Privatização das Escolas no Paraná: O que está por trás do polêmico plano de Ratinho Junior?

por Julio Take ----- oexpressobr -------- Governo do Paraná propõe terceirização total da educação pública; custos podem disparar e direitos trabalhistas estão em risco ------------ Em entrevista ao programa Cabal Livre, o governador Ratinho Junior (PSD) detalhou os próximos passos do programa Parceiros da Escola, que prevê a terceirização de gestão administrativa, pedagógica e até do corpo docente da rede pública estadual. As revelações, porém, geraram alerta entre educadores, sindicatos e pais, que temem o avanço da privatização e o fim de garantias trabalhistas e previdenciárias. ------------ Os 5 passos do programa--- De acordo com a explicação do governador, o projeto seguirá etapas progressivas: -------------- Terceirização da direção administrativa das escolas;--- Terceirização da gestão pedagógica (muitos diretores ainda desconhecem o plano); Substituição de professores concursados por profissionais terceirizados, extinguindo processos seletivos como o PSS; Professores transformados em PJ (pessoa jurídica), perdendo direitos como férias, 13º salário, FGTS e INSS; Conversão das escolas públicas em instituições privadas, operando com recursos públicos, mas sem garantias de melhoria na qualidade do ensino. ------------- Custos por aluno podem saltar de R$ 7,00 para R$ 800,00---- Dados apresentados durante a entrevista revelam que o custo atual por aluno na rede pública é de R$ 7,00 mensais (incluindo salários, materiais e manutenção). Com o novo modelo, o valor repassado a empresas privadas seria de R$ 800,00 por estudante, além da manutenção dos salários docentes. Especialistas questionam a lógica do aumento de gastos em um cenário de restrição orçamentária. -------------- Vouchers e exclusão: o dilema dos 70% ------ O projeto inclui a criação de vouchers para que famílias escolham escolas. Porém, críticos apontam que apenas 15% dos estudantes teriam acesso ao benefício, deixando 55% dos alunos da rede pública sem alternativas. “Como o governo vai bancar 800 reais por aluno para 70% das crianças? A conta não fecha. No fim, os mais pobres serão excluídos”, alerta o professor Sérgio (nome preservado por segurança), da região noroeste do Paraná. ------------- Impacto previdenciário: INSS sobrecarregado Aposentados da educação também seriam afetados. Atualmente, recebem pelo Paraná Previdência, mas o plano transfere o pagamento para o INSS, sujeitando-os ao teto do regime federal. “Isso reduzirá valores e sobrecarregará o sistema, já que mais pessoas dividirão os mesmos recursos”, explica uma fonte do setor previdenciário que preferiu não se identificar. ---------------- Sindicatos sob crítica: “Luta falsa”----- O professor Sérgio, citado na entrevista, responsabiliza sindicatos e parlamentares pela fragilidade da resistência: “Temos uma direção sindical inoperante e deputados de esquerda que fingem lutar por nós, mas só cuidam de interesses eleitoreiros”. Movimentos como o Educação Pública Não Se Vende já organizam protestos nas redes e planejam atos nas ruas. -------------- Resposta do governo--- Procurada, a Secretaria de Educação do Paraná afirmou, em nota, que o programa visa “modernizar a gestão e ampliar o protagonismo das famílias”, garantindo “eficiência nos recursos públicos”. Não houve comentários sobre críticas ao aumento de custos ou riscos de exclusão. -------------- Contexto nacional---- O debate ocorre em meio a propostas semelhantes em outros estados, como São Paulo e Goiás, onde parcerias público-privadas na educação geraram protestos. No Chile, modelo de vouchers adotado nos anos 1980 é hoje associado à segregação escolar, segundo estudos da UNESCO. -------------- O recado das ruas----- Enquanto o governo insiste no projeto, pais e professores cobram transparência: “Precisamos acordar antes que seja tarde. Isso não é modernização, é desmonte”, resume Carla Almeida, mãe de dois alunos em Curitiba. A pergunta que fica é: quem pagará o preço desse experimento? --------------- Fontes: Entrevista de Ratinho Junior ao programa Cabal Livre, declarações de professores paranaenses, dados do INSS e estudos sobre privatização educacional.