Nesta terça-feira (17), o Banco Central divulgou a ata do Copom para explicar o aumento insidioso de 1 ponto percentual na taxa Selic, e que colocou, na semana passada, o indicador a 12,25% ao ano. Os diretores do BC, em uma decisão que a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, classificou como “desancorada” da realidade econômica nacional, insistem em intensificar o arrocho monetário, mesmo com uma inflação abaixo de 5%.
A ata confirmou que o Copom projeta mais duas altas de 1 ponto percentual em suas reuniões de janeiro e março, com a Selic podendo alcançar alarmantes 14,25% ao ano. “O Comitê decidiu, unanimemente, pela elevação e antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas reuniões, caso o cenário esperado se confirme”, diz trecho do documento, sem descartar que as altas possam continuar além dessas datas. A justificativa se apoia em “vetores inflacionários” intensificados. Daí a alegada necessidade de um “firme compromisso” na convergência da inflação à meta.
Gleisi Hoffmann criticou duramente o Copom, afirmando nas redes sociais que “essa ata é uma carta de sequestro da política econômica do governo, que o mercado quer impor, via Banco Central ‘autônomo’, exigindo cortes e medidas contracionistas”. Ela denunciou que “quem está realmente desancorado da realidade é o Copom”, observando que a medida impõe um fardo insuportável sobre a população e os setores produtivos, já penalizados pelos maiores juros reais do planeta. Gleisi ainda reforçou as declarações do presidente Lula sobre a “irresponsabilidade” do Banco Central, dadas no final de semana.
A presidenta do PT pôs em xeque a credibilidade dos agentes econômicos consultados pelo BC, que, segundo ela, “erraram todas as suas previsões catastrofistas sem perder a arrogância jamais”. Hoffmann clamou por uma “uma nova política monetária, com novos instrumentos de avaliação do cenário econômico, mais realistas e eficazes, que não se curvem às chantagens e ao oportunismo financista”.
----------
ALERTAS DO SETOR PRODUTIVO
--------------
A elevação agressiva dos juros pelo Banco Central está sendo interpretada por representantes do setor produtivo como uma sabotagem deliberada ao crescimento econômico do Brasil, privilegiando especuladores financeiros em detrimento da economia real. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) têm emitido alertas quanto aos efeitos negativos da Selic sobre a cadeia produtiva. A CNI, por exemplo, viu uma alta “incompreensível e totalmente injustificada”.
O presidente da Cbic, Renato Correia, expressou preocupação sobre o impacto da aceleração do aumento da Selic. Segundo ele, juros mais altos tendem a restringir os recursos disponíveis na poupança, um pilar crucial para financiar clientes de classe média e parte das obras das incorporadoras.