O silêncio criminoso sobre o roubo de 19 bilhões dos paranaenses


É incrível verificar como alguns setores da mídia paranaense ainda tem a cara de pau de tentar ressuscitar um nome que está ligado aos maiores escândalos financeiros – corrupção e roubo do dinheiro público – de toda a nossa história. O ex-governador Jaime Lerner vem recebendo nos últimos tempos elogios de alguns setores da imprensa paranaense. Elogios criminosos porque o ex-governador patrocinou, com a maioria de seus Secretários de Estado, um verdadeiro assalto aos cofres públicos, conforme podemos verificar com o Banestado, onde todos os paranaenses foram roubados, porque o Estado do Paraná paga mensalmente pela corrupção realizada, aproximadamente 52 milhões de reais, dinheiro que poderia ser investido em segurança, habitação, educação e saúde.
As atuais e futuras gerações de paranaenses estão pagando – e continuarão a pagar até 2029 – um roubo milionário de um banco que (até o governo Jaime Lerner) era banco sólido, com 70 anos de história, gerador de empregos e financiamentos para o progresso e desenvolvimento do nosso Estado.
O Banestado tinha cerca de 400 agências e 500 postos de atendimento. Sob o governo Lerner, rapidamente o Banestado começou a apresentar prejuízos oriundos de financiamentos fraudulentos e desvio de recursos para pagar campanhas políticas, conforme provas levantadas pela CPI do Banestado na Assembléia Legislativa do Paraná, reveladas à população na época pelo deputado Neivo Beraldin.
Após apresentar sucessivos prejuízos – quando na época os bancos apresentavam lucros astronômicos – o Banestado apresentou em 1998 um prejuízo de R$ 1,7 bilhão. Foi iniciado um processo de saneamento do banco, onde o governo federal injetou recursos da ordem de R$ 5,6 bilhões. Alguns meses depois (seguindo acordos possivelmente secretos com o Itaú), o banco foi vendido por R$ 1,6 bilhão e o povo do Paraná herdou uma dívida (paga com impostos dos contribuintes) de quase R$ 19 bilhões.
Durante os meses que se seguiram à “quebra” do Banestado, comprovou-se a existência de pequenas e grandes quadrilhas dilapidando o patrimônio público com a conivência ou cumplicidade das autoridades políticas da época, e com o silêncio criminoso da maioria dos órgãos de imprensa do Paraná, que se beneficiava dessa roubalheira através de propaganda massiva e milionária feita pelo governo da época, para silenciar sobre as denúncias que surgiam.
Para elogiar o governo Lerner na época, os veículos de imprensa recebiam publicidade milionária. Para se ter uma idéia do volume do dinheiro gasto em publicidade pelo Banestado, vamos lembrar que em outubro de 1998 o Banestado gastou com publicidade o valor de R$ 15.387.000,00, enquanto o Banespa gastou R$ 7.870.735,00 e o Banrisul R$ 5.085.224,17.
No ano de 2003 surgiram notícias de que o Banestado havia sido usado para que US$ 30 bilhões fossem retirados ilegalmente do País em pouco mais de cinco anos, o que determinou a criação da CPI na Assembléia Legislativa para apurar os desvios e roubalheiras. O então presidente do Banestado, empresário Manoel Campinha Garcia Cid respondeu a diversos processos na Justiça, tendo sido condenado em dezenas deles.
Esses fatos foram amplamente divulgados no livro “Histórias sobre Corrupção e Ganância”, de Wilson J. Gasino, um livro que foi praticamente boicotado pela mídia nativa, uma vez que mostrava a participação da imprensa – ainda que de forma indireta – como beneficiária dos escândalos do Banestado.
Apenas para citar uma das grandes operações que sangraram o Banestado, no dia 21 de maio de 1996 o Banestado liberou R$ 8 milhões para a construção do Shopping Aspen Park em Maringá. Em 1998, após a conclusão da obra, a Banestado Leasing vendeu a sua parte no empreendimento para a empresa Kadima, pertencente a Miguel Krigsner, na época proprietário do Grupo O Boticário, pelo valor de R$ 2.100.000,00. “Desta forma, o banco assumiu um prejuízo de R$ 5.900.000,00, sem falar nos juros e correção monetária do período decorrido entre a compra e a venda da participação no empreendimento. Além disso, pelo fato da obra já estar concluída, é óbvio que o seu valor teria de ser muito maior na época da venda, e não menor do que o que foi pago dois anos antes, na compra”.
E mais: “Mas a CPI apurou também a participação minoritária como capitalistas os empresários Moisés Bergerson, Artur Noêmio Grynbaun e Miguel Gellert Krigsner. Essa participação foi crescendo com o passar do tempo e existe a hipótese de que Amasta e Ghesti fossem apenas laranjas no negócio”.

Continua na próxima edição.

Artigo publicado na edição impressa do Jornal Água Verde desta semana.