As big techs são a linha de frente do poder norte-americano

por Julio Take em seu site expressobr -------- Sérgio Amadeu publica livro que explora o papel da Inteligência Artificial nos conflitos modernos e a ligação entre gigantes da tecnologia e a máquina de guerra dos EUA. O pesquisador Sérgio Amadeu, conhecido por seu trabalho sobre tecnologia e sociedade, lança a obra “As big techs e a guerra total: O complexo militar-industrial-dataficado”. No livro, ele explora a alarmante interconexão entre as grandes empresas de tecnologia e o aparato militar dos Estados Unidos, argumentando que a tecnologia, longe de ser neutra, é um dos principais instrumentos de poder geopolítico e militar global. A tese central do autor é que o chamado “complexo militar-industrial” evoluiu para um “complexo militar-industrial-dataficado”, no qual a coleta e análise de dados, impulsionadas pela Inteligência Artificial (IA), são a base para as operações de guerra.
Amadeu ressalta que as big techs, como Meta, Google e Amazon, não são meras prestadoras de serviços. Elas são, na verdade, máquinas geopolíticas. Em um cenário de escalada de conflitos, a tecnologia de ponta, especialmente a IA, se tornou um diferencial estratégico. O livro detalha como essas empresas fornecem serviços de nuvem, modelos de IA e soluções para ações táticas e combates, tornando-se peças fundamentais na engrenagem da máquina de guerra americana. A Nova Lógica da Guerra: Dados e Algoritmos Uma das abordagens mais preocupantes do livro é a forma como a IA está sendo usada para criar “fábricas de alvos”. Segundo o pesquisador, sistemas de IA analisam dados de redes sociais e informações geográficas para identificar e classificar potenciais alvos, que são posteriormente eliminados em operações militares. Essa nova lógica transforma a guerra tradicional em uma “caçada”, onde o combate se dá fora da área de conflito, e as decisões de vida ou morte são delegadas a algoritmos. Amadeu cita como exemplo o uso de sistemas de IA por Israel na Faixa de Gaza. A relação entre o poder político e as big techs tem se fortalecido. Recentemente, executivos de gigantes como Meta, OpenAI e Palantir foram nomeados tenentes-coronéis do Exército dos EUA, sem a necessidade de passar pelo treinamento militar básico. Essa iniciativa, batizada de Destacamento 201, demonstra a integração cada vez maior entre o Vale do Silício e o Pentágono. A disputa pela supremacia da IA e os riscos para países do Sul Global O pesquisador também alerta para o papel do Brasil nesse contexto. Ele afirma que o governo Trump considera as big techs essenciais para manter a liderança dos EUA em IA, o que exige a coleta de dados de todo o mundo. A proposta de não tributar essas empresas em países como o Brasil serve para que elas possam “navegar aqui, tomar os dados que têm alto valor agregado e levar embora sem pagar tributos”. Amadeu critica a ingenuidade de governos e instituições que fazem parcerias com essas empresas, como a feita pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) com a OpenAI, sem considerar o uso dual — civil e militar — dessas tecnologias e a sua origem geopolítica. O pesquisador defende que a IA, em sua forma atual, não é democrática e que a dependência tecnológica cria uma nova forma de colonialismo, onde os dados de nações do Sul Global são explorados em benefício das grandes potências. O livro é um alerta sobre os riscos da fusão entre o capitalismo de vigilância e a tecnologia de guerra, incentivando um debate ético e político sobre como a sociedade pode enfrentar essa nova forma de dominação. Afinal, a que ponto estamos dispostos a delegar a segurança e a soberania de nossas nações a algoritmos controlados por empresas com agendas geopolíticas próprias?