As manifestações de racismo no JEPS revelam a escassez de políticas e práticas pedagógicas voltadas ao tema racial nas escolas e de respostas do Estado ------
Os Jogos Escolares do Paraná (JEPS) teriam sido palco de mais um caso de racismo. Estudantes do Colégio Estadual Padre Montóia, de Jardim Olinda, denunciam ataques de teor racista e xenofóbico de alunas de um time rival nas redes sociais.
De acordo com o relato de atletas da equipe de futsal feminino do Padre Mointóia, as agressões começaram no início dos jogos e continuaram ao longo do campeonato, ganhando contornos mais graves após a partida final.
Negra, uma das atletas, de 16 anos, conta: “recebi prints e vi no twitter elas falando da nossa cidade com frases como ‘time de roceiro’ e ‘jardim de flores murchas e podres’. Há também tuítes com as frases ‘o meu cabelo é natural’ e ‘nosso cabelo tem um alto valor’. Logo percebi que era pra mim, pois sou a única do time que tem cabelo crespo”, explica.
"Fiquei muito mal. Fui para os jogos com o intuito de me divertir, jogar, brincar (…). No momento tentei não ligar, mas não tem como. Já sofri muito bullying em relação ao meu cabelo, cor… e em pleno século XXI isso infelizmente ainda acontece. Minha família muito mal quando soube e me consolou. Espero que a justiça seja feita”, acrescenta.
A comunidade escolar, moradores(as) de Jardim de Olinda e autoridades repudiaram os episódios de racismo e xenofobia e prestaram solidariedade às atletas nas redes sociais.
Em nota , a prefeita de Jardim Olinda, Lucimar Morais, cobrou providências para punir os(as) envolvidos(as) e evitar situações semelhantes. “O esporte é um espaço para a confraternização, para o lazer e para a educação. Quando esses valores são deixados de lado e dão espaço para atitudes deste nível é lamentável. Acabamos de presenciar no fim de semana o episódio de racismo ao qual sofreu o jogador Vini Jr na Espanha e atos como este tem se repetido, e desta vez, as vítimas foram nossas atletas”, escreveu.
Pautar o racismo nas escolas é prioridade
Não se trata de um caso isolado. Em abril, também nos Jogos Escolares, estudantes – em sua maioria negros(as) – do Colégio Estadual Flauzina Dias, de Paranavaí, foram alvos de manifestações racistas e aporofóbicas (contra pobres) de torcedores(as) de escolas particulares em duas ocasiões, com expressões como “macaco” e “favelados”, dentre outras.
As manifestações de racismo no JEPS revelam a escassez de políticas e práticas pedagógicas voltadas ao tema racial nas escolas e de respostas do Estado às repetidas ocorrências.
Tratam-se de situações inadmissíveis em qualquer cenário, em especial nos jogos escolares, que deveriam ser marcados pelos valores de solidariedade e comunhão do espírito esportivo.
A secretária de Promoção da Igualdade Racial e Combate ao Racismo da APP, Celina Wotcoski, ressalta que o Sindicato tem se debruçado sobre o tema, além de cobrar da Seed que a Lei 10.639/03 – que versa sobre o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira – seja aplicada não apenas em datas pontuais, mas incorporada ao currículo de forma consistente.
“Nós, enquanto, APP-Sindicato orientamos os trâmites legais, como a denúncia às autoridades, e prestamos todo o auxílio necessário às vítimas. Mas precisamos unir forças, pois não basta uma ou outra pessoa trabalhar sobre o tema. Todos devemos estar preparados para conduzir nossos(as) estudantes e explicar que a prática racista e o racismo é crime”, finaliza Celina
A APP entrou em contato com a Secretaria de Estado da Educação para notificar os casos ocorridos e cobrar providências da organização dos Jogos Escolares.
A estudante agredida reforça que ataques de cunho racistas abrem feridas dolorosas e prolongadas, que só podem ser curadas com respeito e mudanças culturais profundas. “Antes de qualquer comentário desnecessário e preconceituoso, pense e reflita. Você pode matar alguém com esse seu comentário racista. Parem de se achar melhor por ser de outra cor ou por ter cabelo liso. Ninguém é melhor que ninguém”, finaliza.
---
APP-SINDICATO