Todos os crimes da extrema direita se transformam em controvérsias. Por Moisés Mendes

Deputado federal Alexandre Ramagem e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/ABR --------- por Moisés Mendes - DCM ------ Se novas gravações fossem encontradas no computador de Alexandre Ramagem, revelando uma conversa em que Bolsonaro determina devassa na vida Alexandre de Moraes, teríamos o quê? Teríamos mais uma questão para análise dos especialistas. Porque vivemos a hegemonia dos pensadores, operadores e palpiteiros do Direito aplicado nos pântanos da hermenêutica brasileira. Se Bolsonaro dissesse: quero saber tudo da intimidade de Moraes, da hora em que acorda até a hora de dormir. Se reafirmasse: preciso que Moraes seja grampeado, para que saibamos com quem conversa e o que conversa. Se Bolsonaro dissesse com quem deveriam falar dentro do governo para chegar às informações para amordaçar Moraes. Se essas falas existissem, seriam tratadas como tudo o que existe até agora. Como ingredientes para a receita de um bolo maluco sobre a tipificação de crimes. Teríamos páginas e páginas de especialistas nos jornalões debatendo se há como ver crimes nas ordens de Bolsonaro. Porque tem sido assim. Todo debate em torno de todos os crimes de Bolsonaro e do entorno de Bolsonaro passam pelo que é relativo, subjetivo, insinuado, sugerido. Porque é mágico, colorido e caleidoscópico o mundo dos especialistas do Direito. Se descobrissem um vídeo mostrando que Bolsonaro saiu um dia do Planalto e foi visto chegando ao Alvorada com o cavalo dourado das arábias embaixo do braço. Se o vídeo mostrasse Bolsonaro entregando o cavalo com as patas quebradas a Mauro Cid e determinando: vende o cavalo. Se achassem esse vídeo, teríamos uma mobilização de especialistas em torno da suposição de que Bolsonaro pode ou não ter participado da tentativa de venda do cavalo. Porque, alguém dirá, um cavalo com Bolsonaro é apenas um cavalo. Tem sido assim com o golpe, a partir da análise de todas as intervenções em que Bolsonaro pede que o golpismo avance. Só porque Bolsonaro não aparece, como o general Juan Zuñiga apareceu na Bolívia, com seus tanques diante do Palácio do Planalto no 8 de janeiro. Se Bolsonaro não estava lá, se não estavam os militares, se não havia nenhum tanque, que golpe é esse? Será assim agora, em torno do grampo feito por Alexandre Ramagem, que prova a participação de Bolsonaro, dentro do governo e no cargo de presidente, na tentativa de livrar o filho das investigações sobre as rachadinhas. Opa, prova o quê?, questiona o especialista. Tem sido assim porque todos, incluindo a grande mídia, oferecem a Bolsonaro o benefício da dúvida, ao convocar seus especialistas diante do que consideram controverso. Um benefício que poucas vezes foi oferecido a Dilma Rousseff, antes e depois do golpe de 2016, e a Lula, na caçada do lavajatismo e no encarceramento antes da eleição de 2018. Se está difícil chegar ao que chamam de provas robustas, para qualquer crime, em relação às joias, à fraude da vacina e à arapongagem, que controvérsias nos aguardam na hora em que o golpe será o crime em questão, a partir de eventuais indiciamentos. De que provas precisamos para concluir que o conselho de Braga Netto, recomendando persistência e fé aos manés no Alvorada, depois da eleição, não trata da organização de uma excursão ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida? Quem dos colegas de caserna irá confirmar que, ao se referir como “cagão” a Freire Gomes, então comandante do Exército, Braga Netto estava mesmo desqualificando um general que se negava a participar do golpe? Se o general estava saltando fora, o golpe estava em andamento? Estava apenas em cogitação? Não temos até hoje um indiciado entre os vampiros da pandemia que tentavam vender vacinas, além dos diretores da Prevent acusados formalmente pelo Ministério Público pela matança de velhinhos na clínica. Se está difícil chegar ao que chamam de provas robustas, para qualquer crime, em relação às joias, à fraude da vacina e à arapongagem, que controvérsias nos aguardam na hora em que o golpe será o crime em questão, a partir de eventuais indiciamentos. De que provas precisamos para concluir que o conselho de Braga Netto, recomendando persistência e fé aos manés no Alvorada, depois da eleição, não trata da organização de uma excursão ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida? Quem dos colegas de caserna irá confirmar que, ao se referir como “cagão” a Freire Gomes, então comandante do Exército, Braga Netto estava mesmo desqualificando um general que se negava a participar do golpe? Se o general estava saltando fora, o golpe estava em andamento? Estava apenas em cogitação? Não temos até hoje um indiciado entre os vampiros da pandemia que tentavam vender vacinas, além dos diretores da Prevent acusados formalmente pelo Ministério Público pela matança de velhinhos na clínica.