Chaves do poder sionista mundial – Centralização e concentração do capital

Andrés Piqueras [*] ------- Minha intenção neste texto é mostrar algumas chaves do Poder Sionista Mundial (PSM), enquanto personificação predominante do poder do capital nas últimas fases do modo de produção capitalista, até à atualidade. A dimensão do seu poder é de tal âmbito, facetas e alcance que é dificilmente concebível, estando muito para além do que a maioria das pessoas está disposta a assumir ou a dar crédito. Grande parte deste poder advém do próprio processo de centralização do capital (cada vez mais em menos mãos, por absorção de capital já acumulado – através de fusões ou aquisições) e de concentração do capital (de dimensão e tamanho cada vez maiores – à medida que o capital se centraliza, também se concentra), sob a forma de enormes conglomerados, o que faz com que o capital se concentre cada vez mais), sob a forma de grandes conglomerados empresariais transnacionais ou megacorporações. Na realidade, instituições globais. É por isso que penso que seria bom começar por analisar a relação do PSM com o mercado capitalista. Depois, pouco a pouco, entraremos nas esferas social, política e estratégica do poder, para ver que estão todas ligadas. Mas antes, uma introdução necessária para esclarecer mal-entendidos. ---------------- INTRODUÇÃO. Esclarecimentos preliminares ------ O sionismo é uma forma de supremacismo e de racismo, tal como reconhecido pela resolução 3379 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de novembro de 1975, que equiparava o sionismo ao racismo em geral e ao apartheid sul-africano em particular, apelando à sua eliminação (de extrema importância, embora em 1991, com o desaparecimento da URSS e sem contrapeso aos EUA na ONU, essa resolução tenha sido anulada pela resolução 4686). O sionismo não só apoiou o regime do apartheid na África do Sul, como desde o início, como veremos neste texto, esteve ligado ao nazismo, ao imperialismo e aos regimes ditatoriais e repressivos dos movimentos populares dos séculos XX e XXI, especialmente ligados aos EUA e às suas políticas “anti-subversivas”. Neste sentido, é proverbial como, num curto espaço de tempo, a extrema-direita mundial transformou o seu “ódio” anti-judaico num apoio total ao regime sionista. Por outro lado, a maioria absoluta dos que se dizem judeus no mundo não são semitas, mas de origem asquenazi, originários das terras setentrionais do Cáucaso, e que gradualmente se espalharam para o Ocidente, Ucrânia e Europa Central e Oriental. Apenas os poucos judeus que permaneceram na Ásia Ocidental ao longo da história são semitas (como os palestinos e muitos libaneses, sírios e jordanos). Os Falasha, da África Oriental, também o são. Outra importante minoria judaica não semita são os Sefarditas (ver Quadro 1). Muitos dos que se consideram como judeus por etnia não são judeus por religião e muitos outros não são sionistas. Em contrapartida, grande parte do sionismo global é encarnado por cristãos protestantes, muitos deles evangélicos, como se verá no texto.
Portanto, ser anti-sionista não tem nada a ver com ser anti-judeu, e muito menos com ser “anti-semita”, mas sim com opor-se ao domínio de uma potência mundial à custa dos povos, e muito especificamente, no caso da entidade sionista que se chama “Israel”, do povo palestino. Ser anti-sionista significa confrontar-se com esta ideologia supremacista, bem como com os crimes, o apartheid, a colonização e a exclusão que pratica. E também a sua agressão permanente em todo o planeta contra qualquer iniciativa ou movimento de libertação e emancipação coletiva. --------------- PRIMEIRA PARTE---- CENTRALIZAÇÃO EXTREMA DO CAPITAL E PODER MUNDIAL ------- Nesta primeira parte vou recorrer a alguns dados e mesmo a passagens inteiras que aparecem em diferentes links, que me dei ao trabalho de sintetizar para efeitos de ilustração e facilitação geral da compreensão do fenómeno [1]. Embora aparentemente, e é assim que aparece ao público, existam milhares e milhares de marcas a competir no mercado, na prática o processo de centralização do capital conduziu a que algumas gigantescas empresas-mãe sejam proprietárias de grandes empresas (marcas), que por sua vez são proprietárias de médias empresas, que por sua vez são proprietárias de muitas pequenas empresas, como num perverso jogo de bonecas russas. Todas as marcas de alimentos embalados, por exemplo, são propriedade de uma dúzia de empresas-mãe: Pepsi Co, Coca-Cola, Nestlé, General Mills, Kellogg's, Unilever, Mars, Kraft Heinz, Mondelez, Danone e Associated British Foods. Estas empresas-mãe monopolizam a indústria dos alimentos embalados, uma vez que praticamente todas as marcas de alimentos disponíveis são propriedade de uma delas (ver figura 1).
Estas 12 empresas estão cotadas na bolsa e são geridas por conselhos de administração em que os maiores accionistas têm poder de decisão. Quando olhamos para quem são estes grandes accionistas, encontramos outro grande oligopólio para além do oligopólio anterior (neste caso, um duopólio), uma vez que há duas empresas que estão consistentemente entre os maiores accionistas institucionais destas empresas-mãe: Vanguard Group Inc. e Blackrock Inc. Por vezes, estas mega-empresas partilham o controlo da empresa com uma terceira. Por exemplo, embora existam mais de 3.000 accionistas na Pepsi Co, as participações da Vanguard e da Blackrock representam quase um terço de todas as acções. Dos 10 principais accionistas da Pepsi Co., os três primeiros, Vanguard, Blackrock e State Street Corporation, possuem mais acções do que os restantes sete. Vejamos agora a Coca-Cola Co, o principal concorrente da Pepsi. Tal como no caso da Pepsi, a maioria das acções da empresa é detida por investidores institucionais, que são 3.155. Três dos quatro principais acionistas institucionais da Coca-Cola são idênticos aos da Pepsi: Vanguard, Blackrock e State Street Corporation. O acionista número um da Coca-Cola é a Berkshire Hathaway Inc (propriedade de Warren Buffet). Estas quatro mega-corporações – Vanguard, Blackrock, State Street e Berkshire Hathaway – são as quatro maiores empresas de investimento do planeta. Portanto, a Pepsi e a Coca-Cola são tudo menos concorrentes. E o mesmo acontece com as outras empresas de alimentos embalados. Todas elas são propriedade do mesmo pequeno grupo de accionistas corporativos. O oligopólio das mega-empresas de investimento acima referidas domina todos os outros sectores. Por exemplo, entre as 10 maiores empresas de tecnologia, encontramos: Apple, Samsung, Alphabet (empresa-mãe do Google), Microsoft, Huawei, Dell, IBM e Sony. Com elas temos a mesma configuração de boneca russa. Por exemplo, o Facebook é dono do Whatsapp e do Instagram. A Alphabet detém a Google e todas as empresas relacionadas com a Google, incluindo o YouTube e o Gmail. É também o maior criador do Android, o principal concorrente da Apple (ver figura 2).
A Microsoft detém o Windows e a Xbox. No total, quatro empresas-mãe produzem o software utilizado por praticamente todos os computadores, tablets e os chamados “smartphones” do mundo. Mas quem é o dono destas macro-empresas? Mais de 80% das acções do Facebook são detidas por investidores empresariais e (no final de 2021) os principais detentores institucionais são os mesmos da indústria alimentar: Vanguard e Blackrock. A State Street Corporation é o quinto maior acionista. Os quatro principais investidores institucionais da Apple são a Vanguard, a Blackrock, a Berkshire Hathaway e a State Street Corporation. Os três principais accionistas institucionais da Microsoft são a Vanguard, a Blackrock e a State Street Corporation. Se continuarmos a examinar a lista das marcas tecnológicas – empresas que fabricam computadores, smartphones, eletrónica e electrodomésticos – encontramos repetidamente a Vanguard, a Blackrock, a Berkshire Hathaway e a State Street Corporation entre os maiores accionistas. Quanto à “pluralidade” dos media em geral, a centralização do capital não deixa dúvidas: é quase inexistente. Seis grandes conglomerados transnacionais – ainda que todos sediados nos Estados Unidos – controlam 70% do “negócio global dos media”. São eles a Time Warner, a Disney, a NewsCorp (recentemente fundida com a 21st Century Fox), a NBC Universal, a Viacom e a CBS (as duas últimas poderão voltar a fundir-se em breve). “Um relatório dos Repórteres sem Fronteiras denunciava que, enquanto nos anos 80 havia cinquenta grandes empresas nos Estados Unidos que controlavam 90% do sector, hoje esse número está reduzido a seis” . Mapa (opcions.org) O que é ainda mais inquietante é que, por trás destes conglomerados, encontramos também os antigos mega-grupos de investimento como principais accionistas. As empresas deste seleto clube, que inclui bancos e fundos de investimento, são também os maiores acionistas das indústrias extrativas e de fornecimento de matérias-primas em geral. O mesmo se passa com a agroindústria de que depende a “indústria alimentar” mundial. Estes investidores institucionais detêm a Bayer, o maior produtor mundial de sementes; detêm também os maiores fabricantes de têxteis e muitas das maiores empresas de vestuário do mundo. São donos das refinarias de petróleo, dos maiores produtores de painéis solares (pelo que controlam tanto a “economia fóssil” como a que nos querem fazer crer que será “sustentável”) e das indústrias automóvel, aeronáutica e de armamento. São donos de todas as grandes empresas de tabaco e também de todas as grandes empresas farmacêuticas e institutos científicos. São também donos dos grandes armazéns e dos mercados online, como o eBay, a Amazon e o AliExpress. "A companhia aérea em que voamos é, na maioria dos casos, um Boeing ou um Airbus. E por detrás delas vemos novamente os mesmos mega-accionistas empresariais. Se quisermos procurar um hotel ou um apartamento através do Bookings.com ou do AirBnB.com, é a mesma coisa: são em grande parte propriedade dessas megacorporações. Se formos jantar fora e escrevermos uma crítica no Trip Advisor, é a mesma coisa. Os mesmos investidores estão no centro de todos os aspectos das nossas viagens. E o seu poder vai muito para além disso, porque até o querozene que alimenta o avião provém de uma das suas muitas empresas petrolíferas e refinarias. Tal como o aço com que o avião é fabricado provém de uma das suas muitas empresas mineiras”. Quem é o dono do mundo? Blackrock e Vanguard (climaterra.org) Outro exemplo pode ser encontrado no setor bancário (quadro 2).
Curiosamente, estes são dois dos bancos “espanhóis” que mais investem em armas e em projectos ambientais e extractivos altamente prejudiciais para numerosas populações em todo o mundo, violando todas as normas de responsabilidade social e “sustentabilidade”. Estão também entre os que têm laços mais estreitos com a entidade sionista sediada na Palestina. E quem são os maiores accionistas da Reserva Federal dos EUA? Em 2018, o Citibank era a instituição número 1 da lista, com 87,9 milhões de acções do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque, ou seja, 42,8% do total. O acionista número 2 era o JP Morgan Chase Bank, com 60,6 milhões de acções, o equivalente a 29,5% do total (tabela 3).
Em suma, os dois bancos controlavam em conjunto quase três quartos do capital social do maior banco regional do Sistema da Reserva Federal. Atrás deles já se regista uma queda acentuada das participações. O Morgan Stanley Bank possui 4,8 milhões de acções e a sua filial Morgan Stanley Private Bank 2,8 milhões de acções, o que representa uma participação conjunta de 3,7% no New York Fed. Podemos resumir dizendo que três mega-corporações – “Fundos de Investimento” – detêm ações maioritárias em 60% de todas as empresas do mundo: BLACKROCK, VANGUARD e STREET CAPITAL. Mas quem é que detém estas entidades monstruosas? Estas sociedades de investimento são, evidentemente, propriedade do seu próprio grupo de acionistas, que, o que é importante, são também proprietários uns dos outros. Todos eles são acionistas das empresas uns dos outros. Juntos, formam uma cúspide de propriedade muito pequena. Os investidores institucionais mais pequenos, como o Citibank, o ING e a T. Rowe Price, são propriedade de empresas de investimento maiores, como a Northern Trust, o Capital Group, a 3G Capital e a KKR. Estes investidores, por sua vez, são propriedade de empresas de investimento ainda maiores, como a Goldman Sachs e a Wellington Market, que por sua vez são propriedade de empresas ainda maiores, como a Berkshire Hathaway e a State Street. No topo da pirâmide – a maior boneca russa de todas – estão a Vanguard e a Blackrock. O poder destas duas empresas é difícil de imaginar. Não só são os maiores investidores institucionais em todas as grandes empresas do planeta, como também detêm os outros investidores institucionais nessas empresas, o que lhes confere um duopólio total. De acordo com a Bloomberg, até 2028, a Vanguard e a BlackRock deverão gerir coletivamente 20 milhões de milhões de dólares em investimentos. Nesse processo, serão donos de grande parte do planeta Terra (figura 3).
Sabendo isto, será que podemos realmente manter a mesma noção ingénua da tão proclamada “democracia”, “pluralismo”, “transparência”, “soberania do consumidor” ou “livre escolha” dentro do modo de produção capitalista; não será altura de perguntar realmente o que está por detrás de toda a série de slogans em que se baseia a sua superestrutura ideológica? Voltarei a estas questões no final do texto, depois de ter visto a segunda parte do mesmo. Para já, e na ordem de informação que se segue, vale a pena considerar que a Bloomberg se referiu à BlackRock como o “quarto ramo do governo”, devido à sua estreita relação com os Bancos Centrais. De facto, a BlackRock empresta dinheiro à Reserva Federal dos EUA e é o seu principal conselheiro. Dezenas de funcionários da BlackRock ocuparam altos cargos na Casa Branca durante as administrações Bush, Obama e Biden. A BlackRock também desenvolveu o sistema informático utilizado pelos bancos centrais. Vamos então dar o passo seguinte: quem é o dono da BlackRock? Eis algumas figuras proeminentes (o seu curriculum vitae é público, retirado da wikipedia) – o carácter sionista destas personagens, acrescento, é algo que espero que o texto torne claro devido às implicações das suas empresas): Larry Fink. Judeu sionista. É membro do Conselho de Administração da Universidade de Nova York (NYU) e do Fórum Económico Mundial, e copresidente do Conselho de Administração do NYU Langone Medical Center. Também faz parte dos conselhos de administração do Museu de Arte Moderna e do Council on Foreign Relations. Robert S. Kapito. Judeu sionista. Em 1988, fundou a BlackRock com Laurence D. Fink. Em 1992, a BlackRock separou-se da Blackstone e tornou-se uma empresa independente com interesses na gestão de investimentos em ações, participações privadas, imobiliário, liquidez e estratégias alternativas. Através da BlackRock Solutions, por exemplo, a empresa fornece serviços de gestão de riscos e de investimento empresarial a milhares de fundos e empresas bancárias. Robert Kapito é o seu Presidente e CEO, bem como Presidente do Comité Operacional Global. Além disso, é responsável pelas principais unidades operacionais, incluindo gestão e consultoria de acções, investimentos alternativos, análise quantitativa e de risco e BlaclRock Solutions. É também diretor da iShares Inc. Susan Wagner. Judia sionista. Depois da universidade, Wagner entrou para o banco de investimento Lehman Brothers, em Nova Iorque. Em 1988, Wagner e Ralph Schlosstein deixaram a Lehman para se juntarem ao Blackstone Financial Group, mais tarde BlackRock. Wagner ocupou vários cargos de topo na empresa que fundou: agente operacional, diretora de fusões e aquisições, diretora de investimentos e o segunda diretora executiva da BlackRock. Entre as empresas com que lidou contam-se a Quellos, a Merrill Lynch Investment Management e a Barclays Global Investors. Expandiu a empresa para a Ásia, o Médio Oriente e o Brasil. E depois de se ter afastado da linha da frente da BlackRock, continua a fazer parte do conselho consultivo da empresa. Em julho de 2014, foi nomeada directora da Apple Inc. Mas não são os únicos decisores, pois a BlackRock é detida por alguns accionistas gigantes. "Curiosamente, o maior deles é a Vanguard. E é aqui que a questão se torna mais obscura. "A Vanguard tem uma estrutura única que nos impede de ver quem são os verdadeiros accionistas. A elite que detém a Vanguard não quer que ninguém saiba que é proprietária da empresa mais poderosa do planeta. No entanto, se formos suficientemente fundo, podemos encontrar pistas sobre quem são esses proprietários” Quem é o dono do mundo? Blackrock e Vanguard (climaterra.org). Os seus principais accionistas só poderiam estar entre esses 0,001% da população mundial [2]. As famílias mais ricas do planeta. Sim, de facto, dentre elas os Rothschilds, a família DuPont, os Rockefellers, os Waltons, os Murdochs, a família Oppenheimer e a família Morgan. Chegou o momento de analisar o envolvimento de algumas destas famílias sionistas nos centros nevrálgicos do poder norte-americano e, com isso, a sua preponderância nas redes de poder mundiais. ------------------ SEGUNDA PARTE ---- A PENETRAÇÃO DE PODEROSAS FAMÍLIAS JUDAICO-SIONISTAS NOS CENTROS DE PODER DOS EUA ---- Hadwa e Domenech (2023)3, em quem me baseio principalmente para esta segunda parte (e a quem recomendo vivamente que siga a fim de aprofundar a informação aqui selecionada), falam da estreita interligação entre o papel histórico do “verdadeiro judeu”, a criação do poder imperial ocidental e a ascensão do sionismo. Este último como um “produto da fase imperial do capitalismo”, mas ainda mais protagonista da sua atual decadência e corrupção. Um produto cujo fabrico foi estimulado e apoiado pelas potências imperialistas que encontraram nesta ideologia o terreno fértil para os seus interesses hegemónicos, “apoiando incondicional e permanentemente a conversão da entidade no símbolo mais representativo de uma potência mundial, para além da sua incidência como nação” (2023: 83). Desde há séculos, a inserção da burguesia judaica nas redes financeiras e comerciais do capitalismo nascente, sobretudo no que respeita ao capital a juros usurários [4], proporcionou-lhe uma situação de relevância estrutural. Na sua fase inicial, o sionismo ganhou força na Europa graças às poderosas famílias judaicas que estiveram por detrás do movimento desde o início, tendo depois dado um salto para uma aproximação às potências territoriais mundiais. Assim se explica a tentativa frustrada de ligação ao Império Otomano entre o final do século XIX e o início do século XX. Ainda nessa primeira década do novo século, o movimento sionista aproximou-se do império dos czares russos, e depois, na década seguinte, tateou com sucesso o Império Britânico, ao qual em breve se associaria, oferecendo os judeus sionistas como agentes da Inglaterra e o futuro Estado de colonos judeus como Estado cliente do Império. A importância estratégica decisiva do Canal do Suez e o desenvolvimento do petróleo na região acabariam por inclinar a geoestratégia britânica a favor do sionismo, o que ficou expresso na Declaração Balfour (2 de novembro de 1917). Esta declaração anunciava o apoio britânico à criação de um “lar nacional” para o povo judeu na Palestina, que então fazia parte do Império Otomano. A Declaração foi incluída numa carta assinada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Arthur James Balfour, e dirigida a ninguém menos que o Barão Lionel Walter Rothschild, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha e Irlanda. “Não é por acaso que, nos primeiros 15 anos do século XX, uma grande potência colonial como a Grã-Bretanha, cuja economia colonial era gerida pela família Rothschild, apoiou a criação de uma entidade sionista no coração do Médio Oriente” (Hadwa e Domenech, pág. 58). Naquela época, a Grã-Bretanha seguia a nova estratégia moderna defendida pelo seu geógrafo Halford Mackinder, centrada na demonstração da importância da geografia (território) no domínio do mundo, daí a importância de estabelecer o controlo da Europa e da Ásia Central (além dos territórios coloniais da Ásia e da África), a fim de enfrentar a Rússia, a maior potência territorial do mundo, que tinha de ser quebrada e fragmentada para se apropriar das suas riquezas. Esta doutrina manteve-se válida até aos nossos dias, tendo sido sucessivamente atualizada, sendo a primeira a do discípulo americano de Mackinder, John Spykman, que propôs o estabelecimento de um cordão sanitário em torno da Rússia, que se estendia desde o centro da Europa até toda a Ásia limítrofe daquele imenso país, incluindo o seu extremo oriente. Este objetivo geo-estratégico traduzia-se na sua máxima: “Quem dominar a Europa de Leste comandará o Heartland. Quem governar o Heartland comandará a Ilha do Centro do Mundo. Quem governar a Ilha doCentro do Mundo comandará o Mundo”. A Ilha do Centro do Mundo não é outra senão a Eurásia e o seu Heartland é a Rússia, o fulcro entre as duas partes desse grande continente. Por isso, para o Eixo Anglo-Saxónico (Inglaterra e depois os EUA) e o PSM, impedir a consolidação da Eurásia como entidade política coordenada tem sido uma prioridade, um objetivo incontornável. Isto significa, antes de mais, e por todos os meios, incluindo várias guerras, separar a Europa da Rússia, e em particular os povos germânicos e eslavos, e colocá-los permanentemente uns contra os outros. Não é de estranhar que o Movimento Sionista, cada vez mais consolidado como Potência Sionista Internacional, tenha também estabelecido uma aliança com a Alemanha nazi na quarta década do século XX, que tomou a forma do ACORDO DE HAAVARA em 25 de agosto de 1933. Um “Acordo de Relocalização” entre as autoridades nazis e a Organização Sionista Mundial, mediado pela Federação Sionista da Alemanha, o Banco Leumi e a Agência Judaica para Israel. Nos termos deste acordo, cerca de 60.000 judeus foram transferidos para a Palestina, dotados de cerca de 100 milhões de dólares, enquanto os que não concordavam com os princípios de ocupação sionistas foram abandonados ao regime nazi [5]. Em compensação pelo seu reconhecimento oficial como únicos representantes da comunidade judaica, os dirigentes sionistas propuseram-se romper o boicote organizado por todas as organizações judaicas do mundo, lideradas pelas poderosas associações norte-americanas, e que afectava diretamente o Reich nascente. Também eram muito activos no Judenrat, os comités que controlavam os guetos e decidiam quem devia ser deportado. Todas as questões eram negociadas por Adolf Eichmann (o mesmo homem que, em 1942, na chamada Conferência de Wannsee, juntamente com Reinhard Heydrich, e após o início da derrota nazi na frente soviética, iria propor a “solução final” para os judeus não sionistas, ou seja, o seu extermínio), como viria a ser provado no seu julgamento em Jerusalém. O controverso “acordo de transferência” implicava que os nazis organizassem as viagens para que os judeus alemães chegassem à Palestina em navios com a bandeira da suástica. As SA organizam campos de treino para preparar a juventude sionista para a sua emigração, imprimem a sua propaganda e ajudam a divulgar o projeto e a organizar os acontecimentos. Mas voltando à aliança definitiva, consolidada até hoje, entre o sionismo e o eixo anglo-saxónico, e sendo a Ásia Ocidental o lugar de convergência entre a Europa, a Ásia e a África, é fácil compreender porque é que a Inglaterra decidiu estabelecer aí a entidade sionista, Não se tratava de razões históricas, étnicas ou bíblicas, mas de uma questão puramente geoestratégica, para criar um enclave que permitisse conter qualquer ameaça vinda da Ásia, sobretudo no caso de as revoluções soviéticas e chinesas, bem sucedidas, se estenderem ao chamado “mundo árabe”. A ideia era estabelecer uma base militar (sem constituição nem fronteiras definidas) para controlar o território e os seus recursos e, ao mesmo tempo, servir de fortaleza de vigilância e de barragem contra eventuais revoltas e/ou ameaças contra o Império. Uma entidade política, em suma, de ocupação e apartheid territorial, que se tornaria gradualmente o bastião ou torre de vigia avançada do Sistema Capitalista e do seu Império Ocidental na Ásia, permitindo também o controlo de África e, no interstício entre três continentes e dois mares, de uma boa parte dos fluxos mundiais. "As rivalidades e disputas inter-europeias sobre as colónias precipitaram as guerras mundiais e as revoluções, e transformaram-se na ‘questão colonial’. A primeira questão levou as principais figuras imperialistas a propor a ideia da criação de um Estado de colonos e de clientes judeus na Palestina, com o objetivo principal de bloquear a realização da unidade e da independência nessa importante região do mundo e de servir os interesses dos seus patrocinadores. Os acontecimentos da última parte do século foram propícios à criação de um consenso de opinião entre os imperialistas e políticos ocidentais, com a cooperação de milionários judeus ocidentais e de anti-semitas de todo o lado, a favor do sionismo e da emigração judaica para um Estado judeu na Palestina, bem como a favor da criação desse Estado. A interação de desafios e a persistência de problemas e questões alimentaram os planos imperialistas e levaram os acontecimentos a encontrar soluções à custa dos povos do Terceiro Mundo (...) [este conceito] respondeu às necessidades ocidentais emergentes na região após a abertura do Canal do Suez, a ocupação britânica do Egipto e a Primeira Guerra Mundial. A essência do pensamento estratégico britânico foi formulada num memorando do Estado-Maior do Departamento de Guerra: “A criação na Palestina de um Estado judeu para atuar como tampão, embora em si mesmo um Estado fraco, é estrategicamente desejável para a Grã-Bretanha”. Abdul Wahhab Al Kayyali, em The Historical Roots of the Imperialist-Zionist Alliance - Rebelion O mesmo autor, um pouco mais adiante, relata os pressupostos de um dos campeões do sionismo. "Discurso de Herzl no Primeiro Congresso Sionista: ”O interesse das nações civilizadas e da civilização em geral no estabelecimento de uma estação cultural no caminho mais curto para a Ásia está a crescer. A Palestina é essa estação e nós, os judeus, somos os portadores da cultura que estamos prontos a dar os nossos bens e as nossas vidas para realizar esta criação“ (...) Herzl estava confiante de que as potências imperiais europeias utilizariam a influência judaica organizada para combater os movimentos revolucionários e outros factores internos”. É por isso que o Império Ocidental no seu conjunto acabaria por apoiar esses objectivos, até aos dias de hoje. Daí o entrelaçamento inseparável do sionismo e do imperialismo (que inclui, sempre que necessário, o fascismo global, uma vez que o sionismo é apenas uma forma de fascismo). Tudo isso levou a questão judaica a uma dimensão imprópria, que pouco tem a ver com o próprio povo judeu. Tanto mais que se inseriu no novelo de poder daquela que viria a ser a primeira potência mundial após a Segunda Grande Guerra: os Estados Unidos. Este último passo foi precedido pelo intenso trabalho das famílias judeu-sionistas desde o século XVIII. Mas foi só em 1845 que o Movimento Sionista Mundial iniciou uma política de inserção nas redes de poder dos Estados Unidos. Desta forma, o seu poder tornar-se-ia também global. Nas décadas de 1940 e 1950, financeiros e comerciantes judeus imigrantes da Europa começaram a estabelecer um importante grupo de casas bancárias nos Estados Unidos, principalmente com capital alemão. Todas elas tinham em comum o facto de estarem associadas, de uma forma ou de outra, à família Rothschild, e acabariam por tecer “uma densa rede de relações” (Hadwa e Domenech, 2023: 88), não só económicas mas também familiares. Foi a figura de August Belmont, agente da família Rothschild, que acabaria por dar coesão a esta rede, através da firma August Belmont & Co. que se dedicaria a operações cambiais, empréstimos comerciais e privados, transacções empresariais, ferroviárias e imobiliárias e, mais importante ainda, contribuindo para a criação do império económico Morgan. Inicialmente associada aos Rothschild na banca britânica, começou a sua atividade nos Estados Unidos com a venda de armas (aparentemente em mau estado) ao Norte durante a Guerra Civil. Os Rothschild também apoiaram os banqueiros judeus alemães Kuhn, Loeb e Seligman, que, ao emigrarem para os EUA, criaram o banco J. & W. Seligman & Co., que participou no financiamento de caminhos-de-ferro, na construção do Canal do Panamá, bem como na formação da Standard Oil e da General Motors. Outra família bancária judaico-alemã, os Warburgs, tornou-se-ia sócia da Kuhn, Loeb & Co. e veio a dirigir a Wells Fargo & Co. e o Bank of the Manhattan Company. A Kuhn, Loeb & Co. assumiru o controlo da Western Union e da Westinghouse, bem como de vários caminhos-de-ferro. A família Lehman, por seu lado, criou o seu Lehman Brothers Bank, que no início do século XX se associou à Goldman, Sachs & Co. e que teve a reputação de escolher para si os cargos de secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Já em 1913, cinco famílias judeu-sionistas assumiram o controlo da Reserva Federal. São elas as famílias ROTHSCHILD, ROCKEFELLER, KUHN-LOEBS, GOLDMAN SACHS e LEHMAN. A Reserva Federal (FED), o Banco dos Bancos, ao contrário dos Bancos Centrais na Europa e noutras partes do mundo, é uma entidade privada que empresta dinheiro a outros Bancos, controla as taxas de juro, a cunhagem de moeda e tem o direito exclusivo de emitir notas de banco. O controlo da Fed permite, portanto, controlar a economia dos EUA, que é o verdadeiro poder do país (ver caixa 4). À medida que esta formação sócio-estatal se tornou o hegemon mundial, estas famílias passaram também a controlar a alta finança internacional, o que lhes deu desde então uma enorme capacidade de controlar os destinos económicos e, portanto, políticos do mundo, numa colossal concentração de poder sem precedentes. A partir destas raízes floresce o Poder Sionista Mundial (PSM).
"A criação da Reserva Federal fundiu o poder das famílias que a dominavam com a força militar e diplomática do governo dos Estados Unidos. Se os seus empréstimos estrangeiros não fossem reembolsados, os oligarcas podiam agora enviar fuzileiros navais americanos para cobrar as dívidas” (Hadwa e Domenech, 2023: 93). A expansão imperial dos Estados Unidos proporcionou a base de engate a outros “impérios económicos”, como o dos Du Ponts (enquanto se estima que os Rothschilds obtiveram mais de 100 mil milhões de dólares de lucros na Primeira Guerra Mundial). A ampliação da esfera financeira e a transformação do dinheiro convertível em ouro em mero papel, nos anos 30, aumentaram ainda mais este poder. A partir de então, estas famílias estão também por trás da eleição dos principais responsáveis governamentais e mesmo dos presidentes, bem como dos organismos que controlam a política monetária e as instituições de crédito locais e mundiais (chefes do Tesouro, secretário do Comércio, diretores do Banco Mundial e do FMI, da OCDE, etc). O seu poder é decisivo nas megacorporações transnacionais mais poderosas do mundo, no G7, no Fórum Económico Mundial ou no Fórum de Davos, que moldam a política mundial e dão orientações à maioria dos governos do mundo, bem como às instituições mundiais, públicas ou privadas. Outros pilares do seu poder, como dizem Hadwa e Domenech, são os consórcios petrolíferos e tecnológicos, bem como as armas, “através de infinitas redes e vasos comunicantes, cuja expressão máxima de desenvolvimento se concentra no Complexo Industrial Militar dos EUA” (pág. 98). Têm uma influência decisiva nos conglomerados dos media e do entretenimento, pois estão no ápice da sua centralização como já vimos na primeira parte, na indústria cultural e artística em geral, nas organizações sociais, empresariais e profissionais, nas fundações e ONGs (ver quadro 5), cuja influência, por sua vez, se expande por todo o mundo. Em suma, estas famílias constituem uma grande parte da força militar, económica, sociocultural e diplomática dos EUA, são a potência credora mundial e controlam em grande parte a circulação monetária mundial.
“O poder sionista é, portanto, de facto, uma rede extensa e complexa de indivíduos e organizações interligados e em interação, cujo objetivo é influenciar direta e sistematicamente a política externa dos principais países imperialistas para apoiar a entidade sionista, e particularmente a dos Estados Unidos” (Hadwa e Domenech, 2023: 100). Muitos dos grandes magnatas empresariais dos EUA estão por trás desta potência mundial sionista, como doadores directos ou financiadores. Também muitos no Congresso, no Senado e em posições estratégicas chave, como os Departamentos do Tesouro e do Estado, o Pentágono, o Conselho de Segurança Nacional e a própria Casa Branca. Algumas das organizações sionistas nos EUA: B'nai B'rith (1843; apenas para a população judaica) B'nai B'rith Women (1909). B'nai B'rith Youth Organization (1944) Jewish Women International (1995) Liga Anti-Difamação contra o anti-sionismo (1914; que teve sua réplica anos mais tarde – 1927 – na Liga Internacional contra o Sionismo e o Anti-Semitismo em França). Organização Sionista da América (1897; filial da Organização Sionista Mundial até 1993, quando foi oficialmente criado o Movimento Sionista Americano). Movimento Sionista Americano (1993) Congresso Judaico Americano (1918) Conselho Sionista Americano American Israel Public Affairs Committee (1959; mantém geralmente um apoio direto ao Likud. O seu comité executivo inclui todos os membros da Conferência dos Presidentes). Todos eles são constituídos como grupos de pressão, comités de ação política, grupos de reflexão e grupos de observação dos meios de comunicação social (uma lista mais completa pode ser encontrada no Anexo II do Apêndice, enquanto o Quadro 6 apresenta algumas das interligações sionistas dos EUA).
A tudo isto há que acrescentar o sionismo evangélico (cristão), como por exemplo: Moral Majority (1979) Embaixada Cristã Internacional de Jerusalém (1980) Fellowship of Christians and Jews (1983) Conselho de Investigação da Família Coligação da Unidade Nacional para Israel (1991) Christian Friends of Israeli Communities (1995)  Especialmente posicionada contra os Acordos de Oslo Cristãos Unidos por Israel (2006) Na Cimeira Judaico-Evangélica de Jerusalém (2003), os principais líderes da extrema-direita israelense e da extrema-direita religiosa e militar dos Estados Unidos foram mais uma vez associados ... “para coordenar a sua política comum”. ---------------- Entre os principais “Think tanks” sionistas: Pilgrims Society (1903), ramo americano da sociedade criada na Inglaterra um ano antes. Recebeu contribuições substanciais dos trusts das famílias Morgan, Rockefeller, Carnegie e Lazard Brothers. Round Table (1909) Royal Institute of International Affaires (1920), Londres Council of Foreign Relations (1921) Aspen Institute (1949) Foreing Policy Research Institute (1955) Hudson Institute (1961) Washington Institute for Near East Policy (1985) Center for Security Policy (1988) Gatestone Institute (2008)
Com todos estes antecedentes, voltamos agora à questão com que terminámos a primeira parte deste texto: de que “democracia”, “direitos” e “mercado livre” estamos a falar no mundo capitalista? E, ligado a isto, indo à especificidade da questão em causa, poderá alguém surpreender-se com o facto de a política dos EUA, e portanto do Império Ocidental no seu conjunto, estar diretamente envolvida na manutenção da sua entidade sionista-colonial na Ásia, a sua delegação imperial? Poderemos agora compreender claramente por que razão goza de absoluta impunidade para, entre outras coisas, não cumprir uma única resolução da ONU (ver quadro 8), ocupar territórios, praticar o apartheid, cometer assassínios em massa, cometer crimes de guerra (neste momento três reconhecidos pela ONU: genocídio, limpeza étnica e punição colectiva)? Este posto avançado do Império na Ásia tem licença para tudo isto, porque as instituições mundiais, sejam elas económicas, diplomáticas ou jurídicas, estão sob o controlo do Império, e dentro dele, do Poder Sionista Mundial. Caixa 8: Algumas das mais importantes resoluções da ONU nunca cumpridas pela entidade sionista 1948: Resolução 194 da Assembleia Geral, que reconhece o direito de regresso dos refugiados árabes e das pessoas deslocadas. 1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança. Apela à retirada israelita dos territórios ocupados. 1967: Resolução 253 da Assembleia Geral, que exige que Israel se abstenha de “tomar qualquer medida que possa alterar o estatuto de Jerusalém”. 1974: Resolução 3.236 da Assembleia Geral, que reconhece os direitos inalienáveis do povo palestino e apela ao regresso dos refugiados às suas casas. 1975: A Resolução 3379 da Assembleia Geral da ONU descreve o sionismo como uma forma de racismo. 1978: A ONU declara o dia 29 de outubro como dia internacional de solidariedade com o povo palestino. 1979: A Resolução 446 do Conselho de Segurança da ONU exige que Israel desmantele os seus colonatos nos Territórios Ocupados. 1980: A Resolução 478 do Conselho de Segurança da ONU declara que qualquer tentativa de Israel de alterar o estatuto de Jerusalém será considerada “nula e sem efeito”. 1992: Resolução 726 do Conselho de Segurança, que condena Israel por deportar 12 palestinos dos territórios ocupados (embora esta medida também viole a Convenção de Genebra). O direito de regresso dos refugiados e das pessoas deslocadas (70% da população palestina) é igualmente reconhecido pelas resoluções 2.252, 2.452, 2.535, 2.672, 2.792, 2.963, 3089, 3.331 e 3.419 da Assembleia Geral. Enquanto as resoluções 242, 338 e 425 do Conselho de Segurança exigem a retirada israelense dos Territórios Ocupados. Fonte: elaboração própria Já em 1918, o Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, apresentara ao Congresso 12 pontos para a criação da entidade sionista na Palestina, aceitando mais tarde a Declaração de Balfour. Em 1922, ambas as câmaras do Congresso aprovaram a Resolução Lodge-Fish, que apelava à criação de um “Lar Nacional Judaico” na Palestina. Esta resolução levou à assinatura com a Grã-Bretanha, em 1925, de um Tratado que visava “considerar qualquer tentativa de negar o direito do povo judeu à Palestina (Eretz Israel) e de lhe negar o acesso e o controlo sobre a área designada para o povo judeu pela Liga das Nações como uma violação acionável tanto do direito internacional como da Cláusula de Supremacia [dos Estados Unidos]...” (Hadwa e Domenech, 2023:119). Em 1924, o Johnson-Reed Act ou National Origins Act foi aprovado nos EUA para limitar a entrada de pessoas oriundas do sul e do leste da Europa, de onde provinha a maior parte da população judaica proletária, por um lado, para assegurar e “clarificar” a predominância da componente anglo-saxónica na população dos EUA (europeus transplantados) e, por outro, para incentivar a emigração judaica para a Palestina em ricochete. Hoover, em 1931, restringiria ainda mais estas entradas (o que mostra, aliás, que o interesse da maioria dos judeus, como mais tarde se tornaria evidente com o Acordo de Haavara na Alemanha nazi, não era ir para a Palestina, mas, em todo o caso, para o novo centro do mundo capitalista). Em 1948, Truman foi o primeiro presidente a reconhecer, apenas 11 minutos após a sua proclamação como entidade estatal independente, a entidade sionista. Entre 1949 e 1965, recebeu 7 mil milhões de dólares do Império. De 1966 a 1970, recebeu 63 milhões de dólares por ano. Em 1971, essa soma subiu para 634,5 milhões de dólares (85% para assistência militar), aumentando mais de cinco vezes após a guerra do Yom Kippur, em 1973. O regime sionista é o maior beneficiário cumulativo da ajuda externa dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1990, a entidade sionista recebeu cerca de 92 mil milhões de dólares, mais de 2/3 dos quais provenientes dos EUA, e depois da Alemanha e do Poder Sionista Mundial. Tem também o privilégio de receber empréstimos dos bancos comerciais mundiais a taxas de juro mais baixas do que no resto do mundo. Assessoramento, tecnologia militar, acesso aos segredos da NATO, proteção diplomática contra tudo o que ela faz, são algumas das “transferências” ou “apoios” que a primeira potência imperial também fornece à entidade sionista. Esta é, de facto, uma entidade assistida de facto, inviável por si só, uma verdadeira base militar para a qual o Império Ocidental gasta enormes recursos económicos, energéticos e diplomáticos, para que possa continuar a existir apesar de todas as suas atrocidades. Contudo, a narrativa da vitimização judaica para perpetrar todo o tipo de crimes, o “capital moral” que foi utilizado para tentar justificar esta monstruosidade, à custa dos milhões de judeus não sionistas que foram sacrificados pelo nazismo (e pelo próprio sionismo), está a esgotar-se, está a esgotar-se rapidamente, à medida que o horror do que esta entidade autodenominada “Israel” está a fazer ultrapassa todos os limites e cruza todas as linhas vermelhas da decência, degradando cada vez mais toda a humanidade para o poço da ignomínia e da barbárie. E isto não começou no passado dia 7 de outubro, quando a resistência palestina atacou os invasores do seu próprio território (os seus ataques centraram-se no território considerado palestino pela ONU, em 1948), ilegalmente ocupado pela entidade sionista e pelos seus colonos armados. A entidade sionista e os seus colonos armados. A expropriação, o massacre e a exploração do povo palestino têm séculos de preparação e de perpetração de agressões e pilhagens, que se têm intensificado pelo menos desde 1948, uma vez que a população palestina sofre desde então a ocupação ilegal de cada vez mais partes do seu território, a demolição de casas, a remoção ou destruição de terras agrícolas, assassinatos de dezenas de milhares de pessoas e prisões arbitrárias de outros milhares, incluindo muitos menores (sim, menores presos sem culpa formada – que os nossos media, convenientemente guiados pelo PSM, não consideram “reféns”), confinamento à vontade do invasor, muros nas suas próprias localidades, separação forçada de famílias, impedimento de acesso à água, etc., etc. ... e um longo etcétera. Eis um mapa do processo de invasão-ocupação levado a cabo pela entidade sionista.
Ações que não podem ser justificadas em caso algum, a não ser pelo pensamento mais aberrante, alegando um suposto “direito de defesa de Israel”, uma vez que a ONU não reconhece esse direito à potência invasora que ocupa ilegalmente um território, como é o caso do sionismo, enquanto a resolução 3070 da ONU reconhece o direito da população ocupada a defender-se por todos os meios. Anexo 2: Conferência de presidentes das principais organizações judías dos EUA. Organizações membro 1. Ameinu 2. American Friends of Likud 3. American Gathering/Federation of Jewish Holocaust Survivors 4. America-Israel Friendship League 5. American Israel Public Affairs Committee 6. American Jewish Committee 7. American Jewish Congress 8. American Jewish Joint Distribution Committee 9. American Sephardi Federation 10. American Zionist Movement 11. Americans for Peace Now 12. AMIT 13. Anti-Defamation League 14. Association of Reform Zionists of America 15. B’nai B’rith International 16. Bnai Zion 17. Central Conference of American Rabbis 18. Committee for Accuracy in Middle East Reporting in America 19. Development Corporation for Israel/State of Israel Bonds 20. Emunah of America 21. Friends of Israel Defense Forces 22. Hadassah, Women’s Zionist Organization of America 23. Hebrew Immigrant Aid Society 24. Hillel: The Foundation for Jewish Campus Life 25. Jewish Community Centers Association 26. Jewish Council for Public Affairs 27. The Jewish Federations of North America 28. Jewish Institute for National Security Affairs 29. Jewish Labor Committee 30. Jewish National Fund 31. Jewish Reconstructionist Federation 32. Jewish War Veterans of the USA 33. Jewish Women International 34. MERCAZ USA, Zionist Organization of the Conservative Movement 35. NA’AMAT USA 36. MCSK» Advocates on behalf of Jews in Russia, Ukraine, the Baltic States & Eurasia 37. National Council of Jewish Women 38. National Council of Young Israel 39. ORT America 40. Rabbinical Assembly 41. Rabbinical Council of America 42. Religious Zionists of America 43. Union for Reform Judaism 44. Union of Orthodox Jewish Congregations of America 45. United Synagogue of Conservative Judaism 46. WIZO 47. Women’s League for Conservative Judaism 48. Women of Reform Judaism 49. Workmen’s Circle 50. World ORT 51. World Zionist Executive, US 52. Zionist Organization of America Esta informação pode ser encontrada em James Petras, Las bases locales y estatales del poder sionista en EE.UU., Rebelión. [1] Elas podem ser encontradas nomeadamente em ¿Quién es el dueño del mundo? Blackrock y Vanguard (climaterra.org) [que, por sua vez, retira do MAGNÍFICO DOCUMENTÁRIO “MONOPOLY - WHO OWNS THE WORLD?” - Tim Gielen 29 (2021) - legendado em inglês por Vari3dad3S (odysee.com), que pode ser recomendável seguir por alguns dos dados que fornece, mas não pelas suas conclusões conspiratórias e, claro, anticomunistas]. Outros links: Goldman Sachs, el banco que gobierna el mundo | Economía | EL PAÍS (elpais.com); Los verdaderos amos del mundo según Germán Vega Lombardía (youtube. com); A EMPRESA que CONTROLA O MUNDO em segredo graças à sua colaboração (youtube.com); ELES CONTROLAM O MUNDO (com o seu dinheiro) - BlackRock e Vanguard (youtube.com); (1049) As 10 empresas que controlam tudo o que você consome. - YouTube; As 7 empresas que controlam 70% dos media do mundo (youtube.com) [2] Em 2016, a Oxfam informou que a riqueza combinada do 1% mais rico do mundo era igual à riqueza dos restantes 99%. Em 2018, foi relatado que as pessoas mais ricas do mundo ganharam 82% de todo o dinheiro ganho em todo o mundo em 2017. Ver também: As sete famílias que controlam o mundo - MENzig [3] Nicola Hadwa e Silvia Domenech (2023). El proceso de penetración, ocupación y destrucción de Palestina, 620 p., 2023. Agradeço a Adrián Ramírez, presidente da Liga Mexicana de Direitos Humanos, por me ter motivado a escrever este texto. Agradeço a Fermín Santxez por todas as informações que me forneceu. [4] Na poderosa Coroa de Castela, desde muito cedo se ocuparam do empréstimo de dinheiro (algo que mais tarde aplicariam noutras Coroas e Impérios europeus), bem como da cobrança de rendas reais, para além do elevado pagamento de impostos. [5] De interesse é o livro The Other Side: The Secret Relationship between Nazism and Zionism, de M. Abbas. Nele se relata o assassínio de judeus, ou a cumplicidade com ele, pelo sionismo, a fim de encorajar a emigração judaica para a Palestina. Tese concluída na Universidade Patrice Lumumba, URSS, em 1982. 18/Julho/2024---------------- [*] Antropólogo. O original encontra-se em frenteantiimperialista.org/wp-content/uploads/2024/07/Piqueras_Infante_Andre%CC%81s_Algunas_Claves_Sobre_el_Poder_Sionista.pdf Este artigo encontra-se em resistir.info