O CHEFE DA QUADRILHA

por Leonardo Rossato --- O Cafezinho ------ As provas contra Jair Bolsonaro se avolumam. Agora a Polícia Federal já sabe que, na época da eleição, Bolsonaro repassava mensagens com mentiras para empresários dispararem em massa. As mensagens continham mentiras sobre urnas eletrônicas e sobre vacinas contra a COVID 19, dentre outros temas, e foram encontradas no celular do empresário Meyer Nigri, fundador da Tecnisa. O empresário repassava as mensagens para outros empresários, e então as mensagens se espalhavam em redes de mentiras enormes, atingindo em cheio as massas bolsonaristas, que acreditavam piamente em todo tipo de insanidade que Bolsonaro soltava. Questionado sobre o tema, Bolsonaro nem ao menos se deu ao trabalho de desmentir, coisa que todo e qualquer político minimamente cara de pau faria. A resposta dele foi dada com a truculência de sempre: “mandei, qual é o problema?”. O problema é que isso é um crime, ô cara de areia mijada. Aliás, é incrível como todo fascista tem cara de areia mijada. Não há harmonização facial que dê conta de consertar a cara cheia de buracos que parece pedra-pomes de ícones do reacionarismo como Bolsonaro, Tarcísio, Heleno, Braga Netto e outros nomes do tipo. Parece que estourar cravos e deformar o próprio rosto é uma prática comum na caserna, na ausência de qualquer outra coisa para fazer. Aparentemente, os oficiais também gastam um bom tempo tentando manter seus próprios privilégios quando não estão estourando os cravos da própria cara. E os movimentos da cúpula das Forças Armadas mostram que eles estão preocupados com isso como não se via há muito tempo. Depois de algum tempo de silêncio, voltaram as ameaças apócrifas de militares em veículos como Folha e Estadão, que se prestam vergonhosamente a esse serviço de assessoria pouco disfarçada para oficiais. Em outro front, os militares marcaram até café da manhã com o Presidente da CPMI dos atos golpistas, o deputado Arthur Maia, que também tem um papel institucional importante para o país enquanto chaveirinho do Arthur Lira. A questão é que as revelações da última semana (para mais informações acesse a coluna da semana passada) tiveram o efeito de uma granada que estourou no colo de Bolsonaro, mas também atingiram as Forças Armadas como um todo. É altamente comprometedor ver oficiais de alta patente metidos até o pescoço em uma conspiração para tentar fraudar o pleito eleitoral brasileiro. Além disso, teve operação contra general. General da reserva, pai de um outro oficial preso (o Mauro Cid), mas ainda assim um general. E tudo por culpa do Bolsonaro. Então os militares entraram em modo de emergência para tentar manter a sua histórica inimputabilidade, para tentar manter a mamata intacta. Porque militar no Brasil só se mexe quando vê seus privilégios em risco. A ordem na caserna é sempre a de fazer todo mundo esquecer das merdas que eles fizeram e tentar calar quem insiste em não esquecer. Em troca, os oficiais tem altíssimos salários, aposentadoria integral e, quando se sentem incomodados, ainda se apresentam como “salvadores da pátria”, com direito a um bando de idiotas babando ovo atrás. Bolsonaro é fruto desse cenário aí. Um cenário repleto de gente limitada intelectualmente, preguiçosa e que só sabe ameaçar os outros quando se sente acuada. Descrevendo assim parece até que estamos falando de um buldogue, mas a verdade é estamos falando dos militares brasileiros em geral, em especial o oficialato. Pensando bem, a comparação não é apropriada: não há registro de buldogues matando e torturando ninguém na ditadura ou viabilizando a política negacionista do Bolsonaro que matou milhares de pessoas na pandemia. As filhas solteiras dos buldogues também não custam bilhões de reais anualmente ao erário da União. Buldogues só são cãezinhos preguiçosos agindo por instinto, ao contrário dos militares, que realmente não tem nenhum pudor em destruir o país apenas para manter privilégios. É esse tipo de gente limítrofe que escolheu ser subserviente ao Bolsonaro. Militares sempre se consideraram uma casta privilegiada. Agora, com a descoberta de que Bolsonaro era um criminoso contumaz (agora vou usar esse termo sempre que puder, obrigado, Walter Delgatti), os militares se veem alvejados por conta de sua associação ao Bolsonaro. E não foi uma mera associação “ok, fazemos parte de seu governo, como é a praxe”. Os militares realmente se esforçaram para que Bolsonaro fraudasse a eleição e permanecesse no poder indefinidamente. Eles realmente estiveram com Walter Delgatti procurando formas de descredibilizar a urna. Eles se esbaldaram, afinal Bolsonaro, além de dar aos militares todo o protagonismo que eles não tinham desde a ditadura, ainda ajudou a corporação em temas sensíveis, como a Reforma da Previdência. E garantiu, de todas as formas que pôde, que os crimes da ditadura não seriam investigados. Um paizão para os milicos. É por isso que há a necessidade de enfatizar: Bolsonaro é o chefe da quadrilha, mas os militares foram subservientes a ele de forma muito consciente. Consciente a ponto de incentivar os bolsonaristas acampados na frente dos quartéis após a derrota na eleição a permanecer lá. “Aguardem, não desistam”, disse pessoalmente Braga Netto em 19 de novembro de 2022. O General Augusto Heleno e a esposa do ex comandante Villas Boas tinham postura similar. A filha do ex comandante, inclusive, foi vista na manifestação golpista de 08 de janeiro. Mas não foi só isso. Tivemos um tenente-coronel como ajudante de ordens que se comprometeu até a pegar item retido na alfândega para o chefe. Que usou o pai, um general, para vender presentes recebidos na surdina numa loja de penhores nos EUA. Presentes de origem tão obscura que nem o Rick do Trato Feito teria coragem de comprar, mas que na realidade vieram de países árabes. Em troca do que? Não sabemos exatamente. Mas sabemos que Bolsonaro era o chefe da operação. Se existe o chefe da quadrilha, obviamente existe a quadrilha também. É só olhar para o entourage palaciano do Bolsonaro: Ministros militares, ajudantes militares, e quem não estava diretamente ligado aos militares estava ligado ao filho de Bolsonaro. Não há ameaça ou negociação dos militares que consiga ocultar isso: na prática, eles eram os operadores da quadrilha que assaltou o país, sob comando de Bolsonaro. Se isso vai respingar na reputação de toda a corporação, problema da corporação. Todos foram lenientes quando Bolsonaro colocou milhares de militares para trabalhar em cargos civis em seu governo. Ninguém reclamou. E todos sabiam da índole de Bolsonaro. Que paguem o preço junto com o chefe, agora que o chefe caiu em desgraça.