A CHEGADA DE BOLSONARO AO INFERNO

------- Recebi de um amigo. Vale a pena! Aos interessados, a estrutura do poema é rigorosamente similar ao texto de Erasmo de Rotterdam, "Júlio Segundo, a quem se negou a entrada no céu". Roberto Romano "A CHEGADA DE BOLSONARO AO INFERNO". Um cordel arretado de Bastião da Curiboca_ Corria um dia tranquilo. Na portaria do inferno. A fila estava pequena. Com três caboco de terno; Um agiota, um banqueiro, E um pastor potoqueiro Invocando o Pai Eterno. ------- O capeta da guarita Só conferia os malfeito Numa lista bem comprida Ia ticando, com jeito: Ladroagem, carteirada, Ódio, usura, mentirada, Consciência com defeito. -------- Mais atrás vinha uma quenga E um vendedor de seguro; Pouco depois um pinguço Ralando o chifre no muro; Uma dupla sertaneja, Uma barata-de-igreja, E um tarado de pau duro. --------- Tudo estava nos conformes Naquela burocracia, Quando se ouviu ao longe Uma estranha tropelia. Fazendo muita poeira, Promovendo quebradeira, Xingando a democracia. --------- Na frente, boca espumando, Tinha um tal de Capitão. Com a mão fazia um gesto Imitando um três-oitão; Riso de psicopata, Catinga de vira-lata, E zóio de assombração. ----------- Ele logo foi dizendo: “Sou presidente, tá oquei? Tenho apoio da milícia, Da rede globo e da lei. Vou trocar o delegado! Eu quero um advogado, Daqueles que eu já comprei”. ----------- O diabo olhou o tipo E pensou: “Lá vem encrenca!” O cabra não vinha só, Vinha com ele uma renca: Tinha milico fardado, Fazendeiro, deputado, E jornalista em penca. ---------- “Trezentos mil. E daí?” Relinchava o genocida, E era aplaudido com força Pela claque ensandecida. Os quatro filhos vibravam, Enquanto compartilhavam Da rachadinha bandida. ----------- Puxando o coro dos males, O general Pazuello; Damares, Ricardo Salles, Parecia um pesadelo! O chanceler Araújo Com QI de caramujo, Paulo Guedes num camelo. -------- “Eu vim para destruir!” Gritava o quase-demente. E chegou na portaria Querendo passar na frente. “Não ligo pra pandemia! Mi-mi-mi é covardia, De quem não votou na gente!” ------------- Capeta coçou o rosto, E farejou confusão. “Esse aí parece encosto, Vou precisar de outra ação.” E ligou prum mais chifrudo, Mais graduado, pançudo, Que chegou com a guarnição. ------------ “O que está acontecendo Nessa repartição? Aqui é lugar decente, Não pode haver confusão. Não me importa a patente, Tem de ser obediente Em nossa jurisdição.” ----------- O capitão gargalhou De um jeito alucinado. Virou-se pra sua plateia, Soltou um berro, alterado: “Vamos passar a boiada! Isso aqui não é nada, Comparado com meu gado.” ------------ O tinhoso, experiente, Percebeu a desvantagem. Era muita gente bronca Seguindo aquela visagem. “Vou ligar pro meu Supremo. Briga boa eu não temo, Mas assim é sacanagem...” ------------ Satanás estava na mesa Comendo um leitão assado. Quando recebeu o zap Caiu no chão, alarmado. “Como é que esse bandido Que acompanho, escondido, Veio parar desse lado?” ------------ Vestiu a capa vermelha, E procurou o tridente. Passou um pente na telha Deu um gole de aguardente. Arriou uma jumenta Que tinha fogo na venta, E foi pra linha de frente. -------------- Chegando na portaria Viu aquela confusão. O povo fazendo arminha, Gritando “É o Capitão!” Trinta pastores na grama, Dez generais de pijama, e o Bonner na narração. ---------------- Seguindo aquele fascista, Tinha de tudo um pouquinho. Acadêmico e artista, Sílvio, Datena e Ratinho. Racista, neonazista, comboio de taxista atravancando o caminho. ----------- O Demônio encheu o peito Com seu bafo venenoso, E perguntou pro sujeito: “Cê quer o que, malcheiroso? Não pense que me engana, A facada foi chicana, Recurso bem vergonhoso.” ------------- Bolsonaro então sorri, Lembrando a maracutaia. “Não foi ali que morri, Bem sabe o Rodrigo Maia. Cheguei com apoio do Moro, Dos tucanos de alto foro, E também do Malafaia.” -------------- “Mas então você me explique”, Interrogou Belzebu: “Por que vem fazer chilique Com esse bando de urubu? Pra entrar tem que ter senha, Espero que aqui não venha Provocar um sururu.” ------------------ - “É Deus acima de todos, Brasil acima de tudo!” Desta forma inconsequente Blasfemou o linguarudo. O Demo pegou a deixa, E transmitiu sua queixa Para o Senhor-Pai-de-Tudo. -------------- “Mestre Supremo, desculpe, Nessa hora incomodar. Mas tem um cara suspeito, Aqui a me atazanar. É um tal de Bolsonaro, Se não me falha o faro, É cabra ruim pra danar.” -------------- Deus pôs a mão na testa, deu um suspiro profundo. “Belzebu, tu estás comigo Desde o início do mundo. Sabes que não ajo errado: Se alguém vai pro teu lado, É porque é vagabundo!” --------------- - “Mas, Deus, será que mereço Um castigo tão tacanho? O cara é sociopata, Quem segue é um povo estranho. Aqui temos uma ordem, Por mais que outros discordem, É disso que eu tiro o ganho.” ----------------- “Penso que um cabra desses, Tão seguido de pastores. De igrejas tão diversas, Guiadas por malfeitores, Devia ir para o limbo. E receber um carimbo. Por proclamar tais horrores!” ----------- O Supremo, com um sorriso, Respondeu ao Lucifer: “É justamente por isso Que a situação requer um jeitinho mais profano: Aceite o miliciano. E seja o que Deus quiser!” ------------- O Maligno, abismado, Achou a declaração hostil. “Se Deus quiser, ora essa! Onde é que já se viu? Agora que a coisa aperta! Se Deus quisesse, na certa, Tinha salvado o Brasil!” -------------- Belzebu ficou cabreiro Com aquela situação. Lá fora o Bozo rosnava Incitando a multidão. Foi quando um diabo-raso Preocupado com o caso, Disse: “eu tenho a solução!” ------------ “Lá no Brasil tem um cabra Que todo mundo respeita. Correu cinquenta países, E em nenhum fez desfeita. Cabra bom de Garanhuns, Adorado por alguns, Temido pela direita.” ------------ Satanás, bem curioso, Viu uma chance bem clara. O diabinho, orgulhoso, Sentiu que a fala tocara. “É Lula, meu comandante! Sei também que o meliante Morre de medo do cara.” ------------- “Quero o telefone agora Dum homem desse quilate!” Lucifer se apresentou, E contou qual o embate. Lula soltou uma risada, E falou: “Esse é barbada. Desafia prum debate!” ------------- O Demonho, agradecido, Foi direto pro portão. Com a capetada ao lado Anunciou a intenção: “Vamos expor nossos planos. Se os teus não forem insanos, Te entrego a chave e o bastão!” ----------- Bolsonaro ouvindo aquilo Na hora empalideceu. O suor correu na testa E a garganta emudeceu. Pra escapar da desgraça Numa nuvem de fumaça, Depressa se escafedeu. ------------ A multidão, sem comando, Aos poucos se diluiu. Os diabos festejaram A vitória sem fuzil. Se alguém pergunta o destino Do capitão asinino, Saiba que está no Brasil. ---------------------- (Bastião da Curiboca)