por Paulo Eduardo Padula -------
Bastou que a Dilma tivesse seu mandato à frente do banco do BRICS estendido para a imprensa nacional cair matando - ah, que vontade de forjar um novo golpe, digo, impeachment. Entende-se a raiva. Um banco de países do chamado sul global que não segue as regras estabelecidas incomoda muita gente. Trinta por cento de todos os financiamentos do banco serão em moedas locais dos países-membros? Que audácia! Emprestar dinheiro com taxa de juros menor do que a média global? Ofensa grave. Permitir que cada membro defina sua própria política de desenvolvimento e emprestar dinheiro sem impor condições ligadas a políticas públicas ou projetos privados? Aí já é demais - imperdoável! Hora de despejar informações sem contexto. Assédio moral, funcionários reclamando, indo embora... Mas, atenção: não mencionar que muita gente aí era ligada ao presidente anterior do banco, nomeado pelo inelegível. Metas não atingidas? Beleza, foca nisso aí. Quem sabe o povo acredita que os países do BRICS cultivam o hobby de perder dinheiro. Gostam tanto desse hobby que, para perder ainda mais, estão estendendo o mandato da Dilma. E, é claro, vamos esconder bem-escondida aquela história de que o banco, que vinha de uma crise de liquidez braba, teve sua classificação de negativa mudada para estável pela agência Fitch - e isso depois de a Dilma assumir. Também é bom sumir com a informação de que, nos 5 primeiros meses da gestão Dilma, os investimentos feitos pelo banco foram maiores do que em todo o ano anterior. Outra distorção que vem a calhar: dizer que a Dilma continua só porque a Rússia, a quem caberia indicar o presidente do banco agora, está em guerra. Vai que cola. De repente ninguém pergunta por que, se a Rússia tem que pular sua vez e a Dilma é tão ruim, não passam a indicação para outro país. E tem mais uma, um pequeno primor da enganação - dizer que agora a Dilma responderá ao Putin, e não mais ao Lula. Isso indica total desconhecimento de como funciona o banco dos BRICS. Mas, e daí? Meio trabalhoso isso tudo. Seria bem mais fácil armar um impeachment. Pena que não dá. Muita pena mesmo.
---------------------
Betty Priesmag