A semiótica da foto do jornal Estadão

por Leonardo Sacramento -------- Houve uma gritaria na imprensa brasileira sobre a ida de Lula a Rússia. Segundo os jornalões, Lula não deveria ter ido, pois isso ajudaria Putin a vincular a vitória sobre os nazistas com a evidente vitória contra a Ucrânia/OTAN/EUA. Não vou gastar tinta nessa bobagem. Russia é a herdeira da URSS e as tropas ucranianas são, originalmente, nazistas. O massacre de Odessa, impetrado por tropas neonazistas após o golde de Euromaidan, quando ucranianos de origem russa foram queimados vivos, existiu e ponto. As tropas ucranianas são formadas majoritariamente por voluntários neonazistas, inclusive de outros países. Se isso não faz sentido na cabecinha da imprensa de Higienópolis e do Alto do Morumbi, é uma questão irrelevante. Mas atentemos para a foto. Lula teria ido para um evento com "facínoras". Quem está na foto? Presidentes e representantes africanos. Na foto, estão o capitão Ibrahim Traore, presidente de Burkina Faso; Umaro Sissoco Embalo, presidente de Guiné-Bissau; Abdel Fattah el-Sisi, do Egito; o presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa; e o presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso Também estavam presentes o presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, e o da Etiópia, Taye Atske Selassie. Embaló foi recebido por Bolsonaro em 2021, o que o jornal se silenciou à época. Era um grande apoiador de Bolsonaro, quando Paulo Guedes estava em alta. Fora o presidente do Egito, que é um vacilante apoiador de Israel (o que é excelente para a visão do jornal), a foto tem uma mensagem simples. Lula não está ao lado de europeus e portadores da "liberdade", mas ao lado de facínoras, porque são africanos. Ao contrário dos líderes europeus, há algum genocídio ou domínio imperial que esteja na conta dos presidentes que aparecem na foto? Não! O jornal propositadamente escolheu essa foto para transmitir a ideia de violência entre seus poucos leitores? De isolamento? Sim! Foi proposital! Afinal, se não está com europeus e EUA, o "mundo" está contra! É desse racismo que o jornal cujo patriarca, Júlio de Mesquita Filho, um golpista e racista de carteirinha, se alimenta todos os dias.