por Thomas de Toledo ----------
A Europa está se tornando irrelevante no novo mundo que está emergindo. A Guerra da Ucrânia foi o tiro de misericórdia e a sua ausência nas negociações de paz é a consequência de quem aceitou o papel de subserviência aos Estados Unidos.
Desde o fim da II Guerra Mundial, a Europa é militarmente ocupada e economicamente dependente dos Estados Unidos e por isso apoiou todas as guerras imperialistas desde então. A criação da União Europeia, a instituição do Euro e a Segurança Comum aprofundaram essa dependência, especialmente com a expansão da OTAN.
Por mais que a Alemanha e ocasionalmente a França exercitasse esporadicamente um grau de independência, isso raramente se prolongava. A saída do Reino Unido da União Europeia foi, de certo modo, visionária, em que pese o custo dessa decisão.
A integração energética com a Rússia representava o último bastião de independência da Europa frente aos Estados Unidos. Mas a submissão falou mais alto e o arrojado plano de reindustrialização alemão se inviabilizou com a guerra da Ucrânia. A França também pagou caro nessa guerra, com a Rússia patrocinando a independência de suas ex-colônias na África.
Ou seja, praticamente todos os movimentos realizados pela Europa a jogaram numa dependência sem precedentes aos Estados Unidos até que... Donald Trump foi eleito e disse em alto e bom som: "se virem!".
O que irá acontecer agora? A França terá que negociar novas condições para obter seu urânio, o que encarecerá o custo da energia. A Alemanha terá que pagar por hidrocarbonetos caros dos Estados Unidos, pedir desculpas à Rússia e fingir que nada aconteceu ou se envolver no limbo das guerras do Oriente Médio para ter novos fornecedores. Todas as opções são catastróficas.
Quanto aos outros países, a situação é semelhante. A desindustrialização veio pra ficar. O Euro impede os países de terem uma política monetária e cambial. A administração da União Europeia simplesmente impede qualquer decisão democrática de se sobrepor aos ditames da burocracia de Bruxelas e Frankfurt. Não existe mais democracia no continente europeu, onde uma ditadura tecnocrática reina em absoluto.
Por tudo isso, a Europa que foi o centro do mundo entre os séculos XVI e XX caminha para o ocaso no século XXI. O fim do colonialismo e do neocolonialismo, as duas guerras mundiais, a Guerra Fria foram os marcadores dessa decadência na longa duração. Mas a escolha de ser arauto dos Estados Unidos foi fatal. Quando Donald Trump abandonou a Europa à própria sorte, finalmente veio a conta das escolhas erradas por ter optado pela subserviência.
O futuro está na Ásia. A África está abrindo novos caminhos de integração nesse fluxo. Já a América Latina tem duas opções: repetir o erro da Europa ou buscar a integração com o novo setor dinâmico da economia mundial. O problema da América Latina é que as elites preferem uma mansão em Miami a ver seus países se tornarem potências.