sendo inclusive incluído na nova concepção de política externa russa. De acordo com o chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, a desdolarização veio para ficar e é fruto da perda de confiança no Ocidente. "Eles congelam os ativos de diversos países e no nosso caso praticamente roubaram ativos avaliados em US$ 300 bilhões [cerca de R$ 1,5 trilhão]", disse Birichevsky à Sputnik Brasil. "Outros países entendem que hoje isso é feito contra a Rússia, mas amanhã pode ser feito com qualquer um deles." De acordo com o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões de reservas internacionais da Rússia foram detidos por EUA, União Europeia, Reino Unido e Canadá, após o agravamento do conflito ucraniano. Anteriormente, países como Venezuela e Irã já haviam sido alvo de confiscos semelhantes. Por isso, países do BRICS "discutem ativamente" a formação de sistemas de pagamentos alternativos ao liderado pelos EUA e diminuem a formação de reservas em dólares. "O sistema financeiro forjado após a Segunda Guerra Mundial garantiu que o centro privilegiado fosse financiado às custas da maioria mundial", explicou o diplomata russo. "Para nós, isso é um sistema neocolonial." Acordos como o firmado por Brasil e China para comercializar em moedas nacionais são um passo fundamental para superar a hegemonia do dólar. No entanto, analistas brasileiros temem uma possível retaliação de Washington para defender a sua moeda. "A posição da economia americana ainda é considerável [...] sua capacidade de chantagear e pressionar países terceiros ainda é grande", considerou Birichevsky. "Vemos como os norte-americanos conseguem resultados, por exemplo, na Assembleia Geral da ONU: através da chantagem e da intimidação que, infelizmente, muitos países ainda não têm condições de resistir." Por outro lado, a capacidade dos EUA de reagir ao declínio do dólar é, atualmente, limitada, acredita a professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai. "Os EUA no passado foram de fato à guerra contra países que questionaram a hegemonia do dólar, como o Iraque e a Líbia", disse Desai à Sputnik Brasil. "Mas os Estados Unidos não ganharam essas guerras, o que abalou o apoio popular a esse tipo de medida." Além disso, os EUA enfrentam problemas econômicos internos graves, como a crise bancária e o aumento recorde da desigualdade social doméstica. "A habilidade dos EUA de reagir a movimentos como o brasileiro está limitada. Eles com certeza gostariam [de reagir] e estão comprometidos com o sistema do dólar", considerou Desai. "Mas as contradições internas do sistema estão em ebulição dentro dos próprios EUA." A especialista canadense acredita que o fim da hegemonia do dólar liberará o mundo do "vampiro sugador que é o sistema financeiro norte-americano" e será positivo para países não ocidentais, que sofrem com a desvalorização artificial de suas moedas e produtos. "Uma das maiores vantagens de substituir esse sistema delirante com um mais são é que os produtos fabricados por países não ocidentais atingirão o valor que merecem. As moedas dos países não ocidentais são artificialmente desvalorizadas, por isso produtos russos, indianos e até chineses não recebem o valor que merecem", apontou Desai. Nesta quarta-feira especialistas russos e canadenses se reuniram no simpósio "A nova ordem econômica: é realmente possível acabar com o monopólio do dólar?", promovido pelo clube de discussão Valdai, em Moscou.