Mural retratando os membros da família Bibas, que se tornou alvo de propaganda farsesca do regime sionista
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A família Bibas exige que o governo israelense pare de explorar as mortes de seus familiares para fins de propaganda, à medida que evidências indicam que um ataque aéreo israelense foi o responsável por suas mortes
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Por Wyatt Reed e Max Blumenthal*
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Os parentes de uma família israelense morta enquanto estava em cativeiro do Hamas em Gaza exigiram que o governo pare de fazer declarações atribuindo a culpa pelas mortes de seus entes queridos, ameaçando “tomar todas as medidas legais à sua disposição” se o governo Netanyahu se recusar a cumprir. O pedido foi feito três dias após uma declaração do porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari, de que “terroristas” palestinos teriam “deliberadamente” matado dois jovens membros da família Bibas “com as próprias mãos”.
Advogados representando os membros sobreviventes da família Bibas acusaram ministérios do governo de tentar explorar sua tragédia para fins de propaganda, reclamando que “a família continua a receber, surpreendentemente, repetidas solicitações do Ministério das Relações Exteriores e do Sistema Nacional de Informação… com o objetivo de satisfazer o instinto voyeurista do público”.
“Embora seja surpreendente que seja necessário solicitar e enfatizar isso”, continuaram os advogados, “pedimos mais uma vez e em todos os idiomas que todas as partes” sejam instruídas “a não entrar em contato com a família, nem falar com qualquer parte profissional encarregada de conduzir as investigações sobre as circunstâncias do assassinato e a condição dos falecidos”.
A família Bibas se tornou um símbolo do sofrimento dos israelenses capturados em 7 de outubro, mas a verdade por trás de sua experiência permanece obscurecida pela narrativa oficial. Todos os quatro membros da família foram capturados em 7 de outubro, mas o pai foi separado no caos.
Enquanto ele sobreviveu ao tempo em cativeiro do Hamas e foi posteriormente libertado para Israel, sua esposa, Shiri, e seus dois filhos pequenos, Kfir e Ariel, foram mortos sob custódia das Brigadas Mujahidin, uma facção menor e menos conhecida. De acordo com um comandante das Brigadas Mujahidin, “Quando [Shiri Bibas] foi capturada [em 7 de outubro], enviamos seus filhos com ela por compaixão. A ocupação israelense matou ela e seus filhos após bombardeá-los junto com seus captores”.
O comandante também declarou que Shiri Bibas havia servido como soldado na divisão de inteligência da Unidade 8200 do exército israelense, que espiona e busca comprometer residentes de Gaza, e posteriormente serviu na Divisão Gaza do exército.
Embora o Hamas tenha anunciado que Shiri, Ariel e Kfir Bibas foram mortos em um ataque aéreo israelense em novembro de 2023, as autoridades israelenses relutaram em reconhecer abertamente seu destino. Durante uma troca de reféns no mês seguinte, o Hamas ofereceu entregar os restos mortais dos membros da família falecidos. Em 3 de dezembro, Yarden Bibas enviou uma mensagem em vídeo do cativeiro afirmando que sua esposa e filhos haviam sido mortos em um ataque aéreo israelense – como dezenas de outros reféns israelenses – e implorou ao seu governo que negociasse sua liberdade para que ele pudesse lhes dar um enterro digno. Mas Israel rejeitou os apelos e retomou a devastação da Faixa de Gaza.
A devolução dos corpos dos membros da família Bibas em 18 de fevereiro, e a indignação provocada de forma calculada pelo governo israelense, agora ameaçam descarrilar o frágil cessar-fogo com o Hamas.
Desde sua libertação em 2 de fevereiro, Yarden Bibas se recusou a confirmar os comentários chocantes que fez enquanto estava em cativeiro. No entanto, a carta aberta que sua família entregou aos principais funcionários israelenses transmitiu uma forte desaprovação da narrativa do governo e contradiz uma declaração de Hagari, o porta-voz das IDF, que afirmou: “Yarden [Bibas] me olhou nos olhos e pediu que o mundo todo soubesse e ficasse horrorizado com a maneira como seus filhos foram assassinados”.
Os funerais dos membros falecidos da família Bibas estão programados para ocorrer em 26 de fevereiro. A família supostamente proibiu funcionários do governo israelense de comparecer à cerimônia. Um dia antes do funeral, a irmã de Yarden Bibas, Ofri, publicou um post no Facebook dizendo ao primeiro-ministro israelense para “calar a boca” e o acusou de “abusar de uma família que passou por 16 meses de inferno”.
Enquanto isso, uma nova análise independente apoia as alegações de que Israel matou os membros da família Bibas em um ataque aéreo, e Tel Aviv enviou um de seus mais notórios manipuladores de narrativa para manter a culpa focada no Hamas.
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O doutor em propaganda entra em cena
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Uma investigação oficial sobre a causa exata da morte ainda não foi concluída. No entanto, em 22 de fevereiro, o chefe do instituto forense oficial de Israel, Dr. Chen Kugel, publicou um vídeo insistindo que os membros da família Bibas não foram mortos por bombardeios israelenses.
Na carta da família Bibas, seus advogados acusam explicitamente Kugel de tentar “violar a confidencialidade médica” ao divulgar repetidamente detalhes das mortes de seus entes queridos sem a permissão da família, referindo-se a “informações confidenciais e sensíveis” que, segundo eles, “só a família tem o direito de decidir como e se serão usadas”.
Esta não seria a primeira vez que o Dr. Kugel distorce a realidade para reforçar a propaganda oficial do governo israelense. Menos de um mês após o ataque do Hamas em 7 de outubro, Kugel já estava trabalhando duro para propagar o mito dos bebês decapitados, que Israel usou para fabricar consentimento para sua campanha genocida, com um articulista do The Economist observando que “Dr. Chen Kugel… me disse que viu os corpos carbonizados e sem cabeça de bebês”.
Em 2016, Kugel tentou proteger um soldado israelense de acusações ao afirmar durante o julgamento que o ferimento de saída em um menino palestino de 17 anos que havia sido baleado durante um protesto era inconsistente com a posição de tiro do réu, declarando no tribunal que “não há explicação para a direção do tiro”.
O soldado posteriormente admitiu ter disparado “acidentalmente” uma bala real após afirmar que não verificou se sua arma estava carregada com balas de festim e não carregou uma bala de borracha em um adaptador separado. Um artigo publicado no New York Times na época observou que “de acordo com documentos do tribunal, [o acusado] expressou arrependimento por mirar e atirar no jovem”.
Antes disso, Kugel foi uma testemunha chave na equipe de defesa do atirador israelense que matou o ativista de direitos humanos britânico Tom Hurndall com um tiro na cabeça. O soldado acabou sendo condenado por um tribunal israelense, onde recebeu uma punição leve, apesar dos melhores esforços de Kugel para distorcer a verdade.
Enquanto insistia que Israel não era responsável pela morte dos meninos Bibas, Kugel confirmou que Israel havia recebido o corpo de sua mãe, Shiri Bibas, após os restos mortais inicialmente devolvidos pelo Hamas pertencerem a uma mulher diferente.
O Hamas posteriormente reconheceu “a possibilidade de um erro ou confusão de corpos”, atribuindo a confusão à dificuldade de recuperar cadáveres e partes do corpo sob os escombros causados pelos bombardeios indiscriminados de Israel.
Mas mesmo depois que Israel recebeu Shiri Bibas, o notoriamente fanático ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, condenou a confusão como uma “grave violação do acordo”, enquanto Netanyahu prometeu “garantir que o Hamas pague o preço total por essa violação cruel e maligna do acordo”. Dois dias depois, citando o que chamou de “violações repetidas do Hamas” ao acordo, Israel declarou unilateralmente o fim do cessar-fogo, recusando-se a honrar seu compromisso de devolver mais de 600 palestinos detidos sem acusação.
Hoje, o cessar-fogo está por um fio.
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Analista israelense conclui que Israel matou membros da família Bibas
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Grandes veículos de comunicação, do USA Today à BBC, repetiram a alegação do governo israelense de que o Hamas estrangulou as crianças Bibas com as próprias mãos, levando a influenciadora hereditária centrista Meghan McCain [filha do ex-senador republicano John McCain – NT] a pedir para “mandar para o inferno as pessoas que mataram este bebê [Kfir Bibas]”.
No entanto, uma análise de Adar Weinreb, pesquisador israelense independente e ex-soldado das IDF, demonstra que um ataque aéreo israelense foi a causa mais provável da morte de Shiri, Ariel e Kfir Bibas.
“Embora Israel afirme que a família Bibas foi ‘brutalmente assassinada por terroristas’, uma análise mais detalhada das evidências disponíveis sugere o contrário”, escreveu Weinreb. “Dada a história de relatórios forenses enganosos de Israel, seu padrão estabelecido de matar reféns em ataques aéreos e a esmagadora falta de precedentes para militantes islamistas executarem crianças pequenas, acredito que a explicação mais plausível, por uma margem significativa, é que eles foram mortos em um ataque aéreo israelense”.
Além disso, “as evidências disponíveis não sustentam a alegação de que crianças pequenas foram sistematicamente alvejadas” pelo Hamas, explicou Weinreb, observando que em 7 de outubro, crianças menores de 13 anos “foram mortas a uma taxa aproximadamente sete vezes menor que sua proporção na população”, e que crianças menores de 5 anos, como as crianças Bibas, “foram mortas a uma taxa aproximadamente 11 vezes menor que sua proporção na população”.
No entanto, nos meses após 7 de outubro, Israel atacou praticamente tudo o que se movia em Gaza, incluindo reféns israelenses. Weinreb destacou especificamente Noa Marciano, uma soldado de 19 anos do exército israelense que foi “quase certamente morta por um ataque aéreo israelense” após ser capturada em 7 de outubro. Após a morte de Marciano, o porta-voz militar israelense Hagari afirmou que o relatório patológico mostrou que “Noa foi ferida pelo ataque, mas não de forma fatal”, alegando que “de acordo com informações de inteligência, Noa foi levada para dentro das paredes do Hospital Shifa, onde foi assassinada por um terrorista do Hamas”.
Como Weinreb observa, “essa narrativa não faz absolutamente nenhum sentido. Por que seus captores a levariam a um hospital com ferimentos não fatais apenas para um médico matá-la? O cenário muito mais plausível é que Noa foi ferida no ataque aéreo, levada ao hospital e morreu devido aos seus ferimentos”.
Afinal, escreveu Weinreb, “entre os mais de 80 reféns libertados, o testemunho mais consistente é o medo constante de serem mortos por ataques aéreos israelenses”. Isso inclui Noa Argamani, uma jovem israelense que revelou após ser resgatada da Faixa de Gaza em uma operação sangrenta de soldados israelenses que ela “estava em um prédio que foi bombardeado pela Força Aérea”.
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“Eles estão realizando um procedimento Hannibal em nós”
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Em 25 de fevereiro, Argamani testemunhou perante as Nações Unidas sobre o momento terrível em que o companheiro de cativeiro Yossi Sharabi foi morto em um ataque aéreo israelense, e ela quase sofreu o mesmo destino: “Eu não conseguia me mover. Eu não conseguia respirar. Eu pensei que seria o último segundo da minha vida. Eu gritei tão alto para que alguém me ouvisse, e ouvi Yossi gritando também. Mas depois de alguns segundos, parei de ouvir Yossi”.
Durante uma reunião com o gabinete de Netanyahu, um ex-refém supostamente declarou: “A realidade é que eu estava em um esconderijo que foi bombardeado, e nos tornamos refugiados feridos. Isso nem inclui o helicóptero que atirou em nós no caminho para Gaza. Vocês afirmam que há inteligência, mas a realidade é que estávamos sendo bombardeados”.
Estima-se que cerca de 800 civis israelenses tenham morrido durante o ataque de 7 de outubro, mas ainda não está claro exatamente quantos foram mortos por militantes palestinos – e quantos foram mortos pelo exército israelense. Um mês após o início da guerra, um piloto de helicóptero israelense confirmou que o exército implantou um “Hannibal em massa” contra seu próprio povo naquele dia. Sob a Diretiva Hannibal de Israel, os soldados estão autorizados a abrir fogo contra civis e tropas israelenses que estão sendo capturados para evitar que sejam usados como moeda de troca.
Após serem levados para Gaza, pelo menos três israelenses que conseguiram escapar de seus captores do Hamas foram mortos por forças israelenses que posteriormente testemunharam que os confundiram com palestinos. Esses soldados até perseguiram um dos reféns fugitivos a pé, executando-o a queima-roupa.
Em janeiro de 2024, a mãe de um soldado israelense morto enquanto estava em cativeiro em Gaza, Ron Sherman, revelou que ele havia sido morto por suas próprias forças quando o exército israelense bombardeou o túnel de Gaza onde ele estava – uma morte que ela descreveu como “semelhante a Auschwitz”.
Noam Dann, sobrinha do refém Ofer Calderon, reclamou publicamente: “Eles estão realizando um procedimento Hannibal em nós. Meu gabinete, meu primeiro-ministro, meu ministro da Defesa, estão realizando operações em minha família, em cidadãos que foram sequestrados de suas casas – um procedimento Hannibal”.
Muitos reféns libertados descreveram ter mais medo dos bombardeios israelenses do que de seus captores do Hamas. Esse medo foi talvez melhor resumido por Menir Oz, um israelense liberado que disse ao gabinete do país que quando “estávamos sentados nos túneis, estávamos terrivelmente com medo de que não o Hamas, mas Israel nos matasse, e então eles diriam – o Hamas matou vocês”.
Embora possa parecer absurdo que o regime de Netanyahu bombardeie deliberadamente locais onde estão reféns israelenses, de acordo com o sociólogo israelense Yigal Levy, “a decisão do governo de atacar Gaza, apesar da presença de reféns nos locais bombardeados, pode ser considerada uma extensão da diretiva ‘Hannibal’”.
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* Jornalistas e editores do portal The Grayzone. Reportagem publicada no Grayzone em 25/02/2025.