Bolsonarista que matou petista desmonta estratégia de sua defesa e fala em "brincadeira"

Jorge Guaranho ainda se disse arrependido de ter invadido a festa de aniversário de Marcelo Arruda e matado o tesoureiro do PT, mas insiste que atirou para se "defender" --------------- por Ivan Longo --- Revista Forum --------- O policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o ex-tesoureiro do PT Marcelo Arruda na festa de aniversário do petista em Foz do Iguaçu (PR), em julho de 2022, prestou depoimento nesta quarta-feira (12) ao Tribunal do Júri de Curitiba no segundo dia de julgamento do caso. A previsão é que a condenação ou absolvição de Guaranho seja definida nesta quinta-feira (13). O crime que chocou o país e ganhou repercussão internacional ocorreu em 9 de julho de 2022, durante a festa de aniversário de 50 anos da vítima, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho, que não conhecia Arruda, invadiu o evento exaltando Jair Bolsonaro e abriu fogo contra o aniversariante. Durante o julgamento, que não teve as imagens liberadas, Guaranho se recusou a responder perguntas do Ministério Público e chegou a falar que ter matado Arruda foi uma "idiotice" e que o fato de ter ido à festa de aniversário para provocá-lo se tratou de uma "brincadeira". Ele se disse arrependido pelo crime, mas alegou que abriu fogo contra Arruda para se "defender". "Foi uma fatalidade", afirmou. O bolsonarista afirmou ainda que, após se aproximar da festa com uma música em alusão a Bolsonaro e exaltando o ex-presidente, Arruda teria jogado terra em seu carro. Ele contou que, logo depois, percebeu que a terra tinha pegado em seu filho bebê que estava no veículo e que, por isso, decidiu retornar à festa para tirar satisfações. Guaranho afirmou que só atirou em Arruda pois o petista estaria apontando uma arma para ele. O policial penal declarou que não foi ao local "nem para brigar, nem para matar". Jorge Guaranho, em seu depoimento, desmontou a estratégia de sua defesa ao afirmar que se lembrava do dia do crime, contradizendo a alegação de amnésia pós-trauma sustentada por seus advogados. Antes do interrogatório, o advogado de defesa Ércio Quaresma havia destacado a existência de um laudo apontando perda de memória, enquanto Samir Mattar Assad, outro defensor de Guaranho, declarou pela manhã que seu cliente não recordava os acontecimentos. No entanto, ao responder às perguntas do júri, o ex-policial confirmou que recuperou gradualmente as lembranças e afirmou: "me recordo do dia". O julgamento entra em sua reta final nesta quinta-feira (13), com o terceiro e último dia de sessões. A partir das 9h, começam os debates entre a acusação e a defesa, momento crucial para a decisão do caso. As promotoras de Justiça Roberta Franco Massa e Ticiane Louise Santana Pereira abrirão as argumentações, dispondo de até uma hora e meia para apresentar seus pontos. Em seguida, a defesa do réu terá o mesmo tempo para sua manifestação. Após essa etapa inicial, ambas as partes poderão fazer uma réplica e uma tréplica, com até uma hora adicional para cada lado. Assim, a fase de debates pode se estender por até duas horas e meia para acusação e defesa. Concluídas as argumentações, os sete jurados se reúnem para deliberar sobre o veredicto, que será anunciado pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler. ------------ Quarta tentativa de julgamento ----------- O julgamento deveria ter ocorrido em Foz do Iguaçu, mas foi transferido para a capital paranaense após um pedido da defesa do réu. Além disso, já foi adiado três vezes. Em abril do ano passado, os advogados de Guaranho abandonaram o plenário em protesto contra decisões judiciais desfavoráveis. Em seguida, a defesa solicitou a mudança de foro, pleito aceito pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), levando à nova remarcação. --------------- Main Logo Forum Edição da semana Apoie-nos Menu Pincipal Receber Notificações Push JÚRI POPULAR Bolsonarista que matou petista desmonta estratégia de sua defesa e fala em "brincadeira" Jorge Guaranho ainda se disse arrependido de ter invadido a festa de aniversário de Marcelo Arruda e matado o tesoureiro do PT, mas insiste que atirou para se "defender" Bolsonarista Jorge Guaranho chega ao Tribunal do Júri de muletas; ele assassinou o petista Marcelo Arruda. Créditos: Reprodução/Vídeo Plural Curitiba Ivan Longo Por Ivan Longo BRASIL13/2/2025 · 05:05 hs Comparta este artículo O policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o ex-tesoureiro do PT Marcelo Arruda na festa de aniversário do petista em Foz do Iguaçu (PR), em julho de 2022, prestou depoimento nesta quarta-feira (12) ao Tribunal do Júri de Curitiba no segundo dia de julgamento do caso. A previsão é que a condenação ou absolvição de Guaranho seja definida nesta quinta-feira (13). O crime que chocou o país e ganhou repercussão internacional ocorreu em 9 de julho de 2022, durante a festa de aniversário de 50 anos da vítima, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho, que não conhecia Arruda, invadiu o evento exaltando Jair Bolsonaro e abriu fogo contra o aniversariante. Durante o julgamento, que não teve as imagens liberadas, Guaranho se recusou a responder perguntas do Ministério Público e chegou a falar que ter matado Arruda foi uma "idiotice" e que o fato de ter ido à festa de aniversário para provocá-lo se tratou de uma "brincadeira". Ele se disse arrependido pelo crime, mas alegou que abriu fogo contra Arruda para se "defender". "Foi uma fatalidade", afirmou. O bolsonarista afirmou ainda que, após se aproximar da festa com uma música em alusão a Bolsonaro e exaltando o ex-presidente, Arruda teria jogado terra em seu carro. Ele contou que, logo depois, percebeu que a terra tinha pegado em seu filho bebê que estava no veículo e que, por isso, decidiu retornar à festa para tirar satisfações. Guaranho afirmou que só atirou em Arruda pois o petista estaria apontando uma arma para ele. O policial penal declarou que não foi ao local "nem para brigar, nem para matar". Homenagens a Marcelo Arruda na porta do Tribunal do Júri de Curitiba (Foto: Giuliano Gomes/PR Press/Folhapress) Jorge Guaranho, em seu depoimento, desmontou a estratégia de sua defesa ao afirmar que se lembrava do dia do crime, contradizendo a alegação de amnésia pós-trauma sustentada por seus advogados. Antes do interrogatório, o advogado de defesa Ércio Quaresma havia destacado a existência de um laudo apontando perda de memória, enquanto Samir Mattar Assad, outro defensor de Guaranho, declarou pela manhã que seu cliente não recordava os acontecimentos. No entanto, ao responder às perguntas do júri, o ex-policial confirmou que recuperou gradualmente as lembranças e afirmou: "me recordo do dia". O julgamento entra em sua reta final nesta quinta-feira (13), com o terceiro e último dia de sessões. A partir das 9h, começam os debates entre a acusação e a defesa, momento crucial para a decisão do caso. As promotoras de Justiça Roberta Franco Massa e Ticiane Louise Santana Pereira abrirão as argumentações, dispondo de até uma hora e meia para apresentar seus pontos. Em seguida, a defesa do réu terá o mesmo tempo para sua manifestação. Após essa etapa inicial, ambas as partes poderão fazer uma réplica e uma tréplica, com até uma hora adicional para cada lado. Assim, a fase de debates pode se estender por até duas horas e meia para acusação e defesa. Concluídas as argumentações, os sete jurados se reúnem para deliberar sobre o veredicto, que será anunciado pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler. Quarta tentativa de julgamento O julgamento deveria ter ocorrido em Foz do Iguaçu, mas foi transferido para a capital paranaense após um pedido da defesa do réu. Além disso, já foi adiado três vezes. Em abril do ano passado, os advogados de Guaranho abandonaram o plenário em protesto contra decisões judiciais desfavoráveis. Em seguida, a defesa solicitou a mudança de foro, pleito aceito pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), levando à nova remarcação. ----------------- Motivação política ---------- A denúncia do Ministério Público do Paraná (MP-PR) aponta que o homicídio teve motivação política. Análises periciais apontam que Guaranho, ao invadir o salão de festas, gritou frases como "petista vai morrer tudo [sic]" e ofendeu os presentes com insultos ao PT e elogios a Bolsonaro. Além disso, a acusação argumenta que o réu atirou contra Arruda quando este já estava caído e colocou em risco outros convidados, configurando homicídio duplamente qualificado — por motivo fútil e perigo comum. A expectativa da família e da acusação é de que a pena máxima seja aplicada e que a motivação política do crime seja reconhecida como agravante. Para Pamela Silva, viúva de Arruda, o crime teve motivação política. Em entrevista logo após o primeiro dia de julgamento, ela relatou como foi revisitar as circunstâncias do assassinato. "Houve o crime de homicídio. Agora, motivo que levou o Guaranho até a festa do Marcelo não foi outro, foi político. Porque nós não conhecíamos esse cidadão. Ninguém conhecia o Guaranho. Então, até hoje, a gente gostaria de saber o que ele foi fazer lá, se não foi uma motivação política. Ele poderia responder isso, não poderia? Porque nós não sabemos, nós não o conhecíamos. Ele foi pra lá, nos ofendeu, nos xingou com relação à temática da festa do Marcelo. A cena do Marcelo sendo alvejado passou milhares de vezes, aquilo é muito forte", declarou. "Rever toda aquela situação, todo momento repetidamente, e ficar questionando sobre aquele momento, não foi nada fácil, sabe? Eu estava no local, eu estava no momento, então, pela minha ótica, pude relatar o que aconteceu. Mas eu espero que hoje, não tem hora pra acabar, acho que hoje se conclui esse julgamento, e vamos ver o que vai acontecer. Nós esperamos a condenação, certamente, a condenação de Guaranho. Ele cometeu um homicídio, ele matou uma pessoa", prosseguiu Pamela. Main Logo Forum Edição da semana Apoie-nos Menu Pincipal Receber Notificações Push JÚRI POPULAR Bolsonarista que matou petista desmonta estratégia de sua defesa e fala em "brincadeira" Jorge Guaranho ainda se disse arrependido de ter invadido a festa de aniversário de Marcelo Arruda e matado o tesoureiro do PT, mas insiste que atirou para se "defender" Bolsonarista Jorge Guaranho chega ao Tribunal do Júri de muletas; ele assassinou o petista Marcelo Arruda. Créditos: Reprodução/Vídeo Plural Curitiba Ivan Longo Por Ivan Longo BRASIL13/2/2025 · 05:05 hs Comparta este artículo O policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o ex-tesoureiro do PT Marcelo Arruda na festa de aniversário do petista em Foz do Iguaçu (PR), em julho de 2022, prestou depoimento nesta quarta-feira (12) ao Tribunal do Júri de Curitiba no segundo dia de julgamento do caso. A previsão é que a condenação ou absolvição de Guaranho seja definida nesta quinta-feira (13). O crime que chocou o país e ganhou repercussão internacional ocorreu em 9 de julho de 2022, durante a festa de aniversário de 50 anos da vítima, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho, que não conhecia Arruda, invadiu o evento exaltando Jair Bolsonaro e abriu fogo contra o aniversariante. Durante o julgamento, que não teve as imagens liberadas, Guaranho se recusou a responder perguntas do Ministério Público e chegou a falar que ter matado Arruda foi uma "idiotice" e que o fato de ter ido à festa de aniversário para provocá-lo se tratou de uma "brincadeira". Ele se disse arrependido pelo crime, mas alegou que abriu fogo contra Arruda para se "defender". "Foi uma fatalidade", afirmou. O bolsonarista afirmou ainda que, após se aproximar da festa com uma música em alusão a Bolsonaro e exaltando o ex-presidente, Arruda teria jogado terra em seu carro. Ele contou que, logo depois, percebeu que a terra tinha pegado em seu filho bebê que estava no veículo e que, por isso, decidiu retornar à festa para tirar satisfações. Guaranho afirmou que só atirou em Arruda pois o petista estaria apontando uma arma para ele. O policial penal declarou que não foi ao local "nem para brigar, nem para matar". Homenagens a Marcelo Arruda na porta do Tribunal do Júri de Curitiba (Foto: Giuliano Gomes/PR Press/Folhapress) Jorge Guaranho, em seu depoimento, desmontou a estratégia de sua defesa ao afirmar que se lembrava do dia do crime, contradizendo a alegação de amnésia pós-trauma sustentada por seus advogados. Antes do interrogatório, o advogado de defesa Ércio Quaresma havia destacado a existência de um laudo apontando perda de memória, enquanto Samir Mattar Assad, outro defensor de Guaranho, declarou pela manhã que seu cliente não recordava os acontecimentos. No entanto, ao responder às perguntas do júri, o ex-policial confirmou que recuperou gradualmente as lembranças e afirmou: "me recordo do dia". O julgamento entra em sua reta final nesta quinta-feira (13), com o terceiro e último dia de sessões. A partir das 9h, começam os debates entre a acusação e a defesa, momento crucial para a decisão do caso. As promotoras de Justiça Roberta Franco Massa e Ticiane Louise Santana Pereira abrirão as argumentações, dispondo de até uma hora e meia para apresentar seus pontos. Em seguida, a defesa do réu terá o mesmo tempo para sua manifestação. Após essa etapa inicial, ambas as partes poderão fazer uma réplica e uma tréplica, com até uma hora adicional para cada lado. Assim, a fase de debates pode se estender por até duas horas e meia para acusação e defesa. Concluídas as argumentações, os sete jurados se reúnem para deliberar sobre o veredicto, que será anunciado pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler. Quarta tentativa de julgamento O julgamento deveria ter ocorrido em Foz do Iguaçu, mas foi transferido para a capital paranaense após um pedido da defesa do réu. Além disso, já foi adiado três vezes. Em abril do ano passado, os advogados de Guaranho abandonaram o plenário em protesto contra decisões judiciais desfavoráveis. Em seguida, a defesa solicitou a mudança de foro, pleito aceito pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), levando à nova remarcação. ----------- Motivação política ------- A denúncia do Ministério Público do Paraná (MP-PR) aponta que o homicídio teve motivação política. Análises periciais apontam que Guaranho, ao invadir o salão de festas, gritou frases como "petista vai morrer tudo [sic]" e ofendeu os presentes com insultos ao PT e elogios a Bolsonaro. Além disso, a acusação argumenta que o réu atirou contra Arruda quando este já estava caído e colocou em risco outros convidados, configurando homicídio duplamente qualificado — por motivo fútil e perigo comum. A expectativa da família e da acusação é de que a pena máxima seja aplicada e que a motivação política do crime seja reconhecida como agravante. Para Pamela Silva, viúva de Arruda, o crime teve motivação política. Em entrevista logo após o primeiro dia de julgamento, ela relatou como foi revisitar as circunstâncias do assassinato. "Houve o crime de homicídio. Agora, motivo que levou o Guaranho até a festa do Marcelo não foi outro, foi político. Porque nós não conhecíamos esse cidadão. Ninguém conhecia o Guaranho. Então, até hoje, a gente gostaria de saber o que ele foi fazer lá, se não foi uma motivação política. Ele poderia responder isso, não poderia? Porque nós não sabemos, nós não o conhecíamos. Ele foi pra lá, nos ofendeu, nos xingou com relação à temática da festa do Marcelo. A cena do Marcelo sendo alvejado passou milhares de vezes, aquilo é muito forte", declarou. "Rever toda aquela situação, todo momento repetidamente, e ficar questionando sobre aquele momento, não foi nada fácil, sabe? Eu estava no local, eu estava no momento, então, pela minha ótica, pude relatar o que aconteceu. Mas eu espero que hoje, não tem hora pra acabar, acho que hoje se conclui esse julgamento, e vamos ver o que vai acontecer. Nós esperamos a condenação, certamente, a condenação de Guaranho. Ele cometeu um homicídio, ele matou uma pessoa", prosseguiu Pamela. O caso gerou repercussão internacional e acendeu debates sobre a escalada da violência política no Brasil. Como resposta, a data do assassinato, 9 de julho, foi oficializada como Dia de Luta contra a Intolerância Política no Paraná e no Distrito Federal. “O ódio político é uma conduta que não está tipificada na legislação penal brasileira, mas é primordial que seja reconhecida a motivação política do réu nesse caso emblemático, em que uma família foi destruída por um assassinato a sangue frio, claramente impulsionado pela intolerância política", diz Daniel Godoy Júnior, advogado da família de Marcelo Arruda. "O júri do caso Marcelo Arruda tem grande relevância para toda a sociedade brasileira e deve ser um marco para o país. Ninguém pode ser alvo de violência em função de credo, origem ou posição política. Isso precisa acabar", prossegue o defensor. -------------- O crime --------- Na noite do crime, Guaranho estava em uma confraternização nas proximidades do salão onde ocorria a festa de Arruda. Por meio de um amigo que acessou câmeras de segurança, ele soube da temática petista do evento e decidiu ir ao local. Acompanhado da esposa e do filho bebê, fez ameaças e disse que voltaria para matar os presentes. Minutos depois, retornou sozinho e abriu fogo contra Arruda, que ainda tentou reagir, mas não resistiu aos ferimentos Guaranho, que era agente da Penitenciária Federal de Catanduvas, foi exonerado do cargo em março de 2023 por determinação do então ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. No entanto, ele permanece em prisão domiciliar, após obter um habeas corpus concedido pela Primeira Câmara Criminal do TJ-PR em setembro do ano passado. Agora, a família de Arruda aguarda que o julgamento finalmente aconteça e traga uma resposta definitiva. “Que finalmente seja feita justiça”, desabafa Pamela.