O plano de Israel e dos Estados Unidos era claro: assassinar as autoridades políticas, militares e científicas do Irã, impor ao país uma derrota militar desmoralizante e apoiar grupos propagadores da desagregação. Era o caminho para instaurar uma guerra civil infindável, que remeteria o país à condição tribal, como foi feito com sucesso na Líbia, na Síria, no Iraque e no Líbano. Assim, o Oriente Médio só comportaria Estados falidos e países subservientes, como Egito, Jordânia e os principados petrolíferos. Estariam dadas as condições para a construção completa da Grande Israel, única potência sobrante.
O Irã era o último Estado independente com relativo poder. Sua destruição era o estágio final desse plano sórdido.
Some-se a isso o papel relevante do país nas relações internacionais da Rússia e da China. A partir da sua anulação, ondas de desestabilização se propagariam em direção à Rússia, especialmente na delicada região do Cáucaso, enquanto o projeto estratégico chinês, do Cinturão e Rota, perderia seu grande hub. Talvez se tornasse inviável. A China também perderia um importante fornecedor de petróleo, logo depois de inaugurar uma via terrestre que contorna as rotas marítimas controladas pela marinha dos Estados Unidos.
A mistificação de uma “ameaça nuclear” inexistente servia para encobrir uma operação geopolítica de enorme alcance.
Deu muito errado. Os serviços de inteligência ocidentais, e os de Israel em particular, não haviam mapeado o tremendo esforço de preparação defensiva que o Irã realizara. Estavam ocupados demais, planejando assassinatos.
Agora, é Israel que está em perigo existencial. Não tem mais economia. É Netanyahu quem está trocando de esconderijos para não ser alcançado pela retaliação.
Os israelenses chamavam os habitantes de Gaza de “ratos” porque tinham que viver em abrigos subterrâneos para escapar dos bombardeios. Era uma ofensa aos seus próprios antepassados, que lutaram em túneis no gueto de Varsóvia.
Hoje, Telavive e Haifa são cidades fantasmas, cheias de “ratos” nos subsolos. É o que restou do sonho imperial.
(Por Cesar Benjamin)