GOLPES, QUEDAS E ABORRECIMENTOS

por Edilson Martins ---------- O motorista do Uber, ex-Petrobras, me confessa temor com as eleições do próximo ano. - Tudo muito tenso. - Já houve coisa pior, digo mansamente. Em 1954, agosto, Vargas desfecha um tiro no peito, e corta o golpe militar, liderado por Carlos Lacerda, civil, pela raiz. Acontecem eleições em 1955, e Juscelino Kubitschek tendo por vice Goulart leva a melhor. Militares injuriados. Lacerda vocaliza o protesto da tropa. - Eleitos, garante, não podem tomar posse. Havia um senão. O ministro da Guerra era o general Henrique Lott, legalista, democrata, coisa rara nos tempos atuais. Era preciso afastá-lo. Carlos Luz, presidente interino da República - Café Filho, vice de Vargas, baixara ao estaleiro de um hospital - convoca o general Lott ao Palácio do Catete, e o demite sem dó e complacência. Lott, legalista, disciplinado, aceita o escárnio, chega em casa, subúrbio do Rio, telefona ao seu colega Odylio Denys e comunica sua queda. Denys, que Comandava a tropa dos tanques, não concordou. Dia 11/11/1955, 25 mil fardados circulavam austeros, com suas armas e tanques pelas ruas do Rio. O general Fiuza de Castro, peça do Golpe, que o substituiria no Ministério Guerra, com data marcada para assumir, pagou mico. Lott derrubou dois presidentes golpistas - Café e Carlos Luz - tirou o sonho de um general celerado, Fiuza, e levou os dois primeiros a fugirem, às pressas, para o navio Almirante Támandaré. De carona, os dois presidentes fujões, levaram o apavorado Carlos Lacerda. Jk e Jango finalmente assumiram a presidência do Brasil. O motorista do Uber me deixa à frente do meu prédio, e dispara; - O senhor acompanhou tudo isso? Respondi na lata. - Não seja tão perverso. Sequer havia nascido. Adentrando meu apto. tive uma constatação; intimidades só geram filhos e aborrecimentos. -------------- https://linktr.ee/edilsonmartins