Publicado por Jessica Alexandrino - DCM ----- O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou uma movimentação “atípica” e “incompatível” nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o órgão de combate à lavagem de dinheiro, o militar fez transações milionárias com um ourives e um sargento que era seu subordinado, entre outras pessoas.
No documento obtido pela Globo, o Coaf disse ter encontrado indícios de “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente” e “transferências unilaterais que, pela habitualidade e valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade”.
Cid, que está preso sob acusações de fraude em cartões de vacina e conversas de teor golpista, ganhou defesa de seu advogado. Bernardo Fenelon alegou que “todas as movimentações financeiras do tenente-coronel, inclusive aquelas referentes a transferências internacionais, são lícitas e já foram esclarecidas para a Polícia Federal”. “Todas as manifestações defensivas são apenas realizadas nos autos do processo”, completou o criminalista.
Com uma análise das transações financeiras do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o Coaf registrou que ele movimentou R$ 3,2 milhões em sete meses, no período entre 26 de junho de 2022 e 25 de janeiro de 2023. Nesse espaço de tempo, o militar teve R$ 1,4 milhão em operações de débito e R$ 1,8 milhão em créditos. A remuneração dele como tenente-coronel é de R$ 26.239.
Uma das operações destacadas pelo órgão foi o envio de remessas de R$ 367.374 aos Estados Unidos, em 12 de janeiro deste ano, data em que ele e o ex-chefe do governo brasileiro estavam naquele país. Os dois deixaram o Brasil no fim de dezembro, antes que o mandato de Bolsonaro acabasse e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomasse posse.
“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, ressalta um trecho do relatório.
Joias recebidas por Jair Bolsonaro (PL) – Reprodução ------
Além dos valores das operações, o Coaf também sinalizou quatro pessoas que fizeram transações com Mauro Cid. Além do ourives e do sargento Luis Marcos dos Reis, que era subordinado dele e também está sendo investigado pela Polícia Federal, estão um tio da esposa do militar e um “caixeiro viajante”.
Sobre a operação feita por Cid e Reis, o documento pontuou: “Considerando a movimentação atípica sem justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se”.
Mauro Cesar Barbosa Cid foi preso preventivamente em um batalhão do Exército no último dia 3 de maio, quando foi alvo de uma operação da PF. A polícia investiga supostas fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de pessoas relacionadas a ele. Na função de ajudante de ordens, o militar cuidava das contas pessoas do então mandatário e de seus familiares.