DCM - Por Bruno Soares ---
A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu (CMFI) mal retornou do recesso parlamentar do mês de julho e novamente esbarra com o tema da corrupção pautando a agenda política da cidade. ----
Previsto para ser levado ao plenário durante reunião ordinária desta terça-feira (09), caberá à maioria simples dos parlamentares decidir se acolhe ou rejeita novo pedido de cassação apresentado contra o vereador Admilson Passos Galhardo (Republicanos).
Alvo de um pedido de investigação rejeitado em abril, sob o placar de seis votos favoráveis e oito contrários, o político volta a ser acusado de “rachadinha”, porém, quem encabeça esta segunda denúncia é o próprio ex-assessor supostamente envolvido no esquema.
Responsável por prestar assessoria de marketing para Galhardo ainda durante o período pré-eleitoral de 2020, Felipe Menger teve um áudio vazado em que afirmava ser “comum a prática de rachadinha dentro de muitos gabinetes” do legislativo. Além disso, afirmou devolver parte do seu salário para o parlamentar, bem como detalhou sua insatisfação diante das cobranças de Galhardo. À época, o ex-assessor não confirmou e tampouco rechaçou o conteúdo da conversa.
Passados pouco mais de quatro meses do episódio, Felipe justifica sua postura ao afirmar ter se sentido ameaçado por Galhardo. “Quando o áudio vazou e virou notícia, eu me senti ameaçado pelo vereador, por isso eu permaneci em silêncio. Quem tem família sabe como funciona. Atualmente estou fora do Brasil, conto com advogados que estão me orientando e estou disposto a colaborar para que a verdade seja completamente revelada”, declara Felipe Menger, sem revelar seu paradeiro.
Além do ex-assessor, o jornalista Ed Queiroz também assina o novo pedido de investigação contra Galhardo. “Este parlamentar persegue a imprensa, faz uso de mentiras para prejudicar qualquer pessoa que se coloque contra seus interesses. Diante das provas apresentadas pelo Felipe, é fundamental que os vereadores apurem o que de fato aconteceu e ainda acontece dentro do gabinete deste parlamentar”, defende o jornalista.
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Funcionária fantasma---
Responsável por abrir a denúncia, a acusação de que Galhardo manteria uma funcionária fantasma em seu gabinete figura como fato inédito da representação. “Ainda no período em que eu mantinha uma relação próxima com o Galhardo, eu soube do vereador que um homem chamado Aloir teria comprado uma vaga da assessoria por R$ 30 mil. Só que o Aloir não pôde assumir o cargo por não ser alfabetizado, por isso entrou seu filho, e, em seguida, sua esposa”, detalha Menger.
Procurado na tarde deste domingo (07), o vereador Galhardo confirmou a intenção de nomear Aloir Oliveira para ocupar uma vaga em seu gabinete, porém, ainda segundo confirmação do próprio vereador, o indicado terminou não sendo efetivado por não possuir escolaridade exigida pela Câmara.
Diante da impossibilidade de contratação de Aloir, a vaga passou a ser ocupada por seu filho, Bruno da Silva Oliveira. De acordo com informações do Portal da Transparência da Câmara de Foz do Iguaçu, a nomeação de Bruno se deu já no início do mandato de Galhardo, em 11 de janeiro de 2021. Em 4 de novembro, foi a vez de sua esposa, Fabiana Oliveira, ser alçada ao cargo “familiar”.
A denúncia de Felipe Menger e Ed Queiroz sustenta que a esposa de Aloir não cumpre expediente na Câmara. Na manhã desta segunda-feira (8), Fabiana não estava no gabinete de Galhardo.
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“Normal”---
Questionado sobre a rotina de Fabiana em seu gabinete, o vereador Galhardo se limitou a afirmar que é “normal”. “E também trabalho de campo, somos os recordistas de indicações e requerimentos. E ela faz parte deste trabalho”, pontuou.
Sobre a motivação que o levou a indicar três pessoas de uma mesma família para ocupar uma vaga de assessor em seu gabinete, Galhardo titubeou e não respondeu. “É de livre escolha. Não tenho nada com Aloir, não prometi cargo para ninguém”, afirmou, sem explicar sua ligação com Aloir e seus familiares.
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Rachadinha---
Para fundamentar a denúncia contra o vereador Galhardo quanto à suposta exigência de devolução de parte dos salários recebidos, Felipe Menger apresenta extratos bancários que indicariam a prática de “rachadinha”.
“Em setembro de 2020, o Denunciante Felipe recebeu os valores da remuneração do cargo de assessor, e transferiu metade em sua conta bancária no Banco Inter, conta esta que era utilizada para realizar os saques e repassar ao Denunciado. No mais, em sequência, até dezembro de 2020, a prática da divisão do salário de assessor a favor do Denunciado é praticada da mesma forma, ou seja, recebe-se o valor na conta do Banco do Brasil, transfere-se na conta do Banco Inter, e após, é realizado saque em espécie, o qual é repassado para o Denunciado”, diz a denúncia ao apresentar extratos de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2020, período em que Felipe estava lotado no gabinete do vereador Elizeu Liberato, por indicação de Galhardo.
Após a eleição de Galhardo, Felipe é nomeado novamente para o cargo de assessor parlamentar e a exigência da rachadinha por parte de Galhardo é retomada. “Após ser nomeado e assumir o cargo em questão, o Denunciado reuniu o Denunciante em seu gabinete e exigiu a devolução de metade de sua remuneração, alegando que necessitava dos valores para cobrir os gastos de sua campanha eleitoral, em um período de aproximadamente 4 (quatro) meses em razão de dívidas que contraiu”, sustenta a denúncia de Felipe Menger. Felipe permaneceu no cargo até abril, sendo exonerado após discordar de manter a devolução de parte de seu salário.
Procurado para comentar a nova denúncia de rachadinha, Galhardo afirmou ser vítima de perseguição. “Novamente tentam me arrastar para situações que não existem. Não há nenhuma irregularidade em absolutamente nada. O jogo dos bastidores é forte. Principalmente quando se declara independente. Sigo trabalhando com muita tranquilidade”, finalizou.
Dentre os pedidos formalizados na denúncia, os autores pedem a abertura da investigação e acesso ao sistema de câmeras do Legislativo. “Investigar a conduta do vereador Galhardo é dar a ele a oportunidade de comprovar sua inocência. A presença de uma servidora fantasma em seu gabinete pode facilmente ser rebatida por meio das imagens do sistema de videomonitoramento. Por qual motivo não apurar isto?”, questiona Ed Queiroz.