Jornalões e economistas sustentam as estruturas de sabotagem das boas notícias. Por Moisés Mendes --------
Publicado por Moisés Mendes ---------
A melhoria nos níveis de emprego sempre foi uma notícia muito boa na França ou em Gana e Singapura. Mas o Globo informa na capa, ouvindo especialistas, que essa pode ser uma má notícia no Brasil.
O Globo pergunta e já sugere o alerta, que não traz novidades: “Analistas respondem: por que empregos batem recorde e o que isso tem a ver com inflação e juros?”
Folha e Estadão fizeram a mesma advertência esse ano, por mais de uma vez. Emprego em alta cria renda. Renda cria demandas. Demandas criam inflação. Só teremos juros baixos se não tivermos desajustes numa economia com inflação sueca de 4%.
Se houver desajuste na economia, e desajuste significa até a oferta de mais empregos, dizem eles, crescer passa a ser uma atrofia. A criação de empregos vai virando, segundo os especialistas recrutados pelos jornalões, um mal a ser combatido.
Como aconteceu quando do primeiro governo de Dilma Rousseff, que espalhou o terror do pleno emprego. Foi quando Delfim Netto perguntou, em meio ao desespero provocado pelo monte de gente empregada e pela melhoria de renda: alguns economistas acreditam que mulheres pobres querem voltar a usar shampoo Seda?
As mulheres do tempo de Dilma melhoraram a qualidade do shampoo que consumiam, como agora as mulheres que experimentaram a fila do osso, no governo Bolsonaro, experimentam bife de alcatra. Os economistas liberais entram em pânico.
Mesmo com os juros de Roberto Campos Neto, é inegável que PIB, emprego, renda e inflação estão em níveis razoáveis e, para muitos que não jogam contra, são até surpreendentes. Mas o desconforto dos economistas de direita é explícito, é público e alardeado. E rende manchetes.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central – Foto: Reprodução
Eles pagam o mico de dizer que a economia atrapalha ao não se adequar às suas teses. Porque o roteiro não era esse. O governo Lula não poderia ter dado certo. Eles tinham certeza de que não daria.
Tinham a convicção de que Bolsonaro iria virar um zumbi e de que Lula cometeria erros que o levariam ao fracasso, num cenário interno e mundial não muito amigável.
Nesse ambiente, seria tentada de novo a germinação de uma plantinha de centro. Devagar, testando nomes, a velha direita finalmente se livraria de Bolsonaro e de Lula, porque ambos teriam chegado à exaustão.
Mas Bolsonaro e o bolsonarismo estão vivos, o governo Lula não fracassou, apesar das sabotagens do Banco Central, da coação do Congresso e da gritaria das corporações de mídia.
E não existe nenhuma figura competitiva de centro. Não existe centro. Mas mesmo assim é preciso insistir em transformar todas as notícias boas em péssimas notícias, ao lado de alertas sobre o desmoronamento do arcabouço fiscal.
A velha direita e a extrema direita se misturam e se confundem, mas convergem no que importa. Devem manter Lula acossado, mesmo que a alternativa ‘moderada’ em construção venha a ser Tarcísio de Freitas, com suas escolas militarizadas e sua polícia recordista em mortes de pobres e negros. Não vamos falar de escrúpulos.
Se a produção continua crescendo, com aumento no nível de emprego e de renda, a realidade precisa ser desqualificada pelas teorias. É uma situação insuportável para especialistas pagos para que suas ideias esquemáticas se sobreponham à vida real.
É complicado aceitar que a combinação de teses, torcida e adivinhações nem sempre dá certo. Mas a direita tem a chance de seguir em frente em busca de saídas. Vem aí o fantástico e meteórico aventureiro, coach e influencer Pablo Marçal.
Até uma assombração dos picos da Serra da Mantiqueira pode ser vista como salvação por elites desamparadas, que nunca usaram shampoo Seda.