Mídia tenta justificar o genocidio israelense contra os palestinos como legitima defesa das forças de ocupação
Hospital Al-Shifa em Gaza,várias vezes bombardeado. Médicos, enfermeiros e pacientes foram sequestrados e detidos pelo invasor sionista.
Ambulância com feridos é duzilada por israelenses. Crime diário.
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Reuters--------
Heba Ayyad* --------
O que mais provoca uma pessoa é ouvir uma grande mentira criada por Israel para justificar os massacres cometidos na Faixa de Gaza 24 horas por dia. Depois, os responsáveis internacionais adotam essa mentira e a repetem em relatórios, declarações, briefings e coletivas de imprensa. Essa narrativa falsa se espalha e acaba se transformando em convicções amplamente difundidas por diplomatas e apoiadores da entidade sionista, como se fossem verdades inquestionáveis. Quando os poucos que insistem em buscar a verdade tentam corrigir essas informações, desafiá-las e desconstruí-las, os responsáveis internacionais frequentemente tentam escapar ou demonstram teimosia, repetindo as mesmas alegações ou recusando-se a responder.
A narrativa israelense sobre a guerra de extermínio contra Gaza, que está prestes a completar seu décimo quarto mês, é quase inteiramente baseada em calúnias, falsidades, distorções, enganos, falsificações e fabricações. Se fosse mencionado cinquenta sinônimos para o termo “mentira”, ainda assim não ficaria satisfeito, pois todos juntos dificilmente descreveriam a narrativa israelense sobre essa guerra de extermínio. Trazemos aqui quatro exemplos dessas falsidades, começando pelo mais recente.
Apreensão de 98 caminhões de ajuda humanitária: Israel afirmou que 101 caminhões do Programa Alimentar Mundial cruzaram a passagem de Kerem Shalom em 16 de novembro e que 98 desses caminhões foram sequestrados, restando apenas três que chegaram ao destino. Segundo a versão divulgada, após cruzar a passagem, os caminhões se dirigiram às áreas de distribuição de ajuda, mas foram saqueados por homens armados a uma curta distância do ponto de passagem. O porta-voz oficial do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric, declarou que os caminhões foram saqueados após entrarem na área, resultando em grandes danos aos veículos e à carga.
Quem acreditaria que 98 caminhões desapareceram de uma vez sem que ninguém os encontrasse? Onde estão os motoristas? Onde estão os materiais saqueados? Como esses homens armados estavam a apenas 200 metros do ponto de partida dos caminhões, após o posto de controle israelense? Israel permitiria a presença de um grande número de homens armados capazes de apreender 98 caminhões sem reagir, especialmente considerando que qualquer pessoa portando armas na Faixa de Gaza geralmente é membro da resistência? Ou será que esses grupos são afiliados aos serviços de segurança israelenses?
Na planície de Gaza, onde não há montanhas nem florestas, apenas escombros, como é possível esconder 98 caminhões com suas cargas e motoristas sem deixar rastros? Seria possível esconder 98 bicicletas em Gaza? Ou 98 carros pequenos? Como diz o provérbio árabe: “Como você sabia que era mentira?” Ele respondeu: “Por causa de sua magnitude.”
Essa história, que teve origem em fontes israelenses, foi amplamente repetida nas declarações de altos funcionários. Mehdi Hadi, o coordenador humanitário para a Palestina ocupada, repetiu essa mentira em seu discurso ao Conselho de Segurança em 25 de novembro. Como ele, um jordaniano legítimo, se permitiu cair nessa armadilha? Perguntamos a ele: “Como alguém pode acreditar que 98 caminhões, junto com seus motoristas, foram sequestrados por homens armados em Gaza?”
É claro que não houve resposta. Posteriormente, a história foi repetida pela Secretária-Geral Adjunta, Amina Mohammed, em seu discurso na Conferência do Cairo para Reforçar a Resposta Humanitária em Gaza, no dia 2 de dezembro. Na ocasião, declarou: “A ajuda excepcional não é humanitária nem eficaz para salvar vidas, e qualquer ajuda que chega a Gaza está sujeita a saques. No mês passado, 90% dos caminhões de ajuda foram saqueados na passagem de Kerem Shalom.”
Essa narrativa busca culpar os palestinos e isentar Israel do crime de fome deliberada. Muitas pessoas foram enganadas por essa versão israelense dos fatos. No entanto, o que dissipou essa ambiguidade foi a declaração de Adnan Abu Hassan, porta-voz oficial da UNRWA. Ele confirmou que toda a área ao redor da passagem de Kerem Shalom está sob controle exclusivo da segurança israelense, sendo Israel responsável por tudo o que ocorre na região. Após essa revelação, a UNRWA decidiu suspender qualquer entrada de ajuda humanitária por essa via.
A narrativa israelense sobre a guerra de extermínio contra Gaza, que está prestes a completar seu décimo quarto mês, é quase inteiramente baseada em calúnias, enganos, distorções, falsificações e fabricações.
A UNRWA tem sido alvo de inúmeras acusações, sendo a maior delas a de que está infiltrada pelo movimento Hamas, com alegações de que centenas de funcionários cooperam com os movimentos de resistência. Inicialmente, o número de acusados era de milhares, mas depois foi reduzido para 12 e, posteriormente, para sete. Os acusados foram imediatamente investigados, e seus contratos suspensos. O Comissário-Geral solicitou a Israel que apresentasse fatos e provas, mas o pedido não foi atendido. No final, apenas um ou dois foram considerados culpados.
Apesar disso, 18 países suspenderam o financiamento da UNRWA sem realizar investigações, sem apresentar condenações e sem provas conclusivas. Quando ficou evidente que as acusações eram amplamente maliciosas e infundadas, e que a UNRWA não promovia incitação em seu currículo, todos esses países recuaram, exceto os Estados Unidos, que adiaram o refinanciamento até março de 2025. Trump, que congelou os repasses durante sua gestão, certamente não retomará o financiamento.
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Mídia tenta justificar o genocidio israelense contra os palestinos como legitima defesa das forças de ocupação
9 de dezembro de 2024
Reuters
Heba Ayyad*
O que mais provoca uma pessoa é ouvir uma grande mentira criada por Israel para justificar os massacres cometidos na Faixa de Gaza 24 horas por dia. Depois, os responsáveis internacionais adotam essa mentira e a repetem em relatórios, declarações, briefings e coletivas de imprensa. Essa narrativa falsa se espalha e acaba se transformando em convicções amplamente difundidas por diplomatas e apoiadores da entidade sionista, como se fossem verdades inquestionáveis. Quando os poucos que insistem em buscar a verdade tentam corrigir essas informações, desafiá-las e desconstruí-las, os responsáveis internacionais frequentemente tentam escapar ou demonstram teimosia, repetindo as mesmas alegações ou recusando-se a responder.
A narrativa israelense sobre a guerra de extermínio contra Gaza, que está prestes a completar seu décimo quarto mês, é quase inteiramente baseada em calúnias, falsidades, distorções, enganos, falsificações e fabricações. Se fosse mencionado cinquenta sinônimos para o termo “mentira”, ainda assim não ficaria satisfeito, pois todos juntos dificilmente descreveriam a narrativa israelense sobre essa guerra de extermínio. Trazemos aqui quatro exemplos dessas falsidades, começando pelo mais recente.
Apreensão de 98 caminhões de ajuda humanitária: Israel afirmou que 101 caminhões do Programa Alimentar Mundial cruzaram a passagem de Kerem Shalom em 16 de novembro e que 98 desses caminhões foram sequestrados, restando apenas três que chegaram ao destino. Segundo a versão divulgada, após cruzar a passagem, os caminhões se dirigiram às áreas de distribuição de ajuda, mas foram saqueados por homens armados a uma curta distância do ponto de passagem. O porta-voz oficial do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric, declarou que os caminhões foram saqueados após entrarem na área, resultando em grandes danos aos veículos e à carga.
Quem acreditaria que 98 caminhões desapareceram de uma vez sem que ninguém os encontrasse? Onde estão os motoristas? Onde estão os materiais saqueados? Como esses homens armados estavam a apenas 200 metros do ponto de partida dos caminhões, após o posto de controle israelense? Israel permitiria a presença de um grande número de homens armados capazes de apreender 98 caminhões sem reagir, especialmente considerando que qualquer pessoa portando armas na Faixa de Gaza geralmente é membro da resistência? Ou será que esses grupos são afiliados aos serviços de segurança israelenses?
Na planície de Gaza, onde não há montanhas nem florestas, apenas escombros, como é possível esconder 98 caminhões com suas cargas e motoristas sem deixar rastros? Seria possível esconder 98 bicicletas em Gaza? Ou 98 carros pequenos? Como diz o provérbio árabe: “Como você sabia que era mentira?” Ele respondeu: “Por causa de sua magnitude.”
Essa história, que teve origem em fontes israelenses, foi amplamente repetida nas declarações de altos funcionários. Mehdi Hadi, o coordenador humanitário para a Palestina ocupada, repetiu essa mentira em seu discurso ao Conselho de Segurança em 25 de novembro. Como ele, um jordaniano legítimo, se permitiu cair nessa armadilha? Perguntamos a ele: “Como alguém pode acreditar que 98 caminhões, junto com seus motoristas, foram sequestrados por homens armados em Gaza?”
É claro que não houve resposta. Posteriormente, a história foi repetida pela Secretária-Geral Adjunta, Amina Mohammed, em seu discurso na Conferência do Cairo para Reforçar a Resposta Humanitária em Gaza, no dia 2 de dezembro. Na ocasião, declarou: “A ajuda excepcional não é humanitária nem eficaz para salvar vidas, e qualquer ajuda que chega a Gaza está sujeita a saques. No mês passado, 90% dos caminhões de ajuda foram saqueados na passagem de Kerem Shalom.”
Essa narrativa busca culpar os palestinos e isentar Israel do crime de fome deliberada. Muitas pessoas foram enganadas por essa versão israelense dos fatos. No entanto, o que dissipou essa ambiguidade foi a declaração de Adnan Abu Hassan, porta-voz oficial da UNRWA. Ele confirmou que toda a área ao redor da passagem de Kerem Shalom está sob controle exclusivo da segurança israelense, sendo Israel responsável por tudo o que ocorre na região. Após essa revelação, a UNRWA decidiu suspender qualquer entrada de ajuda humanitária por essa via.
A narrativa israelense sobre a guerra de extermínio contra Gaza, que está prestes a completar seu décimo quarto mês, é quase inteiramente baseada em calúnias, enganos, distorções, falsificações e fabricações.
A UNRWA tem sido alvo de inúmeras acusações, sendo a maior delas a de que está infiltrada pelo movimento Hamas, com alegações de que centenas de funcionários cooperam com os movimentos de resistência. Inicialmente, o número de acusados era de milhares, mas depois foi reduzido para 12 e, posteriormente, para sete. Os acusados foram imediatamente investigados, e seus contratos suspensos. O Comissário-Geral solicitou a Israel que apresentasse fatos e provas, mas o pedido não foi atendido. No final, apenas um ou dois foram considerados culpados.
Apesar disso, 18 países suspenderam o financiamento da UNRWA sem realizar investigações, sem apresentar condenações e sem provas conclusivas. Quando ficou evidente que as acusações eram amplamente maliciosas e infundadas, e que a UNRWA não promovia incitação em seu currículo, todos esses países recuaram, exceto os Estados Unidos, que adiaram o refinanciamento até março de 2025. Trump, que congelou os repasses durante sua gestão, certamente não retomará o financiamento.
A campanha para destruir a UNRWA não está relacionada a indivíduos específicos, mas visa, na verdade, desmantelar a ideia do asilo palestino e romper o vínculo dos refugiados com o direito de retorno. O Knesset aprovou duas leis destinadas a dificultar as operações e os serviços da UNRWA em todo o território palestino ocupado. Israel foi longe demais nessa abordagem imprudente, acusando a UNRWA — uma organização humanitária que há 75 anos atua nas áreas de educação, saúde, assistência e resposta a emergências — de operar de forma questionável. Será que Israel agiria de maneira tão imprudente se não contasse com o apoio das grandes potências?
A explosão do Hospital Batista e a acusação do Movimento Jihad
A terceira grande calúnia é a acusação de que o Movimento Jihad detonou um míssil caseiro no pátio do Hospital Batista na madrugada de 17 de outubro de 2023, provocando a morte de pelo menos quinhentas pessoas, incluindo doentes, feridos, profissionais de saúde e civis que se refugiaram no hospital. Israel acusou imediatamente o Movimento Jihad Islâmica e afirmou que um dos seus mísseis caiu acidentalmente no pátio do hospital. Existe algo mais vergonhoso do que essa acusação, como se o movimento Jihad tivesse mísseis suficientes para causar tantas mortes? Os grupos combinados dispararam mais de 30.000 foguetes contra Israel ao longo de 17 anos, matando apenas um número muito limitado de pessoas — não mais de sessenta, a maioria das quais faleceu em consequência de ataques cardíacos ou choque devido à pressão física.
Mas o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou o ato sem mencionar o autor: “Estou chocado com a morte de centenas de civis palestinos em um ataque a um hospital em Gaza, que condeno veementemente, e o meu coração está com as famílias das vítimas em Gaza.” Essa frase tornou-se um refrão repetido por responsáveis internacionais, incluindo o Comissário para os Direitos Humanos, o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde e o Diretor Executivo da UNICEF.
Quando ficou claro que o ocorrido foi uma grande explosão resultante de um ataque aéreo israelense, cujo objetivo era matar o maior número possível de palestinos para saciar a sede de vingança, dez dias após a invasão de Al-Aqsa, ninguém se preocupou em corrigir a informação ou identificar o verdadeiro autor. E é isso o que Israel deseja.
Finalmente, chegamos à maior mentira que a entidade sionista propagou desde 7 de outubro: a decapitação de quarenta crianças. A mentira foi amplamente divulgada, ressoando em todos os países do mundo, nos lábios de presidentes, ministros e diplomatas, e gerou grandes manchetes nos jornais ocidentais. Quando se revelou ser pura calúnia, a mentira já havia cumprido o seu propósito.
Esta é uma guerra abrangente que Israel está travando para destruir o povo palestino, e não hesita em usar todos os meios vis e sujos para distorcer a imagem do povo palestino e justificar a sua morte. Os interessados não devem se cansar de divulgar os fatos, expor as falsidades e criminalizar quem repete a calúnia israelense.
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*Heba Ayyad,
Jornalista internacional,
Escritora Palestina Brasileira