"O homem que você vê à esquerda na foto é Bradley Bartell. Ele é estadunidense, mora em Wisconsin, trabalha com manutenção e sempre acreditou que Trump estava certo: os imigrantes ilegais deveriam ser expulsos. Ponto final.
Então ele conheceu Camila Muñoz.
Peruana, ela entrou nos EUA com um visto regular.
Se apaixonaram. Se casam. Saíram em lua de mel para Porto Rico.
No entanto, no caminho de volta, Camila é detida no aeroporto.
Por quê? Porque seu visto havia expirado desde a pandemia, ela nunca o havia renovado e agora estava esperando o Green Card.
“Você é cidadã estadunidense?”, perguntam a ela. “Não”, responde ela, antes de ser presa e levada para um centro de detenção do ICE na Louisiana.
Ela está presa lá há vários dias, correndo o risco de ser deportada.
E Bradley? Ele chora, se desespera e diz que tudo isso é “absurdo”. Que o sistema é “ineficiente”. Que é um “desperdício”.
Que está pensando em se mudar para o Peru. Que agora está recebendo muitos insultos por ter votado em Trump.
Claro, Bradley. Você votou a favor das deportações, mas achou que elas só se aplicavam aos “outros”.
Para aqueles que não se parecem com você, para aqueles que não lhe dizem respeito, para aqueles sem rosto, sem história, sem nome.
Agora que o ódio se apoderou de sua esposa, a história é diferente.
Agora a “legalidade” parece menos justa e a burocracia menos patriótica.
Mas a questão é esta: quando você legitima o ódio, o ódio não pede sua árvore genealógica. Quando você inicia um incêndio, as chamas não fazem distinção entre você e os outros.
E quando você dá poder àqueles que constroem gaiolas, não se surpreenda se um dia encontrar alguém que você ama lá dentro.
A verdadeira notícia, afinal, não é o fato de Camila estar correndo o risco de ser deportada.
É o fato de que ainda há quem pense que a desumanidade pode ser votada com leveza. E então fique chocado, indignado, chore quando ela bater à sua porta."
Texto do Ezio Maccione