DEUS SALVE O "TIGRINHO"

por Paulo Dialético -‐------ Era uma vez um país chamado Brasil, que um dia disseram ser “de Deus”. No altar das conveniências, um pastor chamado Sostenes Cavalcante ergueu a voz, não para denunciar injustiças, mas para cantar vitória: casas de jogos de azar não precisam mais pagar impostos. Aleluia, irmãos — a contravenção foi batizada com água benta. O PL comemora. A bancada evangélica bate palmas. E assim, entre uma oração e outra, a roleta gira. Agora, dizem os apóstolos do poder, os fiéis da Igreja Universal, da Assembleia de Deus, Batista, Congregacional, da Graça, Mundial, Metodista, Presbiteriana, Católica e “todos os santos” podem jogar tigrinho em paz. Apostar bens, soprar dados, enfiar o dízimo na Betano, no jogo do bicho, nas loterias, bingos, raspadinhas e corridas de cavalo — porque, vejam só, não é mais pecado. O inferno foi reprogramado. O purgatório entrou de férias. O pecado, esse velho profeta maltrapilho, foi expulso da igreja a pontapés. Agora, quem tem fé joga. Quem tem dízimo aposta. Quem tem Bíblia aposta mais alto ainda. E quem duvida que amanhã liberarão cabarés, zona, casa de swing, sadomasoquismo, aborto, LGBT, Vila Mimosa, Xvideos e até um “culto da pedófila autorizada”? Já se fala até em bater em negros — como se a barbárie tivesse lugar reservado no templo. Está tudo tão torcido que parece que o altar virou cassino, o púlpito virou banca de apostas e o dízimo virou ficha de jogo. O Brasil marcha, cambaleante, rumo a se transformar numa Las Vegas tropical. O que falta? Apoiar o PCC, o CV, a ADA, barricadas, bocas de fumo, narcotráfico? Tudo tem seu tempo debaixo do céu — e, pelo visto, chegou a vez da hipocrisia triunfar com roupa de crente e cara de santo. Cadê a Igreja Universal, a Mundial, os pregadores da TV, RR Soares? Silêncio. O silêncio cúmplice de quem lucra enquanto os fiéis jogam. E no centro desse teatro, um pastor que defende jogos de azar, defende a PEC da Bandidagem, defende anistia para bandidagem — e ainda se diz homem de Deus. Pastor de quê? De quem?
Os crentes — muitos deles — estão piores que os ateus que sempre desprezaram. Apoiando golpes, jogos de azar, incestos, liberdade para corrupção, PEC da Bandidagem, anistia para golpistas, indulto para Flor de Lis, Jairinho, João de Deus, Roberto Silveira, Suzana ristonfen… os matadores, matricidas, patricidas, homicidas, estupradores, incestuosas — todos lavados, santificados e absolvidos no templo da conveniência política. E assim, entre aplausos e apostas, o sagrado morre em silêncio. Não foi crucificado. Foi vendido, a preço de ficha de bingo.
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