CONTANDO OS MORTOS EM GAZA

Gaza: Estudo do ‘The Lancet’ coloca número real de mortos próximo de 190 mil ------------ Contabilizando as vítimas indiretas do conflito por falta de mantimentos, destruição de hospitais, ataques a locais seguros e a falta de financiamento da UNRWA, uma estimativa “conservadora” aponta para 186 mil mortos, ou quase 8% da população do enclave. Estimativa surge numa altura em que o Congresso dos EUA procura bloquear o uso dos números do Ministério da Saúde de Gaza, que falam em 38 mil mortos. O número de mortos causados pela ofensiva israelita em Gaza deve ser próximo dos 190 mil, muito acima dos 38 mil reportados pelo Ministério da Saúde local, de acordo com uma estimativa publicada pela revista científica ‘The Lancet’. O estudo contabiliza os vários tipos de vítimas resultantes dos ataques israelitas, por oposição às mortes diretas reportadas mais frequentemente, e surge numa altura em que o Congresso norte-americano tenta bloquear o uso pelas autoridades dos EUA da contagem oficial de mortos. O estudo, publicado na passada sexta-feira por uma das revistas científicas de medicina com maior reputação a nível mundial, intitula-se “Contando os mortos em Gaza: difícil, mas essencial” e coloca como estimativa “conservadora” pelo menos 186 mil mortos causados pelos ataques israelitas no densamente povoado enclave palestiniano desde 7 de outubro. Colocando em perspetiva, tal representa 7,9% da população da Faixa de Gaza, isto usando como base os números de 2022, que apontavam para 2,375 milhões de habitantes.
A análise, que tem como coautor Martin McKee, um dos membros do Comité Internacional de Aconselhamento do Instituto Nacional de Políticas de Saúde de Israel, estima quatro vítimas indiretas por cada vítima direta dos ataques israelitas, um rácio visto como conservador, dada a média de três a 15 mortes indiretas por cada direta nos conflitos mais recentes por todo o mundo. Esta contagem indireta resulta da destruição de infraestrutura ao longo de toda a Faixa de Gaza, sobretudo de infraestrutura médica, pela falta de mantimentos, água e locais seguros, e pela retirada de financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), cuja receita foi largamente reduzida após as alegações infundadas das autoridades israelitas de cumplicidade nos ataques de 7 de outubro.
O artigo sublinha a dificuldade em que as autoridades de saúde locais, as únicas presentes na região com capacidade de contagem de mortos, têm operado nos últimos meses, mas relembra que os dados “são considerados fidedignos pelos serviços de inteligência israelitas, a ONU e a Organização Mundial de Saúde (OMS)”, isto apesar das tentativas repetidas pelas autoridades israelitas de descredibilizar os números. Segundo a última contagem pelo Ministério da Saúde local, os mortos em Gaza chegaram a 38.153 na manhã deste domingo, isto depois de o exército israelita ter matado mais 55 pessoas nas 24 horas anteriores, fazendo 123 feridos. Além destes números diretos, estima-se que mais de 10 mil pessoas estejam ainda presas debaixo dos escombros, algumas há meses. Em maio, a ONE avisou que pode demorar cerca de três anos a recuperar todos estes corpos, sendo que, em maio, 62% da infraestrutura do enclave estava danificada ou destruída.
O estudo do ‘The Lancet’ é publicado numa altura em que a câmara baixa do Congresso dos EUA votou favoravelmente a uma lei que impediria o Departamento do Estado de utilizar a contagem de mortos fornecida pelo Ministério da Saúde de Gaza. A medida reuniu apoio bipartidário, contando com os votos favoráveis de 62 representantes democratas e 207 republicanos, mas tem sido criticada como uma tentativa de “negação do genocídio”, como afirmou a representante democrata Rashida Tlaib.