por Camila Ribeiro ----
Primeiro sequestraram Julian Assange de dentro de uma embaixada de país soberano em pleno Reino Unido (país da Magna Carta),
mas e daí, né?,
o cara é mó esquisitão, só mostrava coisas horrorosas lá no Oriente Médio, tipo, crimes cometidos pelos EUA e tals, mas ora meu, pô, EUA é a terra dos livres e lar dos corajosos. E se Reino Unido carimba a extradição é porque é certo, é justo, e depois, a Rede Globo não viu nada de errado nisso, então tá tudo ok.
Depois executaram Shireen Abu Akleh,
jornalista palestina-estado-unidense, bem ali na Cisjordânia, em plena luz do dia, ela estava de capacete e colete de imprensa. Que mira fantástica desses soldados israelenses, acertaram bem no ponto dificílimo de acertar no pescoço, coisa de profissional das Forças Armadas Israelenses...
Tá louco, quem disse que as Forças de Defesa Israelenses (Israel apenas se defende, nunca ataca) executaria uma JORNALISTA?!
Nunca, jamais, isso é coisa do Hamas, palestinos, bárbaros.
Mas porque um palestino mataria uma jornalista palestina e conhecida por denunciar crimes de Israel contra os palestinos?
Ora, porque palestinos são bárbaros, ora pois.
Israelenses são crianças da luz, e palestinos são crianças das trevas e tals.
Depois Israel massacra milhares de palestinos em Gaza por quase 30 dias e contando. Bombardeia bebês, crianças, mulheres, idosos, civis, enfim (afinal, Palestinos não tem exército. Eles não têm nem água), Israel bombardeia edifícios todos civis, escolas, hospitais, maternidades, comboios de ambulâncias ... casas de jornalistas para matar o jornalista (mata a família inteira, exceto o jornalista que estava fora trabalhando).
Não Não Não
Israel mata apenas terroristas. Israel matou mais de cem terroristas do Hamas, pulverizou milhares de esconderijos subterrâneos do Hamas, caracas! Israel é foda! Em um mês eliminou 100 jornalistas, digo, sem crianças em Gaza, digo não tem mais crianças em Gaza, NÃO!
Israel eliminou 100 terroristas em Gaza.
Gaza não tem mais gaze, nem álcool, nem hospital, nem água.
Mas ainda tem terroristas, estão todos escondidos debaixo de escombros em Gaza.
Mas será que debaixo de escombros em Gaza tem esconderijo?
Debaixo dos corpos de quem está morto ou morrendo sem tem quem os tire de lá debaixo?
Sim, o Hamas é a criança das trevas, por isso é preciso bombardear tudo e tals.
Quem está debaixo dos escombros, chafurdando na carne sangrenta dos corpos mortos ou a morrer é o jornalismo que puxa saco de supremacista branco, de criminoso de guerra disfarçado de vítima.
Debaixo dos escombros está a humanidade inteira. Sem luz. Sem oxigênio.
Em 2011, Julian Assange fez um discurso no centro de Londres num ato do Occupy London.
No discurso Assange afirmou que nos últimos 50 anos a maioria das guerras começaram com mentiras propagadas pela mídia. Assange afirmou que os jornalistas e os grupos de imprensa responsáveis por propagar mentiras são tão responsáveis pelas guerras quanto os políticos e os exércitos. Jornalistas que propagam mentiras e seus veículos de imprensa são criminosos de guerra e deveriam ser punidos.
Julian Assange está apodrecendo em vida numa masmorra em Londres porque ele disse tão somente verdades que desvelam os maiores criminosos no mundo: gente que está lucrando com cada corpo massacrado em Gaza.
Assange está prestes a ser despachado para um buraco negro nos Estados Unidos porque aqueles profissionais que deveriam ser seus colegas trabalharam intensamente por 10 anos para matar a imagem humana dele para o público. É a mesma imprensa que nega humanidade aos palestinos e legaliza cada crime de Israel.
A imprensa que propaga mentiras e estupidifica o público ao ponto da desumanização deste é a imprensa que canibaliza jornalistas de verdade como Assange e como os jornalistas em Gaza que não são protegidos nem mesmo com colete e capacete de imprensa.
A imprensa canibal e carniceira é a imprensa que vende para seu público que o que ocorre na Palestina ocupada é algo complicado, é um conflito religioso, quando na verdade é tão somente o capitalismo sendo colonial e imperialista. É a imprensa que se nega a ser imprensa, é tão somente caixa-de-eco do Capital. É a imprensa que nega a luta de classes e por isso trata trabalhadores jornalistas como qualquer coisa, menos gente.
"Jornalistas" que defendem estados que praticam genocídio deveriam responder ao Tribunal Penal Internacional, mas é bem capaz de receberem prêmio "Faz a diferença".