Uma reflexão sobre a interioridade perdida...
Essa mulher da foto, fantasiada de Copa do Mundo, não chora e nem sofre pelo país desigual que ela mora...Não chora reivindicando mais comida para todos, empregos, políticas de saúde, Educação e Cultura, Segurança, estradas de qualidade, pelo Meio ambiente do seu país que é (?) exuberante e está ferido e desmatado, etc. Ela chora porque lhe falta saúde mental, discernimento, falta-lhe eixo interno, chora por carência e por uma necessidade profunda de "pertencimento", e, daí, influenciada por seu whats up , onde ela pensa conviver, ser alguém, ter amigos, "pertencer", ela vai até contra a natureza dela e sai de casa, vai para porta de quartéis, grita, quebra, destrói. Lá, nesse mundo virtual, criou-se uma realidade paralela onde a verdade também é ficção ( fake news) e se troca de realidade, entrando/vivendo na realidade do poder dominante daquele espaço. Assim, várias pessoas vão na mesma onda, por isso são chamadas de manada, abduzidos. Desconectadas de si mesmas. E quando isso acontece sempre tem quem as "teleguiem", como um berrante controla uma manada. Pessoas fragilizadas e sem rumo, "atraem" para si, pastores, padres, mitos, youtubers, influenciadores, líderes políticos, coachs, fdps, sacanas, os cambau. Perder-se a si mesmo é a pior coisa que pode acontecer a um ser humano. Não há nada pior, o resto a conexão interna dá jeito. É pior do que perder filho(a), que é dolorido para K.....
Apesar dessas pessoas como um todo, mesmo com a bravata de fúria e poder que vemos nos filminhos que elas mesmas produzem ( a burrice, o fanatismo as fazem produzir provas contra si mesmas), elas precisam pagar os preços de suas escolhas ( detesto essa palavra tão moderna, pois, de fato não há ESCOLHA, pois não há PRESENÇA interna que exerça isso)....
Mas a Justiça é cega! E precisa ser, senão, tomamos decisões emocionais e, a punição, em alguns casos, pode servir de DESPERTAR, para essas pessoas que estão mortas, delirantes, embriagadas, e, terem a oportunidade de conhecer as rédeas de suas vidas, entregues em mãos estranhas. E dá exemplos: não se pode sair por aí depredando; devolvendo ao mundo o caos interno...
Tem gente que nem sabe da existência dessas rédeas da própria vida; o fio da meada perdeu-se há tempos. "Já não sou eu mais quem vive, é a influência externa que vive em mim, por mim". Quem não tem as rédeas da própria vida nas mãos, qualquer coisa pode ser colocada nessas mãos, inclusive armas e pedras.
Vários autores como Reich, Foucault, Paulo Freire, Guattari, Freud, Jung, Deleuze, Clarice Lispector, Rumi, Cecília Meirelles, Dercy Gonçalves, Leila Diniz, Gonzaguinha, Elke Maravilha, etc já falaram sobre perder-se a si mesmo e a reencontrar-se...
Estamos num momento em que é preciso sair à cata de nós mesmos, para cuidar-nos, tratar-nos, recuperar nossa saúde mental, civil, existencial... Sem isso, ficaremos à deriva como moradores de rua ( em dia de muita chuva e frio) mas, com casa para morar, dinheiro no banco e até título universitário. Mas sem interioridade...A mulher da foto chora por uma profunda saudade de si mesma, mas ela não sabe......
"E é como se eu despertasse de um sonho que não me deixou viver. E a vida explodisse em meu peito com as cores que eu não sonhei. E é como se eu descobrisse que a FORÇA esteve o tempo todo em mim. E é como se então, de repente, eu chegasse ao fundo do fim, de volta ao começo, ao fundo de mim, de volta ao começo..."
Gonzaguinha: "De volta ao começo".
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*Hercoles Jaci- Psicólogo clínico há 42 anos