Quantos cessar-fogo são necessários para fazer cessar o genocídio na Palestina?

FEPAL - Por: Marcos Feres ------------- O cessar-fogo que entrou em vigência ontem (27) e interrompe momentaneamente a guerra de extermínio comandada pela gangue de Tel Aviv ao Líbano é derrota da ocupação genocida autoproclamada “israel” e mais um indício do ocaso do empreendimento colonial sionista na Palestina. Incapazes de atingir seus autodeclarados “objetivos militares” – a saber, “neutralizar as capacidades militares do Hezbollah” – ou mesmo de infligir perdas significativas à resistência libanesa, os delinquentes israelenses batem em retirada com o rabo entre as pernas e apavorados por descobrirem que enfrentar combatentes treinados é diferente de massacrar mulheres e crianças como fazem em Gaza. Os soldados do exército mais criminoso do mundo podem, no máximo, “se gabar” dos TikToks supremacistas que inundam as redes sociais assaltando casas de civis, roubando roupas íntimas de mulheres, brinquedos de crianças e profanando locais de culto muçulmanos e cristãos. Não se engane: os gangsters de Tel Aviv não querem paz ou desistiram de seguir seu assalto genocidário e expansionista no Líbano. Ao aceitarem os termos de um cessar-fogo – lembrando, temporário, de 60 dias –, os sionistas têm vários objetivos, e nenhum deles é a estabilidade regional: a um só tempo, mascarar seu fracasso militar em solo libanês e conter o pânico na sociedade israelense com os êxitos da resistência libanesa em atingir alvos militares dentro de “israel”; abafar a crise de deserções e suicídios que toma conta do exército genocida; e, por último, difundir propaganda e refrescar os noticiários tomados pelas ordens de prisão emitidas pelo Tribunal Penal Internacional contra o Açougueiro de Gaza, Netanyahu, e seu ex-ministro do extermínio, Yoav Gallant. Da perspectiva da heroica resistência no Líbano, uma vitória acachapante, repetindo a humilhação imposta aos degenerados de Tel Aviv em 2006, bem como a igualmente histórica expulsão dos israelenses do território libanês em 2000, encerrando 18 anos de ocupação criminosa no sul do país. Desde 08 de outubro de 2023, o Hezbollah conduziu 4637 operações de resistência contra o agressor genocida ao longo de 417 dias de campanha em solidariedade a Gaza. Uma média de 11 operações por dia. Os alvos, sempre militares. As baixas civis do lado israelense? 45. Em 417 dias. A título de comparação, “israel” mata em média 51,94 crianças palestinas por dia em Gaza. Você já sabe qual é o lado apresentado como “terrorista” pelas agências de propaganda que se disfarçam de “veículos de imprensa”. “israel”, por sua vez, pausa seu assalto genocida contra o povo libanês deixando um rastro de morte de mais de 3800 assassinados, a esmagadora maioria civis, incluindo três crianças brasileiro-libanesas, 1,2 milhão de desabrigados, mais de 100 mil casas destruídas e um prejuízo estimado em 8,5 bilhões de dólares em infraestrutura civil destruída. Foram cerca de 14 mil bombardeios aéreos contra o Líbano, incluindo hospitais, posições das forças de paz da ONU e bairros residenciais densamente povoados em Beirute, capital do país. O mesmo padrão genocidário aplicado em Gaza. É impossível não sorrir com as imagens de famílias libanesas, resilientes, orgulhosas e perseverantes, retornando a suas casas no sul do Líbano, mesmo que a maioria delas tenha sido reduzida a escombros pelo grupo terrorista financiado pelos Estados Unidos que atende pelo nome de “israel”. Assim o fizeram em 2000, em 2006 e hoje. O povo libanês paga um preço caro para defender sua terra e por sua solidariedade irrestrita aos palestinos há décadas. E nós, palestinos, só podemos agradecer aos libaneses. Seus mártires são nossos mártires e nossa vitória, com o fim do projeto genocida de “israel” na Palestina, será compartilhada. Se sua memória estiver em dia, lembrará que há exatamente um ano também estávamos em um “cessar-fogo”, ou melhor, no interlúdio do genocídio em Gaza. Entre os dias 24 e 30 de novembro de 2023, também nos emocionamos com as imagens dos reféns palestinos, há anos sequestrados, deixando as masmorras israelenses rumo à liberdade. Talvez a mais marcante, a história de Israa Jaabis, a mãe palestina sequestrada por 8 anos que finalmente podia abraçar seu filho após perder sua infância e adolescência. À época, em 22 de novembro de 2023, eram 5,8 mil crianças palestinas assassinadas – outras 3,5 mil crianças desaparecidas – e 3,2 mil mulheres exterminadas por “israel”. 12,7 mil palestinos assassinados; outros 4,5 mil, desaparecidos. Mais de 30 mil feridos. Em 01 de dezembro de 2023, as engrenagens da indústria de morte sionista em Gaza voltaram a girar. Hoje, 27 de novembro de 2024, são 55.045 palestinos exterminados em Gaza e desaparecidos sob escombros, 21.659 crianças assassinadas e 12.679 mulheres. Os feridos passam dos 110 mil. Considerando a estimativa de 4 mortes indiretas para cada morte direta, podemos estar diante de estratosféricos 225 mil palestinos varridos do mapa, isto é, 10,11% da demografia do enclave palestino. O que nos leva à pergunta original deste texto: Quantos cessar-fogo são necessários para fazer cessar o genocídio na Palestina? O povo palestino e o povo libanês merecem mais. Não podemos seguir vendo e vivendo os crimes de “israel” contra a Palestina de tempos em tempos, o recomeço da destruição e do empilhar de cadáveres e escombros, neste ciclo vicioso que se aproxima de seu 78º aniversário e aceitar que tudo se “resolve” com mais um cessar-fogo – até que se renove a matança promovida pelos maníacos de Tel Aviv contra o povo palestino, libanês e todos que ousarem enfrentar a ocupação colonial e de apartheid que parasita o Levante há mais de ¾ de século. A história nos mostra que todos os impérios coloniais se tornaram mais genocidários e violentos às vésperas de seu colapso. Não é diferente com o mais maligno de todos, o sionista. À medida que esta ocupação estrangeira e seu projeto de extermínio da população originária, os palestinos, se aprofunda em seu declínio, mais sanguinário e descontrolado se torna. Em Gaza, a matança continua. Voltará ao Líbano ao findar de mais este “coffee break” do extermínio em 60 dias? É preciso dar fim a este ciclo. Novas agressões e novos e inúteis cessar-fogo só terão fim na Palestina e no Oriente Médio quando “israel” sofrer as consequências de seus atos. A comunidade internacional pretende assumir sua responsabilidade e impor a “israel” total obediência às resoluções da ONU, decisões da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional ou apenas assistirá à manutenção do Holocausto em Gaza e à previsível renovação e expansão das atrocidades israelenses no Líbano e no resto do Oriente Médio? ------------------ Marcos Feres é brasileiro-palestino e Secretário de Comunicação da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL)