por Luis Felipe Eloy
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A priori, como cristão, humanista e operador do direito, não comemoro a prisão de ninguém. Sobretudo por conhecer a realidade dos calabouços que, no Brasil, eufemisticamente, se chamam de prisões.
Há um sentimento pequeno, pouco nobre mas essencialmente humano, de se alegrar com a desgraça dos outros. A palavra, em alemão, que designa isso é Schadenfreude.
Toda minha vida lutei contra isso. Contra essa tentação de gostar de ver o outro se ferrar (para não dizer coisa pior).
Hoje, contudo, sem culpa, eu me permito. Só hoje.
E digo por quê. Qual a razão dessa santa desforra. De quem engoliu calado por tanto tempo e agora se dá o direito de vomitar sua indignação. Se até o salmista sonhava com o dia em que jogariam os filhos da Babilônia contra as pedras e quebrariam suas cabeças, eu, que sou menor do que o salmista, hoje me permito.
É sim pelo golpe de Estado tentado, que traria de volta a ditadura, a tirania, a censura, os sequestros, as prisões sem mandado, os habeas proibidos, os parlamentares cassados, a tortura e a morte, os abraços negados, o medo retornado.
É tb pelos mais de 700 mil mortos na pandemia, que poderiam ser 50 mil apenas, se não tivesse havido atraso na compra de vacinas e se o Presidente da República não tivesse adotado e incentivado uma postura social irresponsável e inconsequente, além de ter propagado medicamentos inúteis. É, sim, pelo charlatanismo.
É pela humilhação. Às mulheres, "fraquejadas". Aos negros, medidos em "arrobas". Aos gays, "aberrações". Aos índios, que não tiveram um centímetro de terra demarcada. Aos companheiros de luta e de sonhos, "petralhada" a ser "fuzilada".
É pela farsa da facada que não sangrou. Mas sangrou no coração do povo, em especial, daqueles mais vulneráveis socialmente.
É pela desinformação, pela mentira sistemática utilizada como arma política na guerra híbrida.
É pela gentalha de que se cercou, da lunática da Damares ao maléfico do Heleno Nunes, responsável pelo massacre no Haiti.
É pela perversão de imitar gente morrendo por falta de ar, enquanto performava em motociatas bregas e nonsense.
É por defender a ditadura. Por ser favorável à tortura. Por dizer publicamente que os militares mataram pouco, deveriam ter exterminado "pelo menos 30 mil".
É por venerar um monstro torturador como Brilhante Ustra, por ocasião do golpe contra Dilma.
É pelos ataques desproporcionais ao STF e ao Xandão. Pela calúnia assumida contra integrantes da mais alta corte de justiça do país.
É pelo "clima" que "pintou" enquanto conversava com uma pré-adolescente, com a idade da minha filha mais nova.
É pelas famigeradas escolas cívico-militares, formadoras de imbecis teleguiados.
É pelo desmatamento da Amazônia, com aquele cretino do Ricardo Salles "passando a boiada".
É pelo ministro do STF "terrivelmente evangélico", sem as mínimas condições de ocupar um cargo no Pretório Excelso.
É pelo ministro da Educação, para quem "universidade não é para todos".
É pelos passeios de jet ski enquanto SC afundava em meio às cheias e ao descaso do governo federal.
É pela primeira-dama, assassina de carpas, arrogante, com um passado de corrimão do Congresso Nacional e um presente de santa do pau oco.
É pelos filhos insuportáveis, boyzinhos criados sem qualquer limite, que acham que o mundo existe para servi-los. É pela péssima genética.
É pela corrupção na compra de vacinas e no MEC. Por entregar uma refinaria em troca de jóias árabes. Pelos 107 imóveis adquiridos sem origem. Pela Val, funcionária fantasma. Pelo desprezo pela morte de Marielle. Pelos amigos milicianos.
É pela ameaça do fascismo, a cadela que ronda sem nunca deixar seu cio.
É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar, para lembrar Geraldo Vandré.
Serão 27 anos para refletir, como propõe o excelente O SEGREDO DOS SEUS OLHOS, "como faz para viver uma vida cheia de nadas".
Hj nem esse gripão que não me larga há dias vai me impedir de celebrar.
Capitan, you belong to jail.
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12 set 2025 - no dia seguinte
