Raul Carrion – 09.09.2023 ----------
No dia 9 de setembro de 1948, há exatos 75 anos, foi proclamada por Kim Il Sung a REPÚBLICA POPULAR DEMOCRÁTICA DA COREIA, coroando uma longa luta do povo coreano com o objetivo de expulsar os imperialistas japoneses do solo pátrio e reconquistar a independência nacional.
Essa luta teve um importante marco, em 1908, com a criação do movimento patriótico Voluntários Anti-japoneses, que chegou a contar com mais de 70 mil guerrilheiros, mas acabou derrotado, em 1910. A ele, se seguiram diversas outras rebeliões esmagadas com grande crueldade pelos japoneses. Em 1919, surgiu o Movimento Exército Independentista, que voltou a enfrentar de armas na mão os imperialistas nipônicos.
A resistência do milenar povo coreano atingiu um novo patamar com a criação por Kim Il Sung, em 1930, da Associação de Camaradas Konsol, formada por jovens comunistas, embrião do futuro Partido do Trabalho da Coreia. Em 1932 – já sob direção comunista –, teve início a “Guerrilha Popular Anti-japonesa” que se estendeu para diversas regiões, inclusive a Manchúria.
Em 1934, ela deu origem ao Exército Revolucionário Popular da Coreia. Nas áreas liberadas, foram organizados Governos Revolucionários Populares, unindo todas as forças anti-japonesas. No final dos anos 30, o ERPC sofreu fortes ataques, que o colocaram sob o risco de aniquilamento. Em 1938, sob o comando de Kim Il Sung, o ERPC teve de empreender a chamada Marcha Penosa, em pleno inverno, para escapar ao cerco. Após 100 dias de marcha, o grosso das tropas revolucionárias conseguiu chegar a Beidadingzi, região fronteiriça, rompendo ao cerco. A partir de então, a luta continuou sem tréguas.
Ao final da Segunda Guerra – após a rendição alemã – a luta prosseguiu contra o Japão, que continuava dominando diversos países, entre eles a Coreia. Antecipando-se à declaração de guerra da URSS ao Japão, o ERPC iniciou em 8 de agosto – véspera do ataque soviético – uma ofensiva em todo o país contra os japoneses, sublevando a população nas principais cidades e regiões. Em 15 de agosto de 1945, o Japão assinou sua capitulação incondicional. Imediatamente, o ERPC e outras lideranças patrióticas organizaram os Comitês Populares em toda a Coreia, os quais, reunidos em Seul, proclamaram no dia 6 de setembro de 1945 a República Popular da Coreia.
Desrespeitando a autodeterminação do povo coreano, os Estados Unidos desembarcaram suas tropas no Sul da Coreia e a ocuparam até o Paralelo 38, dissolvendo os Comitês Populares e prendendo em massa seus membros. Em seguida, impuseram o governo títere de Syngman Rhee, morador dos EUA há mais de 37 anos.
Ao norte do Paralelo 38, as tropas russas – que derrotaram os japoneses com a ajuda do ERPC – respeitaram os Comitês Populares criados pelo povo coreano. Em outubro de 1945, Kim Il Sung fundou o Partido Comunista da Coreia do Norte, que em 1946 uniu-se ao Partido Neo-Democrático, vindo a constituir o Partido do Trabalho da Coreia.
Em 8 de fevereiro de 1946, tendo por base os Comitês Populares existentes em todo o país, foi formado o Comitê Popular Provisório da Coreia do Norte – com a missão de levar adiante a revolução democrática anti-imperialista e antifeudal e unificar a Coreia– o qual elegeu Kim Il Sung como seu presidente. O caráter “Provisório” desse primeiro governo se deveu à preocupação de não cristalizar a divisão da nação coreana, como era o objetivo dos Estados Unidos.
De imediato, o Norte iniciou uma ampla Reforma Agrária, instituiu a igualdade de direitos entre homens e mulheres, decretou a jornada de 8h, expropriou e nacionalizou as empresas pertencentes a japoneses, pró-japoneses e traidores da nação. Os capitalistas patriotas e os pequenos e médios empresários tiveram seus bens respeitados. Com isso, a Coreia do Norte experimentou um rápido desenvolvimento econômico e social, enquanto o Sul era mantido no atraso e sob ditadura
Na Conferência de Ministros de Relações Exteriores da URSS e dos EUA, realizada em dezembro de 1845, em Moscou, ficou acertado que ambos os países trabalhariam pela formação de um governo provisório unificado e que se retirariam da Coreia assim que possível. Apesar das tropas soviéticas terem deixado a Coreia pouco tempo depois, os EUA ignoraram o acordado, reprimiram brutalmente todos os que defendiam a reunificação da Coreia e transferiram essa questão para a ONU – naquele tempo dominada por eles – criando uma Comissão temporária das Nações Unidas sobre a Coreia sem a concordância da URSS.
Em 15 de agosto de 1948, sob os auspícios do Gal. MacArthur, os EUA impuseram a criação, no Sul, da República da Coreia, com o objetivo de dividir permanentemente o país. Na ocasião, MacArthur ameaçou: “Esta barreira [o paralelo 38] deve ser derrubada e o será. Nada poderá impedir que o vosso povo logre a unidade em liberdade.” As prisões e os assassinatos que seguiram, contra todos que se opunham ao governo títere de Syngman Rhee, deixou claro a que tipo de “liberdade” se referia MacArthur...
Em resposta, o Norte realizou em 25 de agosto de 1948 eleições diretas para a Assembleia Popular Suprema – inclusive com a participação de representantes do Sul, eleitos clandestinamente – e constituiu em 9 de setembro de 1948 a REPÚBLICA POPULAR DEMOCRÁTICA DA COREIA, a qual elegeu Kim Il Sung como seu Chefe de Estado. Desde o primeiro dia, a RPDC proclamou o seu objetivo de reunificar a Pátria dividida.
De lá para cá, passaram-se 75 anos! A partir de então, a RPDC enfrentou todo o tipo de provocações e agressões – inclusive militares – dos EUA e de seus títeres na Coréia do Sul, o que acabou levando, em junho 1950, à chamada Guerra da Coreia. Nesta – enfrentando os até então “invencíveis” norte-americanos e mais 15 nações aliadas, em uma luta em que os EUA ameaçaram inclusive com o holocausto nuclear para evitar a sua derrota –, o povo coreano foi o vencedor, obrigando os agressores a firmarem, em julho de 1953, depois de pesadíssimas perdas, um armistício sem vitória. Como lamentou na ocasião o Gal. Omar Bradley: “Falando francamente, a Guerra da Coreia foi uma grande catástrofe militar, foi uma guerra errada, realizada no lugar errado, no momento errado e contra o inimigo errado.”
Apesar de ter tido 20% da sua população exterminada e sua economia gravemente abalada por essa guerra, a RPDC reergueu-se rapidamente, passando a ostentar altos níveis de desenvolvimento econômico, tecnológico e social. A RPDC nunca abriu mão da luta pela transformação do armistício de 1953 em um acordo de paz e pela reunificação pacífica da Coreia. Assim, em janeiro de 1972, Kim Il Sung afirmou: “Para eliminar a tensão na Coreia, é necessário substituir o acordo de armistício da Coreia por um acordo de paz entre o Norte e o Sul. Insistimos para que o Norte e o Sul concluam um acordo de paz e que as forças armadas do Norte e do Sul da Coreia sejam consideravelmente reduzidas, com a condição de que as tropas de agressão do imperialismo americano sejam retiradas da Coreia do Sul.” Essa mesma política de paz foi seguida por Kim Jong Il – após a morte de Kim Il Sung – e agora tem sido buscada por Kim Jong Un, que o sucedeu na liderança do Partido do Trabalho e à frente da RPDC.
Os EUA, porém, sempre se negaram a firmar qualquer acordo de paz e impediram por todos os meios qualquer avanço no sentido da reunificação pacífica da Coreia, aspiração tanto dos coreanos do Norte, quanto do Sul. Ao contrário, mantém as suas tropas na Coreia do Sul e a inundam de armas – inclusive nucleares –, transformando-a em uma base militar apontada contra a RPDC, a URSS e a China. A cada ano, promovem manobras militares com centenas de milhares de soldados e os mais destrutivos armamentos – inclusive nucleares –, simulando um ataque à RPDC.
Com a queda do Leste Europeu e a desagregação da URSS, que privaram a RPDC de apoio externo e golpearam fortemente as suas relações comerciais com o mundo – o que coincidiu com sérias perturbações climáticas no país – os EUA pensaram que havia chegado a hora de liquidar com a RPDC e intensificaram as provocações e o seu bloqueio econômico, financeiro e diplomático, com a cumplicidade da ONU.
Em resposta, a RPDC, ao mesmo tempo que manteve a defesa de sua política de paz, não se intimidou e fortaleceu a sua capacidade dissuasória, desenvolvendo armas nucleares e modernos mísseis, inclusive hipersônicos, expressão de sua avançada tecnologia.
Os EUA, que até hoje se negam a assinar a paz, querem que a RPDC se desarme unilateralmente, mas se chocam com a firmeza de sua liderança que – sabedora do destino que tiveram o Iraque e a Líbia, que cederam às pressões dos EUA, abrindo mãos de terem armas nucleares –, exige contrapartidas e garantias internacionais, antes de qualquer passo no sentido da sua desnuclearização.
Por isso, nessa data em que se comemoram os 75 anos da proclamação da RPDC, saudamos a sua vitoriosa construção socialista e a firmeza do Partido do Trabalho da Coreia e de seus líderes, convictos de que eles saberão levar a bom termo a luta contra o imperialismo estadunidense, por uma paz verdadeira e pela reunificação da nação coreana!"