Por Claudio Daniel ---
Lilith, deusa sumeriana, é citada no Talmud, no livro de Isaías da Bíblia e em alguns textos de Cabala como sendo a primeira esposa de Adão, criada, como ele, a partir do barro. Segundo a tradição judaica, que se tornou popular na Idade Média e perdura até os dias de hoje, Lilith era uma mulher sensual, independente, que não aceitava ser submissa a Adão: ela preferia, no ato sexual, ficar em cima do marido, e não embaixo dele. Repudiada por Adão, foi expulsa do Jardim do Éden e transformada em uma espécie de demônio, relacionada com a luxúria. Em seu lugar, surgiu Eva, a. segunda esposa de Adão, que seria submissa ao marido até convencê-lo a comer a maçã da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, desobedecendo à proibição de Javé, o Deus Pai ciumento, mesquinho, cruel e vingativo do Antigo Testamento. Eva torna-se, então, a responsável pela "queda do homem" e pelo "pecado original". Conforme diz o cientista da religião Alexandre Cumino, em seu livro "Pombagira, a deusa -- mulher igual a você" -- Lilith, Eva, Maria Madalena são aspectos da Deusa Mãe original, banida pelo preconceito de líderes religiosos misóginos. Cumino entende que o Sagrado -- chame-se Deus, Tao, Brahman ou Shunyata, já que está além dos nomes e das formas -- tem um aspecto masculino (yang) e outro feminino (yin), mas, ao longo dos séculos e milênios, esse aspecto feminino, ou a Grande Deusa, vem sendo esquecido ou ofendido, como sendo a Prostituta, a Vampira, a Esposa de Satã. No Ocidente, permite-se apenas o culto à Virgem Maria, apresentada como exemplo da mulher assexuada, submissa, "recatada e do lar". No Oriente, ao contrário, temos as Grandes Deusas hindus e budistas, como Lakhsmi, Parvati, Kali, Radha, Sita, Sarasvati, Tara Cittamani, e na tradição iorubá,Oxum, Iansã, Iemanjá, Nanã, Obá, a Pomba Gira e tantas outras, que são diferentes nomes ou aspectos de uma única Deusa Mãe, presente no universo, na natureza, dentro dos homens, das mulheres e outros seres vivos como a própria energia da criação (shakti), a sabedoria e a compaixão. VIVA LILITH, VIVA A POMBA GIRA!.