BRASIL RACISTA: SÓ 7% DOS EMPREGOS SÃO DE MULHERES NEGRAS

Créditos: © Bruno Peres/Agência Brasil ----------------- Desigualdade de gênero até na transição energética: só 7% dos empregos são de mulheres negras ----------------- Uma pesquisa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) revelou que, mesmo com a transição energética, 86% dos postos de trabalho ainda são ocupados por homens brancos, que são melhores remunerados ----------------- por Letícia Cotta na Revista Forum ------- Uma pesquisa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) revelou que, mesmo com a transição energética, 86% dos postos de trabalho ainda são ocupados por homens brancos, que são melhores remunerados Os setores considerados fundamentais para a transição ecológica brasileira (geração de energia elétrica limpa e restauração ambiental) ainda reproduzem as desigualdades raciais e de gênero que marcam a estrutura social do país, de acordo com o estudo que será divulgado pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre em Belém (PA), nesta quarta-feira (19). As mulheres negras representam apenas 7% dos postos de trabalho no setor de energia limpa, e são piores pagas que os homens brancos, que são maioria. Os resultados do estudo demonstram que a composição nos setores segue liderada por homens brancos: 86% dos vínculos formais são de homens no setor de geração de energia limpa, e eles representam 69,3% dos postos formais na área de restauração ambiental. As pessoas negras são minoria na energia: apenas 31,2% dos vínculos formais são ocupados no setor de energia hídrica e, quando raça e gênero se cruzam, o dado fica mais aterrorizante, com apenas 7% dos vínculos na energia limpa e 6,2% na geração hídrica sendo mulheres negras. Na geração de energia limpa, 32,3% dos homens brancos ganham mais de cinco salários mínimos, contra 7,4% das mulheres negras. Mesmo nos setores mais bem remunerados (como energia fóssil e nuclear) o abismo permanece: 65,5% dos homens brancos recebem acima de cinco mínimos, enquanto menos de um terço das mulheres negras alcança essa faixa. Pessoas indígenas, então? São apenas 0,2% e 0,4% dos vínculos. Apenas 5,7% dos empregos superam cinco salários mínimos. E embora 30,7% das vagas sejam ocupadas por mulheres, um problema adicional preocupa: 20,6% dos vínculos não trazem identificação de raça, dificultando o monitoramento da equidade. ------------- Justiça climática passa por trabalho digno ------------ Uma estratégia nacional de transição energética só será justa se vier acompanhada de criação de empregos dignos, com renda adequada, segurança, proteção social e políticas explícitas de combate ao racismo e ao sexismo — transformando a equidade em prática cotidiana, não apenas em discurso. O diretor executivo do CEERT, Daniel Bento Teixeira, defende que a transição energética seja, também, palco de luta antirracista, já que as pessoas negras e indígenas são as mais afetadas e expostas à poluição e mudanças climáticas. "É necessário que além de justa a transição seja também antirracista. De nada adianta uma sociedade cuja economia seja de baixa emissão de carbono e outros gases de efeito estufa se as desigualdades permanecerem intocadas ou piores. A população negra é a que mais sofre com a poluição e consequências das mudanças climáticas, sendo a que menos contribui para o estado de coisas atual, e também a que mais sofre com soluções sem sua participação, a partir do racismo sistêmico e da branquitude, como instalação de parques eólicos sem consulta e com impactos em comunidades ou com a implementação de uma economia verde que a exclui da empregabilidade", explica Daniel Bento Teixeira. A organização defende a necessidade de legislação e políticas que consolidem o trabalho digno no coração das políticas climáticas. Sem isso, o Brasil corre o risco de modernizar sua matriz energética mantendo intactas as estruturas de desigualdade que marcam seu desenvolvimento histórico. -------------- Sobre o CEERT --------- O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) é uma instituição com mais de 30 anos de atuação dedicada à promoção da equidade racial e de gênero. O estudo integra o Radar CEERT, plataforma que reúne indicadores e análises sobre desigualdade e mercado de trabalho no país.