Presidentes Lula e Maduro durante encontro da Unasul em Brasília 29/05/2023 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Presidente sinaliza o fim das disputas com o país vizinho sobre o processo eleitoral
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247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou, neste domingo, uma mudança importante na postura do governo brasileiro em relação à Venezuela. Durante entrevista à "RedeTV", Lula afirmou que Nicolás Maduro é “um problema dos venezuelanos”, deixando claro que sua gestão pretende evitar envolvimentos em conflitos políticos externos e concentrar esforços na agenda interna do Brasil, conforme foi reportado pelo Valor.
“Eu aprendi também que a gente precisa ter muito cuidado quando vai tratar de outros países e outros presidentes. O Maduro é um problema da Venezuela. Eu quero que a Venezuela viva bem, o povo venezuelano cuida do Maduro e eu cuido do Brasil. E vamos seguir em frente", declarou Lula. Em um tom pragmático, o presidente também afirmou que sua prioridade é “brigar para fazer esse país dar certo”, sem se envolver em disputas regionais que poderiam prejudicar o foco em questões nacionais.
Essa nova abordagem de Lula surge em um contexto de crescente tensão entre os dois países. Nas últimas semanas, o governo de Maduro direcionou críticas a diplomatas brasileiros, após o veto à entrada da Venezuela no grupo Brics, mencionando o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o assessor internacional do presidente, Celso Amorim. Em resposta, Amorim classificou algumas dessas acusações como “bobagens”, o que aumentou o tom das críticas.
Caracas emitiu um comunicado formal de descontentamento com Brasília, convocando o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, para consultas – a forma diplomática de demonstrar insatisfação. Paralelamente, o encarregado de negócios do Brasil em Caracas também foi chamado para ouvir as queixas do governo venezuelano sobre “as recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro”.
A tensão bilateral ganhou força após a colaboração do Brasil com a Colômbia para exigir maior transparência no processo eleitoral venezuelano. Essa ação conjunta visava a apresentação das atas que comprovassem a vitória de Maduro nas eleições presidenciais, mas não obteve o resultado desejado. Com a oposição questionando a legitimidade da eleição de 28 de julho, o líder venezuelano decidiu promover uma grande reformulação em seu gabinete, aumentando a influência de figuras políticas alinhadas à linha dura do chavismo, incluindo mudanças na estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PdVSA).
Diante desse cenário, a declaração de Lula sinaliza uma postura de neutralidade estratégica, refletindo um desejo de evitar escaladas nas tensões diplomáticas e manter o foco em políticas internas. Essa abordagem, no entanto, não isenta a relação Brasil-Venezuela de novas e potenciais turbulências, dado o histórico de acusações mútuas e conflitos de interesse entre os governos.