"Desesperado": Dallagnol queria enquadrar Moro durante sabatina de Flávio Dino

Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Créditos: Jorge Araújo/FolhaPress ----------- Durante sabatina na CCJ do Senado, Deltan tentou ligar para Moro, que não atendeu a ligação, mas foi alertado pelo suplente do "desespero" do ex-procurador diante da sinalização de voto favorável a Dino, indicado para o STF. ---------- Por Plinio Teodoro ----- Revista Forum ---- "Desesperado" com o aval a Flávio Dino para ocupar a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF) - concretizada na quarta-feira passada (13) -, o deputado cassado e ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, tentou de diversas maneiras enquadrar o (ex) amigo Sergio Moro (União-PR) durante a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Antes de enviar mensagens ao suplente de Moro, o advogado Luis Felipe Cunha, Dallagnol tentou, sem sucesso, falar diretamente com o senador. Cunha foi quem revelou a Moro que "Deltan" estava "desesperado" com o possível voto favorável a Dino na CCJ. "Deltan desesperado. Me ligou, mandou mensagem e etc. Só para seu conhecimento", escreveu o advogado, que recebeu R$ 1 milhão do União Brasil, após Moro romper com o Podemos e se filiar ao União Brasil. A troca de partido foi negociada por Cunha. Em seguida, Moro responde sinalizando estar ciente do "desespero" do ex-procurador e que não sabe exatamente o que fazer. O que Dallagnol desejava, segundo Bela Megale, no jornal O Globo desta segunda-feira (18), era enquadrar Moro. O ex-procurador queria pressionar o ex-juiz a tornar pública seu voto na CCJ, se posicionando contra a indicação de Dino, feita por Lula, para a Suprema Corte. O voto favorável de Moro, revelado em troca de mensagens com "Mestrão", o assessor Rafael Travassos Magalhães, provocou a ira de Dallagnol, que considera "indefensável" o voto a favor de Dino. O desespero do deputado cassado pode ser visto ainda na madrugada da quinta-feira (14), quando o deputado foi à rede X, atigo Twitter, à 1h58 mandar uma mensagem cifrada a Moro dizendo que "se você permite que o sistema te controle com dinheiro ou ameaças, você virou sistema". "Senadores que votaram no Dino por emendas parlamentares ou por medo de vingança violaram o dever que têm com seus eleitores. Se você permite que o sistema te controle com dinheiro ou ameaças, você virou sistema. Mesmo tendo sido cassado eu não me arrependo de nunca ter aceito emendas e cargos do governo e de nunca ter baixado a cabeça para os donos do poder. Eles podem tirar de mim a paz, mas não a coragem; o cargo, mas não a luta; o salário, mas não o valor", publicou o ex-procurador, em indireta a Moro. Classificado como traidor pelos seus pares do lavajatismo e do bolsonarismo, Moro foi às redes defender seu direito de manter seu voto em sigilo e atribuiu os ataques que vem sofrendo ao governo Lula e ao PL do Paraná, mesmo que as principais críticas tenham partido de seus até então aliados. "Aos meus eleitores e apoiadores, esclareço: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar. O vigoroso embate que tenho enfrentado do atual governo Lula, de parte do próprio PL paranaense, aliado às ameaças do PCC, me levam a agir, neste momento, com prudência e no pleno exercício de uma prerrogativa que possuo, tudo isso visando preservar minha independência". ------- Voto favorável a Dino--- Flávio Dino foi submetido à votação dos senadores e sua indicação para ser o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) foi aprovada, primeiro na CCJ, com 17 votos favoráveis e 10 contrários, e depois pelo plenário da casa legislativa, com 47 votos favoráveis e 31 contrários. No registro flagrado pelo Estadão, Moro aparece trocando mensagens no WhatsApp com uma pessoa cujo nome na agenda é "Mestrão". O diálogo dá a entender que o senador teria votado favoravelmente à indicação de Dino ao STF. "Sergio, o coro está comendo aqui nas redes, mas fica frio que jaja passa, só não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não isso vai ficar a vida inteira rodando. Estou de plantão aqui, qualquer coisa só acionar", diz Mestrão. Moro, então, responde: "Blz. Vou manter meu voto secreto, eh um instrumento de proteção contra retaliação". Pouco antes do início da sabatina, Sergio Moro, que já sonhou em ser ministro do STF e que é um crítico contumaz de Dino e do atual governo, fez questão de ir até o ministro da Justiça e não só cumprimentá-lo, como dar um abraço caloroso, com direito a risadas e trocas de afagos. ------ Mestrão--- "Mestrão" é o apelido do assessor Rafael Travassos Magalhães, contratado em agosto por Moro em cargo comissionado para atuar como auxiliar parlamentar intermediário no "escritório de apoio nº 1", localizado em Curitiba, com salário de R$ 7,1 mil. No entanto, Magalhães já tem histórico na política paranaense. Tanto que é citado pelo Ministério Público do Paraná em uma investigação sobre suspeitas de “rachadinha” no gabinete do deputado estadual Ricardo Arruda (PL-PR), apoiador radical de Jair Bolsonaro (PL). Documentos sigilosos da Subprocuradoria Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos do MP-PR, revelados pelo jornal O Globo no dia 27 de outubro, revela que o Coaf identificou “operações financeiras suspeitas” em contas de pessoas que trabalharam para o deputado estadual, entre 2014 e 2019. As transações têm, diz a promotoria, “traços característicos” de “rachadinhas”. O esquema é semelhante ao que foi investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a estrutura montada nos gabinetes de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e por Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Câmara Municipal do Rio. A investigação foi suspensa após levante jurídico do clã Bolsonaro. Segundo o MP, os funcionários de Arruda fariam saques de 70% dos salários em dinheiro vivo. O Coaf ainda identificou transações suspeitas entre os assessores de Arruda. Alguns deles foram alvo de operação de busca e apreensão - o gabinete de Moro não informou se Magalhães estava entre eles. Além de Magalhães, Moro também contratou por 3 meses Lucas Dorini Sabatto, que também atuou no gabinete de Arruda e é investigado pelas suspeitas de "rachadinha".